Limites

Hoje é um daqueles dias em que Dostoiévski estava certo:” Para ser um bom escritor, é necessário sofrer, sofrer, sofrer”. Eu sempre tive horror a essa frase, mas sempre quis ser uma boa escritora. Talvez porque seja mais fácil escrever do que argumentar ou relacionar-se com pessoas. Não que eu seja uma antissocial. Acredito que eu seja até uma pessoa bem sociável, adaptável. Entretanto, tenho como a grande maioria da raça humana algumas dificuldades de relação. Tenho dificuldades de colocar limites e avançar limites. Com isso, torno-me presa fácil daqueles que adoram transgredir limites, daqueles que o céu é o limite!

Desde quase bebê ouvia meu pai falar que a minha liberdade termina onde começa a do outro. Temos que ser fortes e marcar o nosso território e mais fortes ainda em não avançar, invadir o do outro. E hão de convir comigo, fica difícil nesse mundo louco que vivemos, mundo de individualidades delimitar esse espaço!

Outra coisa em que acredito é no equilíbrio. Embora muitas vezes sinto-me numa gangorra emocional, busco sempre o equilíbrio. Isso também é da condição humana, acho.

E nessa obsessão pelo equilíbrio, meu espaço flexibiliza. Explico! Se eu encontro uma pessoa cujo ego é maior que cinquenta por cento na relação, o meu começa a baixar. Se conheço o máximo, instintivamente, sem perceber, começo a ser o mínimo. Antigamente era pior, eu não percebia esse movimento, então sofria, sofria, sofria; só que não escrevia. Talvez tenha perdido a oportunidade que Dostoiévski descrevera...

Agora até consigo fincar o pé e não deixar a pessoa avançar muito, mas é muito doído. E sabe por que? A pessoa olha sem entender, investe, até agride. Eu não sei o que os pais dessas pessoas disseram a elas, não sei mesmo!

Uma vez, quando era professora li um texto que falava dos limites internos e externos. O autor dava exemplo de limite externo o Pestinha e limite interno, Forrest Gamp. E parece que, de fato, estamos criando mais pestinhas que Forrests... Ou será que eles se proliferam sem serem criados?

Ocorreu-me agora que ambos. Quando não colocamos limites em nossos filhos, eles tornam-se os Pestinhas e quanto maiores, mais violentos eles se tornam. Também tem os pais que colocam tantos limites absurdos que deixam as crianças totalmente vulneráveis, totalmente despreparados para distinguir o que é certo e o que é errado, então elas sucumbem às tribos. E há aqueles casos em que os valores foram colocados de uma maneira insegura, inconsistente deixando uma brecha para a perdição moral no contato com as tribos, lá na frente na adolescência, embalados nessa forma desumana de sistema que é o capitalismo. Não, não vou falar mal do capitalismo, embora os dedos cocem! Estou tentando ter uma posição de aprendizado que o Dalai Lama fala: se tenho inimigos, é para treinar a paciência; se vivo no capitalismo é para desenvolver a compaixão e o desapego e por aí vai. Sempre extraindo aprendizado de tudo o que passo nessa vida, fortalecendo-me, tentado tornar-me uma pessoa melhor.

E a dor? “A dor existe, mas o sofrimento é opcional”! E Dostoiévski que me perdoe!

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 26/06/2009
Código do texto: T1668104
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