Em que acredita um tolo
Tudo o que existe é dor, não a sua ausência. Desejar não sofrer é simplesmente se negar a viver de fato, é encenar. É viver encenando uma realidade pré-concebida, escrita por outras mãos, na qual se encontra inserido por mera obra do acaso. Mas de qualquer forma, é impossível escapar aos martírios impostos por sua humanidade - sina de todos, fadados a ser eternamente humanos, frágeis, inseguros, complexos, paradoxais, medíocres e demasiadamente humanos.
Viver é fazer escolhas, e muitas vezes todas as escolhas são erradas. Sim, o erro é parte integrante, inegável. As fraquezas correm latentes, quentes, num tom escarlate gritante, alucinandamente percorrendo cada centímetro de nossa carcaça.
O que difere homens de animais é o simples fato de estes não terem desenvolvido hipocrisia suficiente para dissimular suas limitações naturais. É o que torna os homens tão desprezíveis.
É irracional, obscura e inútil essa tentativa de impor a si mesmo que devem rejeitar o fato de que a perfeição é algo completamente intangível, e que é indispensável apresentar sempre a melhor (mesmo que não tão verdadeira) imagem possível - o que os coloca em uma busca infindável por uma estabilidade utópica que poderia representar a felicidade absoluta.
Tolice.
Qual é o sentindo de buscar algo que nunca poderá ser atingido?
Ansear por felicidade absoluta é algo que não pode passar de sonho, é ignorar passado, presente e futuro.
Mesmo a busca por prazeres efêmeros é inconscientemente tentativa de esquecer por um ínfimo período de tempo o quão sujeitos estamos ao sofrimento constante, mesmo isso nos faz tolos.
Mais tolos ainda são alguns que, apesar de poderem discursar prolixamente sobre o assunto, não deixam de ser, por definição, nada mais que tolos.