XXXIII - Triste fim para tristes vidas

O novo padre recém chegado após a morte de Abelardo Mota, era nativo daquela cidadela em ebulição.

Estudara no colégio Capitão Mário Cunha por toda a infância e fora cursar seminário em Barreiras.

Ordenou-se padre e sua primeira paróquia foi justamente herança de Abelardo Mota, o padre na qual expôs sua primeira explanação confessional.

Voltava então, o jovem Leandro Souza Mendes, conhecido como Neneco nos campinhos de futebol, para comandar aquele rebanho oscilante.

Sua primeira atitude como padre foi a de visitar Miguel das Neves Alves em sua residência para deixá-lo a par da nova situação em que se encontrava.

Ordenado padre agora tinha uma missão nobre a cumprir.

“Preciso evangelizar esse povo e ao mesmo tempo não perder minha identidade como ser humano”.

“Sei que era muito amigo do finado Abelardo e sua contribuição cultural junto a ele foi de grande importância em suas abordagens com os fieis”.

“Na escola o admirava pelo seu vasto conhecimento e a maneira de perceber as coisas”.

“Há algo de ti dentro dessa profissão que escolhi, professor”.

“Quero reunir-me contigo algumas vezes para debatermos situações que se apresentarão para mim. Algo informal, assim como mantinha com nosso Abelardo”.

“Sei também que gosta de uma boa cervejinha e, um dos meus hábitos preferidos é tomar alguns copos no final do dia”.

Completou enfático:

“Podemos ser companheiros de copo, Miguel?”

“Naturalmente é que as coisas tomam seu rumo”.

“Não devemos forçar situações e não vejo mal nenhum em reunir-me contigo para conversas informais e, se haverá cerveja ou não, a geladeira é que irá determinar. Mas, deixe evidente para essa população torpe que tu não bebes por influência minha”.

“Digo isto, pois é comum acusarem-me de influenciar pessoas e causar-lhes desvios comportamentais. Se beberemos juntos ou não, dependerá das afinidades peculiares que nos envolverão no dia-a-dia”.

“Mas você bebia regularmente com o finado padre e lhe dava conselhos de grande valia”.

“Só o questionava com minhas dúvidas, meu jovem padre”.

“Nunca lhe emiti conselhos e, nossa amizade se fortaleceu à medida que os anos passavam em nossas cansadas vidas”.

“Fico lisonjeado em saber que pude contribuir, de alguma forma, com nosso querido Abelardo. Se puder ajudá-lo também, fico agradecido. Se precisar de sua atenção, procurá-lo-ei também, pode ter certeza disso”.

Continuou o professor, depois de breve suspiro:

“Sabes que sou um homem só, tenho poucos amigos e sei que amizades se constroem com o tempo. Veremos então o que será de nós, padre Neneco”.

“Ora ora, não se esqueceu do meu apelido, professor Miguel”.

“Agora irei, tenha uma boa noite. Durma com Deus”.

“Boa noite padre, idem. Obrigado pela cortês visita”.

“Aí vai um bom homem”, completou em pensamento, Miguel.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 03/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1680444
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