Incoerência

Sou mãe de dois belos homens. Ambos são totalmente diferentes na forma de pensar, sentir, se expressar, embora tenham sido criados da mesma maneira, claro que tentando respeitar as personalidades de cada um. Entretanto, duas coisas foram exatamente iguais: não dar moto, nem participar em nada da compra. Se comprarem a moto, será por mérito de cada um e serão abençoados. Sei que é um tanto radical, mas não lido bem com a culpa que há de vir caso algo não muito positivo aconteça. Também não vou ser daquelas mães que dizem: Não te falei pra não comprar?

A segunda forma em que os eduquei igual era a negociação verbal, vulgo diálogo. Mais tarde descobri na filosofia e me encantei foi a dialética, amo Sócrates e Platão. Bom voltando ao ponto do diálogo. Nunca permiti que eles se batessem. Se isso aconteceu, foi na calada da noite, quando eu não estava Lembro-me de brigas homéricas, sem muitos xingamentos, e sem agressão física. Lembrei-me agora para exemplificar no filme, 2001 uma odisseia no espaço. Logo no início a briga dos macacos antes da descoberta do osso como arma. Era cada um gritando de um lado até que ou se resolviam, ou deixavam pra lá resmungando.

Sou da geração quase pós movimento hippie, então ainda acreditava e acredito na paz e no amor. Na minha primeira faculdade, física, fiz três anos de judô. Amava os ensinamentos, os golpes. Cada um vinha com uma história, uma forma que me ensinava como encarar a vida. Tinha uma certa magia! As competições eram pra gente demonstrar quem tinha aprendido melhor a técnica.

Tentei colocar meus filhos no judô na infância. Nenhum dos dois gostou. O mais velho mais pacífico optou pela informática. Lá se foi minha dialética para o espaço. Ele descobriu um jeito de comunicar-se sem argumentação. Como era difícil pra ele esse exercício. É claro, pra todo mundo é difícil, mas uns se saem melhores que os outros. Acho que eu me viro relativamente bem, se não me sentir agredida. Mas nada como a maturidade e o amor pra nos fazer falar...

O outro, foi para o karatê, quis entrar para a capoeira, e juisjitsu, o que não deixei. Preconceito, assumo. Mas não via nas academias tanto de uma como de outra nada além do que o lutar pelo lutar e o desenvolver a agressividade e violência. Estava fora de qualquer cogitação.

Só que o tempo não pára. Ele cresceu e entrou para o muautai. Esse segundo filho é negociador, não gosta de brigar, nem de levantar a voz, mas gosta de luta, muito comum nos jovens de hoje. Diz que é para se defender de folgado.É incrível como essa geração é mais agressiva que a minha. O diálogo é doença que mata. Dá trabalho argumentar ou ouvir! Fico me perguntando onde foi que nós erramos? Com certeza ficamos muito tempo procurando aumentar os bens materiais e fortalecer o capitalismo e nos esquecemos do que era importante.

Hoje ele tem luta. Antes que ele me convidasse eu pedi a ele que me perdoasse, pois não conseguiria nem vê-lo bater e muito menos apanhar. Brincando eu disse que era capaz de subir no tatame e dar uns tapas no oponente. As lutas hoje em dia estão muito mais violentas. Até o judô deixou de ser um espetáculo de técnica pra ser um espetáculo de violência. Quem não se lembra do seriado: Kung Fu. As lutas eram de uma beleza inenarráveis! Hoje em dia, mesmo as artes marciais, se a gente ficar muito perto da tela, é capaz de se respingar de sangue...

E você deve estar se perguntando porque esse texto se chama incoerência. Muito simples! Inicialmente quis mostrar como procuro ter um pensamento mais dialético e pacifista que agressivo. Mas quando abracei meu filho desejei boa sorte a ele e disse que estaria torcendo para ele vencer. Imediatamente pensei, na incoerência: para ele se sair bem, ele precisa golpear muito mais o oponente, até machucar, se for preciso e eu estou torcendo por isso. No entanto, se eu não torcer para que ele ganhe...25/04/2009

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 25/04/2009
Reeditado em 25/04/2009
Código do texto: T1559360
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