TEMPORALIDADE E PÓS MODERNIDADE

A partir da segunda metade do século XX o “espírito epocal” gradativamente reduziu-se ao misero recorte cronológico de uma década. Não se trata de uma simples aceleração de nossa sensibilidade para realizar ou perceber as mudanças e transformações continuamente em curso nas tantas conjunturas culturais e históricas. O que me parece decisivo é a emergência de um tipo novo de percepção do passar do tempo condicionada a sua fragmentação e a nossa libertação do passado como tradição, o que estabelecia o costume como premissa da organização social do cotidianamente vivido através de ritos e regras que deveriam perpetuar-se indefinidamente no fluxo de gerações .

Essa liberdade relativamente recentemente adquirida com relação ao passado nos conduziu a um “presentismo contemporâneo” que parece rearticular nossas representações do passado e do futuro em um continum atemporal de uma pluralidade de estratégias de construção de imanências.

Definitivamente não vivemos mais no mesmo mundo de nossos avós ou de nossos pais, nem mesmo no da nossa infância. Ele também, com certeza, não será o de nossa velhice.

Tal fenômeno, que levaria ao desespero nossos antepassados, não nos perturba significativamente, pois nos habituamos a um eterno presente ontológico pós histórico onde a novidade é uma regra básica. O novo do sempre igual é o que define nossa contemporânea percepção do passar das coisas, a teleologia do imediato.

É impreciso falar de um “fim da história” como se propôs a algumas décadas. Foi a própria idéia de “evolução”, da história como um processo direcionada por metas e objetivos civilizacionais, que felizmente se perdeu na poeira do tempo. Neste ponto, sem sombra de duvida, superamos as ofuscações iluministas.