Espiritualidade - o texto

Não sei como acontece com outras pessoas, mas de repente, surge uma ideia, uma frase, um contexto que fica martelando como se “me pensassem”. Enquanto eu não desenvolvo, quer em forma de texto ou diálogo interno, não tenho paz. Até parece um comportamento obsessivo-compulsivo. Suspendo o juízo e vou deixar para profissionais avaliarem, caso necessite.

Foi assim com a frase: “Evolua a espiritualidade, antes que a espiritualidade evolua em você”. Estava sem tempo para desenvolver um texto, então pensei em escrevê-la e registrá-la em forma de frase para a posteridade. E a posteridade aconteceu agora.

Acredito que somos seres mais que materiais. O que de fato somos, não posso provar e o que não posso provar, prefiro não entrar no campo do achismo ou das crenças. Portanto, quando digo em espiritualidade, não estou falando de imortalidade, de espiritismo, ou qualquer outro dogma religioso. Quando falo de espiritualidade, estou falando de algo que parece ser da condição humana. Talvez o termo correto a ser usado seja espiritualismo que é uma doutrina que pratica a filosofia como análise da consciência.”Essa filosofia ensina a espiritualidade da alma, a liberdade e a responsabilidade das ações humanas, as obrigações morais, a virtude desinteressada, a dignidade da justiça, a beleza da caridade...” (V. Cousin/1853)

Pois bem, é uma argumentação quase irrefutável ser da condição humana o espiritualismo. Deveríamos ser seres conscientes. Entretanto, acredito que esta seja uma habilidade a ser aprendida. Não é inata. Formamo-nos inicialmente no seio familiar, depois vamos nos desenvolvendo na circunvizinhança, na escola, profissionalmente, socialmente, e por aí a fora. A cada momento deixamos de ser quem somos para adquirir mais conhecimento, mais experiência de vida, mais sabedoria. Mesmo que algumas pessoas pareçam fugir à regra, isso é um desenvolvimento comum entre nós, humanos. Logo, a espiritualidade é aprendida.

Entretanto não é o que vemos muitas vezes. Em algum momento surgem as bifurcações do caminho e certas pessoas não sabem optar direito ou iludem-se achando que são intocáveis, “escolhidos”, vítimas, estão acima do bem e do mal e escolhem o pior caminho. E o mais incrível, a maioria dessas pessoas são aconselhados por familiares, amigos, amores, “anjos” que tentam fazê-los ver a besteira que estão fazendo, mas irredutivelmente negam-se a ouvir. Penso que até sabem que vão se dar mal, que consequências virão, mas nada muda a atitude inflexiva. Nada sensibiliza a consciência.

Sim, para ter consciência é preciso muita sensibilidade, pois temos que ser tocados de uma certa forma. A consciência é um movimento interno. É o discurso consigo mesmo. É o olhar para fora e ver que sua ação, pensamento, palavra, sentimento não encaixou direito. Ficou uma coisa solta no ar, algo está errado. Esse é o apelo da consciência. Mas a consciência não é só negativa, ela também nos dá a sensação do pronto, do acerto, da aprovação.

Ora, se somos seres espiritualistas, consequentemente em algum momento essa espiritualidade vai se aflorar na gente. Então, creio que é muito mais ameno a gente procurar “conhecer a nós mesmos” o melhor possível, pois quanto mais cônscios mais espiritualistas seremos.

Agora, sem querer ser agourenta, aquela que roga praga, se a gente não abre espaço para crescer, a vida vai como um trator abrindo caminho. E haja dor! Não porque a vida seja cruel, é porque na maioria das vezes nos vestimos de vítimas da situação e resistimos mais um pouco. Sempre tentando esticar mais o elástico da resistência. E se não cuidarmos, com certeza ele arrebenta muito antes da nossa espiritualização. (28/05/2009)

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 28/05/2009
Código do texto: T1620577
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