Missão insubstituível

Enquanto estivermos vivos, todos nós possuímos uma missão única e insubstituível. É exatamente como consta na capa do livro Ilusões de Richard Bach: “Eis aqui um teste para verificar se a sua missão na terra está cumprida: se você está vivo, não está.”

A nossa missão não nos é atribuída, mas está relacionada ao significado da nossa existência como ser humano, à contribuição que podemos prestar às pessoas e ao mundo.

O fato de nascer neste mundo não pode ser mero acaso. Fisiologicamente, nascemos porque duas pessoas queriam muito ter um filho ou porque elas não se preveniram direito. De qualquer forma, viemos ao mundo naquele exato momento com uma finalidade muito específica. Assim como nenhum ser vivo é igual a outro, nossa missão de vida também é intransferível.

Nem sempre descobrimos de imediato qual é exatamente a nossa missão. Mas a própria vida nos dá pistas: nossas habilidades inatas. Todos temos dons muito preciosos, características que nos destacam das outras pessoas. É só prestar atenção.

Quem não consegue enxergar sua missão sofre. É como o estudante que tem dúvida sobre qual carreira deve seguir. Esta dúvida pode conduzi-lo ao caminho errado. Quem enxerga mas não aceita sua missão também sofre. É um teimoso. Vai errar muito até conseguir entender a razão e o sentido das coisas na sua vida. É querer nadar contra a correnteza.

O pior caso é aquele em que a pessoa sabe qual é a sua missão mas não a cumpre. Claro que dá trabalho, requer muito esforço e persistência. Entretanto, o empenho para cumprir a nossa missão de vida sempre vale a pena. A nossa missão é a razão da nossa existência e se não fosse por ela, teríamos uma vida vazia, sem sentido. O que dá brilho ao nosso dia-a-dia é justamente a firmeza da nossa caminhada.

Poderíamos identificar um dos aspectos da nossa missão na nossa profissão. Por exemplo, um médico cumpre sua missão auxiliando as pessoas a restabelecerem sua saúde, um professor contribui com o seu conhecimento, um vendedor fornece produtos e serviços. Existem também outros aspectos, como a missão de uma mãe, de um marido, de um amigo, de um líder e outros tantos mais.

Entretanto, todos estes são aspectos parciais do conceito de missão. Para uma análise mais profunda e frutífera, deve-se tratar a missão no que se refere ao objetivo de vida de uma pessoa.

Além disso, a missão também está intimamente relacionada com a verdadeira identidade de uma pessoa. Muitas vezes tentamos transmitir uma imagem que não reflete o nosso âmago. Podemos escolher entre viver de acordo com a nossa verdadeira natureza ou construir um mundo de fantasia. Seria possível encenar um personagem a vida inteira?

No poema intitulado Tema, Daisaku Ikeda refere-se à missão:

Cada obra tem o seu tema.

Em cada tema, alegria e tristeza

se sucedem. Mas quando alguém

consegue a forma exata do tema,

uma obra-prima está para nascer.

Temas existem para a vida humana.

Quando alguém descobre o seu próprio tema

e, como ator capaz de grande papel,

um sonho poderoso nascerá.

É o que se chama Vida.

Com suor e imaginação

um romancista escreve o seu romance;

com suor e perseverança

como um pintor trabalha o seu pincel,

frente ao papel branco do instante e do futuro,

o homem faz algo novo de si mesmo.

Esta a grande missão de cada um.

Precisamos descobrir o “tema” da nossa vida e assim colorir o nosso quadro branco. A cada pincelada colorimos o pavimento da estrada que nos conduz aonde queremos. Nas famosas Folhas de Relva, o poeta americano Walt Whitman entoa o Canto da Estrada Aberta:

A pé e de coração leve

eu enveredo pela estrada aberta,

saudável, livre, o mundo à minha frente,

à minha frente o longo atalho pardo

levando-me aonde eu queira.

