Por que Aracaju?
(02/07/09)
Decidido, resolvido, executado: Vou mudar pra Aracaju. A partir deste momento “Por que Aracaju?” tem sido a pergunta que mais ouvi neste último ano.
E por que Aracaju? A resposta imediata é óbvia e fica difícil evitar o clichê, já que o clichê é a mais precisa representação da realidade: Aracaju é a capital brasileira de melhor qualidade de vida, é uma capital, com toda a infra-estrutura de uma capital, mas com um toque de cidade do interior, uma grande cidade, mas com jeito de cidade pequena, nordeste, praia, mar, sol,.São João e etc, etc e etc... Mas o óbvio é algo que não aprecio, assim prefiro responder de outra forma.
Então por que Aracaju?
Por causa do medo e da insegurança que vive sempre a rondar, pairando sobre nossa cabeça. Medo de assalto, da violência gratuita, de parar no sinal seja de dia, seja de noite, medo de perder tudo, até mesmo a vida, por conta de algum maluco que acredita que por alguns trocados vale a pena matar alguém. Medo de sair de casa, medo de estar em casa, do arrastão no condomínio, do vizinho desequilibrado, que defenestra a própria filha , da namorada ciumenta que atira antes e pergunta depois. Viver sob o fascínio do medo, temendo a tudo e a todos. Medo do pedestre na esquina, dos “amantes” do Datena, do drogado, do mendigo, do cara na motocicleta, medo até da própria sombra.
Por causa das grandes distâncias, nada é perto, tudo é longe, o tempo é curto, todo dia é a mesma correria, sempre o mesmo frenesi. Corre daqui, corre dali, corre de lá, corre de frente, corre de lado, pra no final do dia constatar que não se fez nada, exceto ficar cansado e, doido pra chegar em casa e ainda ter que enfrentar mais um capítulo daquele que foi seu “companheiro” de correria durante todo o dia: o trânsito. O trânsito infernal, que mais para do que anda, que desanda a rotina do sujeito, do rodízio, do calor, da opressão, do apressado no carro ao lado, que não desgruda a mão da buzina, como se isso fosse magicamente remover os setecentos automóveis a sua frente.
Por causa do povo frio e insensível, que perdeu a educação, que vê no cara ao lado só mais um concorrente, só mais um competidor, ou quem sabe, menos que isso, algo menos que um cachorro, a quem nem desprezo irá dispensar. Gente para quem um “bom dia” soa como palavrão, e responde ao cumprimento lhe xingado, ou pior, lhe ignorado. Gente que se diz civilizado, que se diz muito educado, que se orgulha do progresso, mas perdeu nesse processo toda e qualquer sombra de civilização.
Por causa do custo de vida, gigantesco e dilatado, onde o dinheiro fala mais alto, onde a vida é “grana”, grana a ganhar e grana pra gastar. Onde tudo é cobrado, onde a gentileza tem um preço, onde é só sair de casa e ligar o “taxímetro”, pois a vida é cobrada por minuto, ou quilômetro rodado, dentre os dois o que for mais alto. Onde até a balança da farmácia, que outrora podia ser usada de graça, hoje cobra um real pelo peso impreciso, demostrando em última instância, que você, um cliente em potencial, que um dia fora importante, que um dia brigavam por sua simpatia, hoje não passa de uma carteira ou bolsa aberta, uma fonte de receita, mais uma vítima a ser sugada pelo vampiro capitalista.
Espero que neste ponto, você, caro leitor, esteja se perguntando de que diabos eu estou falando, já que esta descrição não possui nenhuma semelhança com Aracaju.
E a resposta a tal pergunta é simples: não descrevi Aracaju. O retrato que tracei é de minha terra natal, São Paulo, de onde sai em direção a Aracaju exatamente por ser esta cidade a antítese do descrito, por não ter sido contaminada por este vírus do “progresso”, que transforma cidades em lixo e pessoas em detritos urbanos, desprezíveis e descartáveis.
Assim eu peço encarecidamente a todos vocês: não sigam o exemplo de São Paulo e outras grandes metrópoles, porque não são exemplos a serem seguidos. São exemplos de ilusão, onde, no final das contas, a única coisa que se ganha é a sensação de que todos saíram perdendo.