SHAKESPEARE AND LOVE

O amor apresenta-se na obra de Shakespeare de modo tão complexo e surpreendentemente familiar que ainda em nossos dias são publicadas coletâneas de citações do velho bardo sobre o tema. Um bom exemplo é o “livro presente” Helen Exley intitulado Shakespeare e o Amor, originalmente publicado no reino Unido em 1999 pela Exley Ptd.

Na obra de Shakespeare, vale dizer, o amor surge como um jogo de linguagem e um desregramento dos atos e pensamentos. Ele é como um raio fulminante a transfigurar a razão e os sentimentos.

“ O amor não é mais do que uma loucura

podendo eu asseverar-vos que merece

quarto escuro e chibatadas, da mesma forma

que os dementes”

(Como Gostais, III : ii)

Sarcasmos como esse misturam-se em sua obra a representação do amor como expressão do maravilhoso, das extravagâncias e obsessões ocasionadas por suas fantasias e atmosfera feerica.

Por outro lado, sujeito ao capricho das dificuldades, sejam aquelas impostas pela família, a sociedade ou pelo próprio destino, a maior fonte de incerteza do amor esconde-se em sua própria natureza. Pois o amor em Shakespeare é também inconstância e incerteza; é como o olhar que corre...

“ O amor é pleno de contradições;

menino caprichoso, trapalhão,

Ele nasce no olhar e, como o olhar,

Cheio de formas soltas, usos, hábitos,

Muda de tema com o olhar que corre,

Variando de objeto como o que v~e.

( Trabalhos de Amor Perdido, V ii, 700-5)

Nada disso, entretanto, apaga a poesia dos amantes, a iniciação e sabedoria personificada pela experiência amorosa, pela contemplação mágica dos olhos da amada .

“ Isso aprendi dos olhos femininos:

Deles tirou sua chama Prometeu;

Eles são livro, arte, academia,

Em que o mundo se mostra e

Se alimenta."

( Trabalhos de Amor Perdido, IV, iii, 350-4)

Em Shakespeare encontramos o amor codificado em uma linguagem que, embora ainda não corresponda a formula moderna do amor romântico, também não se enquadra inteiramente na codificação do amor cortês, embora dela esteja de alguma maneira mais próxima...