O subúrbio carioca e as passagens da Zona Sul

Gostaria de denunciar à imprensa as condições de segurança precárias da cidade do Rio de Janeiro, focando em dois aspectos específicos pelos quais eu passo todos os dias, e que infelizmente não parecem ter muita atenção do poder público.

Primeiramente, gostaria de que houvesse um questionamento geral do porquê do policiamento nas áreas onde prevalece a "elite" econômica e intelectual da cidade ser tão maior que nas áreas menos abastadas. Eu moro em Cordovil, estudo na Urca, passo todos os dias por Botafogo e trabalho em Manguinhos e na Tijuca.

Talvez eu esteja equivocado em minha análise, mas vejam: Na Urca, em Botafogo e na Tijuca, onde o preço médio do imóvel é bem mais alto que em Manguinhos e Cordovil, há policiamento preventivo de modo que é possível contar os postos policiais por onde passo (talvez mal localizado, como abordarei em breve). Diariamente vejo também homens da Guarda Municipal nesses bairros. Em Manguinhos, apesar de ser um bairro mais humilde, há a Fiocruz, onde estagio. A Fiocruz tem um quadro de funcionários muito heterogêneo, desde pesquisadores com doutorado recebendo quantias altíssimas a pessoas humildes que mantem sua família com um salário mínimo. Normalmente, próximo das passarelas têm policiais, mas a situação dos moradores nos é completamente desconhecida. Sabe-se que vez ou outra há um pânico geral por tiroteios na região. Por outro lado, na região em que moro em Cordovil, próximo à comunidade da Cidade Alta, é assustadora a ausência de Estado. Policiamento preventivo é uma utopia na região e quem mora e trabalha por lá não sabe nem se quer a cor do uniforme da Gurda Municipal. Mês passado fui procurar a Defensoria Pública, e fiquei cerca de 4 horas em Ramos, também no subúrbio carioca. Não vi nem Polícia Militar nem Guarda Municipal.

O segundo ponto é a distribuição do policiamento, mesmo nos locais privilegiados. Dia 30 de Abril fui assaltado na passagem subterrânea em frente ao Edifício Argentina, na Praia de Botafogo, por volta de meio-dia. Todas as pessoas próximas que contei o caso tiveram a mesma reação. Tudo próximo de "ali é um inferno", "prefiro enfrentar os carros", "ali é muito sinistro", etc. Eu mesmo tinha consciência de que ali é um péssimo lugar, principalmente de madrugada, mas não há muitas opções ali de dia, com o trânsito sem parar nenhum minuto. Me pergunto se apenas o poder público não sabe que essas passagens subterrâneas são um ponto fácil para assaltantes. Será que o custo de se manter uma dupla de policiais militares ou de guardas municipais nesses pontos é maior que o custo social da ausência?

Fica aí a sugestão, de procurar colocar mais postos de vigia nas áreas suburbanas, hoje praticamente abandonadas pelo poder público e pesquisar locais que facilitam a ação de criminosos para implantar postos preventivos.