Uma Leitura entre OS(Re) Cantos da Lua



O texto que se segue foi lido na apresentação do Livro (Re)cantos da Lua, pelo editor Emanuel Vitorino, em Vila Nova de Gaia,Portugal.

Vou escrever frente ao mar, o mar da outra margem do Atlântico, tão salgado mar de Portuguesas conquistas na voz eterna de Luis Vaz de Camões, No mar que chorou as perdas lusitanas e que consagrou as conquistas do Império Quinhentista, cuja história fincou raízes a espalhar mundo afora a Língua Portuguesa. Depois, outros filhos da terra lusitana ,outras e tantas conquistas alçaram.Estas, em reinos de outras línguas, e atravessaram fronteiras , e sob o Império da Emoção, fizeram de Portugal a praia imemorial da Poesia.Uma Ágora, onde sentados na beira de um mar de gentes ,Fernando Pessoa soberano solfeja, os assinalados versos da alma Luisitana, e toca no coração da pátria humana sem fronteiras.Das letras, podemos emprestar o nome do livro homônimo do Premio Nobel de Literatura e dizermos TODOS OS NOMES, onde na emoção me surge José Saramago. Esta tríade dos consagrados escritores, revela uma terra, com uma vocação natural às evocações da alma, da transcendência. O ápice do sentir, o amor e seu duplo a dor.Do Fado, ecoam os acordes da guitarra portuguesa e ela, nos permite levitarmos sob o Tejo, de caudalosas águas.No Tejo a poesia , em afluentes se bifurca, retorna na esquina e renova-se.Renova-se na geração dos escritores que hoje traduzem a grandiloqüência da História, com a magnitude, que habita a alma lusa a expressar-se em sua Língua Portuguesa.A poesia é imprescindível ao ser que se quer saber, e é sempre uma inimiga feroz, dos processos econômicos virulentos, que se propagam, nas artérias das cidades, insuflando comportamentos, atitudes da repetição consumista.Assim que se a poesia, nada contra a correnteza de um mudo que apregoa valores do ter ante o ser, ela, a Poesia , em Portugal, emerge do leito do Tejo.E, com a história de resistências culturais, encontra na sua Língua materna, uma aliada identidade.A identidade cultural formada na sua diversidade histórica e social.Uma editora, que divulgue novos poetas, haveria de ter um nome Magno, assim que encontro em Lisboa a MAGNA EDITORA, a editar os valores literários portugueses e universais.Fato que me parece salutar , diria ainda e não por aliteração, mas por reconhecimento:Magnâmico. Editar a poesia contemporânea portuguesa.E aqui, encontramos o Poeta João Jacinto e seu livro RE CANTOS DA LUA.Uma poesia, profunda densa, filosófica, por vezes dócil, amena, mas sempre contundente, uma palavra como uma lamina afiada a tocar na pele, para sangrar,as feriadas do ser, não deixar cicatrizar a superficialidade.Uma poesia que abre nossos poros fechados, no dia a dia da sobrevivência, nas vivencias amorosas que não se permitem o confronto das diferenças, um mergulho no país da infância onde ali o poeta encontra a utopia da absoluta felicidade e pureza do ser.A primeira vez que li a sua poesia, as palavras iluminaram o dia que já era claro e feliz, foi no dia de meu aniversário. Li, reli do Poeta, um poema sincopado onde Parabenizava o dia do aniversário, dizer tanto da vida num poema tão breve. A vida pareceu ser ainda mais mágica, por aquelas palavras, um pequeno hinário a vida.Soube de imediato a grandeza humana e literária do poeta.Encontramos João Jacinto por vezes, Filósofo, inquiridor das vicinais artérias da avenida da vida, a buscar o oculto, revelando os turbilhões humanos usualmente admoestados em caixas escondidas nos porões da nossa memória.O Filósofo Poeta, não concilia, abre as chagas, as expõem,não se poupa, é o narrador e seu protagonista, o criador e a sua criatura, a poesia no estado mais latente de humanidades que sangram, aos poros dos que atravessam a fronteira de busca do auto-conhecimento.Esta lavra, inquiridora, reveste-se, em