Minha história de muitos
Quando paramos para pensar que é chegada a hora de dividir nossa vida com outra pessoa, fazemos planos de como gostaríamos que as coisas acontecessem, como se pudéssemos prever a única coisa improvável de ser concatenada em seus acontecimentos – a vida a dois.
Não existe a mínima possibilidade de premeditar a subseqüência das ocorrências da vida, cada dia é diferente do outro – mas uma coisa é certa – cada casamento tem noventa por cento de chances de repetir a mesma história de outros, cada qual em seu contexto, com seus protagonistas, mas com as mesmas situações cotidianas...
O casamento é uma instituição peculiar. Parte dele é indelével e a outra é ficção.
O que há entre nós hoje, meu amor? Será que algo se trincou? E quando é que se quebrou? Custoso identificar o momento exato.
Hoje, amo quem comigo vive, divide minhas horas, meus contentamentos, me acalenta ao pesar os meus erros, se esforça em fazer dos meus dias uma ventura.
Mas o grande amor da minha vida foi você – sempre ausente. Hoje, simplesmente amo outra pessoa, depois de perecer ao ter sido preterida pelo grande amor da minha vida. E isso nunca vai mudar.
Quando não consigo adormecer, à noite, eu penso em você.
Quando desperto, antes de abrir meus olhos, me recordo de você.
Quando o telefone toca, desejo que seja você... mas não é, e nunca mais será.
Porque você está morto e não poderá voltar.
Porque as coisas têm que ser assim? Uma quimera perdida na duração deste tempo que compreende a união da alma com o corpo. Um tempo que não se repetirá nem terá chance de ser mudado.
É assim com as pessoas. Somos integrantes de histórias semelhantes em livros separados, em épocas distintas ou não. Eu aqui. Você aí. Cada qual com seu par. Não é árduo só pra mim, não sou egoísta. Sei que é difícil para todos.
Enquanto nosso tempo nesta existência passa, criamos vínculos que transcendem a alma, esse é o ciclo da vida e da morte.
Ainda assim, ouso sonhar...
Nesse dia já tão cinza sem você.
Nessa tarde alaranjada que recobre o horizonte de curto alcance para os meus olhos.
Nessa noite longa que envolve minha visão obstada pelo breu.
... sonhar que um dia, mesmo grande, me transformei em criança quando me deparei com seu amor. Mas cresci de novo, quando te perdi e seu amor me escapou, como um pássaro ansioso por alçar vôo.
Mesmo agora, frente a frente com você, de olhos fechados, lábios serrados, pele alva e fria, mãos cruzadas sobre o peito, quando pronuncio seu nome, me dá vontade de cantar todas as árias da ópera.