Complexo de Polyana?

Vivemos em um mundo cruel, violento, sem amor, egoísta, capitalista, desumano, e por aí vai uma leva de adjetivos bem negativos sobre um planeta de uma beleza ímpar. Só que atribuímos ao planeta qualidades que são inerentes à condição humana, não à natureza.

Quando a gente olha para a natureza , aqueles que têm olhos de ver, com certeza se encanta com tanta beleza, perfeição, ordem. Eu pelo menos penso e vejo isso. O nosso planeta é belíssimo, pena que está dando sinais de agonia! Os zeladores dele ainda não aprenderam como usá-lo sem destruí-lo. Isso porque estamos ainda na pré história dos sentimentos humanos. A única coisa que conseguimos enxergar são nossos umbigos. Está posto na forma de nossa sociedade capitalista, predadora. A coisa que mais damos importância são para os bens adquiridos e estocados.

O valor do ser humano é medido pelo seu status, beleza física, poder econômico e cultural. Aquele que não se sobressai é um fracassado. E o pior de tudo é que educamos nossos filhos muitas vezes assim, não porque acreditamos nessa filosofia, mas por medo que eles sofram e se sintam fracassados. Nos deixamos levar pela onda. É claro, que mesmo educando na onda não devemos esquecer valores morais, que muitas vezes passam pelo esquecimento, ou são colocados no fim da fila, quando deveriam ser os primeiros.

E com isso vamos empurrando com a barriga esses valores morais, a ética, a compaixão pelo semelhante. Tenho certeza que um dia isso acaba, um dia muda. E não é porque sou como Polyana, só olho pras coisas belas. Não. De tudo tiro o belo.

Eu acredito que a mesma ordem e perfeição que rege as leis naturais é a mesma que um dia norteará nosso trilhar. Afinal, somos parte da natureza, somos a própria natureza.

Outro dia convidei uma prima para gente fazer umas trilhas. Adoro trilha! Ela riu e disse: Darlene, amo a natureza! Mas é o seguinte, eu, um vidro o mais grosso possível e a natureza!

Ri. O que poderia dizer? Será que as pessoas poluem tanto, não se preocupam com o planeta, achando que estão dentro de uma redoma? Se as pessoas cuidassem do planeta tanto quanto cuidam de si em aparência, com certeza nosso planeta não estaria agonizando...

Bom, não sei como se dará a evolução do pensamento e do sentir. Quem estuda filosofia, percebe que avançamos muito pouco moralmente e às vezes parece que houve um retrocesso até. É surpreendente como ainda não conseguimos viver como os estóicos: “Faça ao outro o que queres que o outro vos faça”.

Os cristãos com certeza pularam da cadeira, isso é um mandamento de Cristo! Existem escritos que datam antes da era cristã com essa frase, tal e qual. Os estóicos usavam essa frase não como religiosidade, mas como racionalidade. Para um mundo melhor há que se fazer para o outro o mesmo que queria que fosse feito a si. A psicologia chama isso de empatia, o budismo de compaixão.

Acredito que ele, o Cristo, tenha percebido o poder dessa frase a a usou como se fosse uma lei religiosa, um mandamento. Perfeito! Não importa! O que de fato importa, é que só conseguiremos sair desse caos em que nos metemos usando de empatia e compaixão pelo outro, pelo planeta.

Ninguém quer sofrer. Isso é óbvio. E por não querer sofrer é que nos esquecemos que estamos interligados a tudo e a todos. Então, é natural, nos voltarmos para nosso umbigo.

Antes da física quântica, a gente tinha certeza que existiam sólidos, líquidos, gasosos. Hoje sabe-se que nada é sólido. Tudo é composto por pontos (núcleos atômicos) recheados de espaços. Temos mais espaço que ocupação. Isso nos faz pensar que nada é sólido.

Há uma teoria que esses espaços são “recheados” por uma energia que “segura” os núcleos fazendo com que tenham formas. A sensação de sólido, líquido e gasoso é somente diferenciada pela condensação dessa energia. E essa é a mesma energia que segura a gravitação universal. A mesma energia que ligam os núcleos de um objeto formando uma mesa, por exemplo, é a mesma que une o universo. Daí a interconectividade entre tudo no universo.

Há também um movimento cíclico na natureza. Isso é percebido nas mudanças de estações, nas plantas, na “geração e corrupção de tudo que está abaixo da lua” (Aristóteles), tudo se transforma, tudo. Por que não o ser humano? Londrina, 12/06/2009.

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 12/06/2009
Código do texto: T1645063
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.