minha opinião, da maior promessa poética da Literatura Contemporânea. Ela vara os limites, do caos urbano, cosmopolita , globalizado , para pontuar, ao centro da humanidade, a palavra útero.Ali onde as emoções fecundam e nascidas se multiplicam afloradas no lirismo ou abafadas sob os nãos . Estes , como aquela ,presentes a diário nas vidas humanas .Ambas vertentes encontramos na obra RE CANTOS DA LUA.O Poeta aponta a lamina da palavra faca afiada, na epiderme retesa,das oclusas saídas do ser em desencontro de seu duplo amoroso, mas, não o diz do leitor e , sim a si próprio.Imola-se, e por suas palavras nos absolve dos nossos caminhos tortos, mas nos deixa atentos.A a vigília da palavra em poesia permanece a convidar que ousemos transpassara porta que em estando fechada, pode ser aberta, pois que a poesia promove a reinvenção da vida.Há ainda na poesia de João Jacinto no contrário construtivo de seus versosuma outra ponta do fio desta meada filosófica. Faço referencia à amplidão psicológica dos feitos do narrador da poesia, o Poeta.O poeta é seu próprio paciente e ele o Psicólogo, faz o diagnóstico:Percorro entristecido, o labirinto construído de medo, ou ainda... Sou o duplo de confundíveis identidades.João Jacinto amplia na sua poesia, as vertentes de seu escrever, filósofo, psicólogo, trágico.Se a tragédia, nascida na Grécia, primou os versos ditirâmbicos, o poema de versos livres de Jacinto, nos remete ao sentido mais visceral do gênero Trágico, propulsor da tragédia. .Encontramos na obra o Herói Trágico, é o poeta narrador na sua grandiloqüência de procura de seu estar diante do ser, trazido em palavras aradas.Da mesma verve heroicizada daquelas tragédias gregas, como nos versos de CANTO PROIBIDO, OU ARREPENDIMETO;Quem me ouvirá quando puser em enlouquecida fuga, para os confins derradeiros do mundo? , sinto o desespero amargo dos teus sentidos ou ainda literariamente, o verso final do poema ULTIMA CEIA:Caia o pano,que finde de vez esta ultima ceia.A profundidade destes versos, é assombrosa, as encontramos quase de relance, na leitura do poema, e já não somos nós mesmas, nós mesmos. .A força do existir na pluralidade dos sentires se instauraEntão, em outro verso, ele busca a conciliação, a compreensão, compaixão e vislumbra o lirismo imemorial da alma dita POÉTICA. Encontramos o pintor, que aflora, pois que na vida já percorreu as artes plásticas.O Pintor é quem agora,na pele de poeta,colore na folha impressa os tons da natureza,retirados da sua palheta de palavras cores..Manhãs douradas, eras o sol do meio dia, brilhando por cima de minha vida,um arco-íris que sobressai,quero olhar o firmamento e perder-me a contar estrelas, que amadureçam os frutos do amor, dancei aos ventos, perfumado de azul e algas, verdejantes primaveras.Esta riqueza de contextualizações na obra de João Jacinto, quanto mais o lermos, tanto mais será ampliada.Antes de finalizar, é imperioso dizermos que a poesia do poeta João Jacinto, suscita incontáveis leituras e já ficamos a esperar outros livros.Hoje, acompanhemos o poeta, nascido em Montijo, quando em seus versos ,também cultua o país sagrado, aquele mesmo, que todos nós já habitamos um dia: o país da infância. O poeta foi uma criança feliz, sob olhares femininos, que o circularam, Mãe, Avó,Tia, Irmã,Vizinha, e na sua formação a envolver seu crescimento, ainda a musica paterna, um fagote transpassando sons a enriquecerem a personalidade aflorada nos jardins verdes dos afetos.João Jacinto, sua literatura é um bálsamo a revitalizar a Língua Portuguesa, que atravessará os mesmos mares “sempre dantes navegados” a entregar ouro e prata, da melhor alma humana, na poesia do MENINO DE MONTIJO.


Saudações.

Ilha, Florianópolis, sul do Brasil

Aos 16 de Abril de MMVI


Carmen Lucia Fossari
Publicada por Recantos da Lua


.