Daqui em diante não peço mais boa-sorte,

boa-sorte sou eu.

Daqui em diante não lamento mais,

não transfiro, não careço de nada;

nada de queixas atrás das portas,

de bibliotecas, de tristonhas críticas;

forte e contente vou eu

pela estrada aberta.

A terra é quanto basta:

eu não quero as constelações mais perto

nem um pouquinho, sei que se acham muito bem

onde se acham, sei que são suficientes

para os que estão em relação com elas.

(...)

Ó estrada que percorro, é a mim que dizes

“não me deixes”?

Dizes “não te aventures, se me deixas

estás perdido”?

Dizes “já estou preparada,

bem batida e transitada,

fica comigo”?

Ó estrada minha e de todos,

o que lhe posso dizer

é que não tenho medo de deixá-la,

por mais que a ame: você expressa melhor

do que eu expresso a mim mesmo,

você há de ser para mim

mais que o meu poema.

Daisaku Ikeda também compôs versos sobre a nossa estrada da vida:

Existe uma estrada

e essa estrada é a estrada que eu amo.

Eu a escolhi.

Quando trilho esta estrada,

as esperanças brotam

e o sorriso se abre em meu rosto.

Dessa estrada nunca,

jamais fugirei.

E assim seguimos avançando, passo a passo, não importando quantas pedras e buracos encontremos no caminho, pois...

Não faz mal que seja pouco,

o que importa é que o avanço de hoje

seja maior que o de ontem.

Que nossos passos de amanhã

sejam mais largos que os de hoje.

(...)

Atuem agora e vivam o presente

com a certeza de que neste exato instante

está se erguendo o futuro.

Deixem seus méritos gravados

na história de suas contínuas vitórias!

A dificuldade do momento presente

será a glória em seu futuro!

O desbravar do caminho do novo século

será proporcional a sua caminhada!

Nem sempre conseguimos de imediato o resultado que esperamos. Mas o empenho despendido seguramente tem um significado. No mínimo será um aprendizado, uma experiência. O importante é nunca desistirmos. Pode ser que no momento a gente não compreenda claramente o porquê das coisas serem como são e acontecerem de tal forma, mas o tempo sempre mostra o propósito de cada detalhe.

O interessante da vida é que temos sempre pelo menos duas opções. O triste é que nem sempre tomamos a decisão com base nas conseqüências de cada escolha.

Segundo Ikeda, “não há uma vida mais forte nem mais profunda que aquela comprometida em cumprir sua missão e responsabilidade. O importante é com que profundidade estamos cientes da nossa própria missão. Esse é o padrão determinante da profundeza e grandiosidade de nossa vida. Estarmos cientes de nossa missão faz com que surjam a força e a esperança e isso se torna também a força motriz que nos capacita a avançar em meio às dificuldades da vida. Todas as pessoas têm uma missão. Não existe um único ser humano que não tenha uma missão. O que determina o curso de sua vida é o fato de terem despertado ou não para essa missão.”

Tanto os seres vivos quanto a matéria inanimada têm uma missão. Cada objeto tem sua finalidade. Até uma pedra tem a missão, por exemplo, de ajudar a sustentar um edifício. As plantas também: produzem oxigênio, servem de alimentos, fornecem madeira, ornamentam e perfumam ambientes. Me desculpem os vegetarianos, mas a missão de muitos animais é servir como alimento. E alguns fornecem produtos ainda enquanto vivos, como o leite, ovos e seda.

Além destes, há muitos outros exemplos de “missões” para objetos, plantas e animais. Então a existência e a importância da missão para os seres humanos são ainda mais concretas.

Podemos concluir que nós não escolhemos a nossa missão de vida, porque ela já está escolhida. Apenas decidimos de que forma a cumpriremos, e se a cumpriremos ou não.

(do meu livro "Alegrias do coração")

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 07/06/2009
Código do texto: T1636771
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