Ser Intocável

Tudo ficou da maneira por ele planejada. No lugar, não valia a pena arriscar ternura, quando o coração não passava de pedra. Para que se dar ao luxo de oferecer alguma flor? Ele já havia ressequido o seu bravo e forte caráter.

Sentimentos alheios, não eram seu forte. Só a sua alma impenetrável era uma masmorra - de ouro intocável, diria até - poderio transparente.

Não. Sentimentos não passavam de vadiagem sem prazer.

Não iria ele transportar o seu saber insólito e gramatical, com divagações pueris.

Ela pensava em cascata, em abraços ternos e beijos amigos.

Ele não lhe enxergava, afinal.

Achou melhor assim, não alimentar, o que não lhe oferecia vida, diante dos seus pés...

Orgulho de ser o que ela jamais conseguiria – frieza das geleiras; frutas doces além das mãos!

Mas, a inutilidade daquela indiferença, batia de frente com ela...

Vestida de flores, uma mulher.

Sem argumento capaz, sem a juventude dos olhos.

Era uma ignorante. Não sabia das passagens dele por qualquer lugar; não entendia dele, nem mesmo da água que um dia, refrescou seu corpo.Nunca a enxergara, tamanha era a sua invalidez de se fazer presente.

Estava em vão e assim seria...

No remexer das pedras, no vai e vem do mar, no brilho das estrelas, no cair da tarde em crepúsculo dourado, nas noites frias...Tudo seria eternamente sem o menor sentido.

Ela não lhe servia, porque nem ao menos era aparente!

Verônica Aroucha
Enviado por Verônica Aroucha em 10/05/2005
Código do texto: T16083
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