REFERÊNCIAS PARA A JUVENTUDE

Velhos amigos sempre recordam tempos de militância. Lembram que militávamos e politizávamos tudo, clube de jovens, escola, igreja, namoradas, família. Claro que ainda tínhamos o partido, o movimento estudantil. Vivíamos os tempos de chumbo. Naquela idade, a capacidade de revolta tinha a mesma potencialidade da libido; na verdade estavam sexualmente ligadas. À nossa maneira éramos alegres, festivos, românticos e perigosos. Capazes de sacrifícios pelas nossas causas, influentes e contagiosos sobre outros jovens. Então, não éramos rebeldes sem causa. Ao contrário, tínhamos justas causas. Lutávamos contra a opressão, a falta de liberdade que nos impunham as sucessivas ditaduras instaladas após o golpe militar de 1964.

Sabíamos da dureza de enfrentar a repressão. Isso nos fazia criativos. Distribuímos panfletos, vendíamos jornais da “imprensa marrom”, participávamos intensamente da organização popular – associações de bairro, militância sindical, organização de partidos de esquerda e até organizações clandestinas com direito a aparelhos e documentos secretos de doutrinação, informação e, ainda, muitas outras coisas mais que nos municiavam o dia-a-dia nas frentes de luta. Assim “caminhando, cantando e seguindo a canção”, fomos conquistando o nosso Estado Democrático de Direito que vivemos hoje, com as liberdades que não podemos imaginar perder novamente.

Nessas conversas com velhos companheiros, surge sempre uma questão que não quer calar: Será que deixamos a nova geração crescer e se educar apenas pela cartilha do consumo ? Não legamos a ela a nossa capacidade de luta, de indignação, de organização ? O que faz esse questionamento sempre voltar às rodas é a visão perplexa de uma juventude mergulhada em drogas, sem referenciais, rebeldes ( mas sem causas) e absolutamente capitalistas ( coisa impensável nos anos 1980). Pois me arrisco a responder parte dessa indagação.

É que, passados aqueles tempos bicudos, conquistada a democracia e, com ela a prosperidade, não há mais causas de luta naquele sentido. Restou um saudosismo que deve virar literatura, poesia, história. Não havia mesmo que herdar de lutas.

Os novos tempos exigem novas tarefas, talvez até mais elaboradas que as do passado. Essa juventude de hoje, tem missões muito mais complexas a cumprir, tais como: lutar pela sobrevivência do planeta, da humanidade que caminha numa rota, sem volta, de depredação e escasseamento de recursos naturais. Isso fatalmente, a perdurar a velocidade da exploração, levará o homem à extinção ou a uma catástrofe sem precedentes. Junto com isso, existe a luta pela preservação e aprimoramento da democracia – tarefa que não será fácil se grande parte da população mundial não tiver água suficiente, por exemplo. Some-se a isso tudo, os perigos vindos do espaço. Sim porque à medida que vasculhamos o universo, vemos que ele tem perigos, nunca pensados, para o Planeta Terra tais como: esfriamento do Sol e da terra, choque com asteróides gigantes, vida extraterrestre, colisão de galáxias e muito mais monstruosidades.

As novas gerações têm, pois, muito trabalho e militância pela frente. E estudo, porque vão necessitar de muito conhecimento, ao contrário das gerações passadas que, por conta da luta aguerrida e até violenta, não conseguiram se formar.

O que falta a essas novas ordas pueris é foco, direcionamento, de tão dispersas que estão, aturdidas e confusas pelo: compre, use, consuma e seja.