A escolha do Poeta

A escolha do Poeta

Escolher um poeta é como receber uma chave do aprendizado além das lições normais. São aulas de sentimentos, emoções que estão escondidas em nossos corações esperando a amplitude dos nossos universos. Um Poeta é como uma estrela brilhando em nossa volta, para iluminar a visão interna como um farol nos horizontes da criação. E para fazer esta escolha a identificação é a chave que abre o acervo de tantos talentos que honram a literatura universal .

A minha chave abriu o acervo de um Poeta da minha terra, o

Príncipe dos Poetas , José Guilherme de Araujo Jorge

Exortação

Sonha, poeta!... O sonho é o entorpecente,

o mais sublime tóxico do mundo,

a morfina ideal do teu viver...

-sonha um sonho infinito, azul, profundo,

indefinidamente,

e esquece a vida que tu tens presente

pela vida maior que há no teu Ser!

Esquece tudo, o próprio mundo esquece,

e esquece a tua vida, porque a tua vida

vale mais se a souberes fazer grande

e cada vez maior

na tua exortação...

Se o teu destino é estranho e é diferente,

se não nasceste igual a toda gente,

- ensina o canto livre e a vida nova

aos Prometeus da Razão!

Faze tu mesmo, o teu próprio Universo,

- tua terra

- teu céu

- tua vida

- teu verso...

E o Universo dos homens que te importa então?

Sê louco!... Que a loucura é essa subida

de pequenez restrita da verdade

à grandeza infinita da Ilusão!

O teu sonho não traz o pedestal na terra,

teu espírito é assim como um condor boiando

nos espaços azuis...

Sobe... devassa os céus, de lado a lado,

vê se existe algum poeta, além, por outros mundos,

esse poeta que à noite escreve com as estrelas,

não tendo ao solo acorrentado os pés!

Sonha, poeta!... Eu quero ver-te aflito

sacudir os teus braços na amplidão

a ferir com teus dedos o Infinito...

E ao baixar tuas mãos,

de novo ao vê-las,

hás de exclamar, tenho-as de ouro e lilás!;

e olhando para o céu

verás o céu sangrando

de estrelas,

e as tuas mãos, a transbordar estrelas

assombrado verás!

Não trouxeste o destino de arrastar

a tua ânsia na terra

onde os homens pregados vão de rastros...

Solta a tua alma azul no espaço azul,

os teu sonhos semelham-se a bandeiras

fremindo ao vento no cordel dos mastros!

- vai brincar com os cometas sem destino

e conversar com os astros!

Sonha! Que este sonhar só bem te faz!

Sê sempre o mesmo:

Um louco!

Um incomum!

Não te sujeites a domínio algum,

e que o teu sonho não acabe mais!

( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro

"Bazar de Ritmos" 1a edição1935 )

Um poema tem a proeza de tocar tão intensamente ,que consegue atingir nosso espaço mais íntimo o que nosso próprio olhar esconde.

A intensidade da identificação com um poema esta além dos nossos conhecimentos concretos, está armazenado na nossa essência abstrata, em nosso âmago.

Assim é a força da identificação com este Poeta, os seus versos carregaram-me de volta ao caminho da poesia. Um poeta romântico, talvez por isso me toca tanto. Mas tem o lado democrático, social,filosófico e talvez pela liberdade intensa que encontro em seus versos. Fiz a minha escolha antes mesmo de imaginar, que seria um dia o Poeta especial.

"Estou cada vez mais convencido de que a liberdade tem sido uma

palavra há milênios desfraldada sobre a miséria da maioria, e há três

séculos manejada pela burguesia em seu proveito. Por isso acho que ser

livre é não ter fome, não ter medo da vida, não viver ao desamparo, ter

direito à terra, à educação, à saúde, ao trabalho, a viver com o mínimo

necessário para que não seja apenas um animal explorado pelo dinheiro."

"E o resto é silêncio..."

J.G.de Araujo Jorge

A minha identificação com este poeta está em mais um ponto fundamental, nesta frase:

“O poema é que vem, e diz: estou aqui, escreve-me”

J.G.de Araújo Jorge

A poesia pode nos guiar a um estilo de vida independente de sermos ou não Poeta. Os sentimentos armazenados em nosso interior podem ampliar os universos transformar-se em escrita dando origem a criação. A percepção do pensamento poético é a mais completa identificação com a escolha do Poeta.

Hoje ler poesia é sentir, a vida além dos versos.

Espero que os amantes da poesia apreciem este Grande Poeta .

A minha pesquisa foi feita em alguns sites que deixo aqui como fonte para um maior conhecimento .

( http://www.jgaraujo.com.br/poesias/poesias.htm)

(http://www.secrel.com.br/jpoesia/jgaraujo.

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Biografia

Nasceu em 20 de maio de 1914, na Vila de Tarauacá, Estado do Acre. Filho de Salvador Augusto de Araújo Jorge e Zilda Tinoco de Araujo Jorge.

Passou sua infância no Acre, em Rio Branco, onde fez o curso primário no Grupo Escolar, 7 de Setembro. No Rio , realizou o curso secundário nos Colégios Anglo-Americano e Pedro II Colaborou desde menino na imprensa estudantis. Foi fundador e presidente da Academia de Letras do Internato Pedro II.Data dessa época, ainda ginasiano, sua primeira colaboração na imprensa adulta: em 1931 viu publicado o seu poema "Ri Palhaço, Ri" no "Correio da Manhã", depois transcrito no "Almanaque Bertand" de 1932. Entretanto, este como outros trabalhos desse tempo, não foram incluídos em seus livros. Colaborou também no jornal " A Nação" ; nas revistas: " Carioca", "Vamos Ler", etc. Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.

Em 1932, No Externato Colégio Pedro II, em memorável certame, foi escolhido o " Príncipe dos Poetas", sendo saudado na festa por Coelho Neto, "Príncipe dos prosadores brasileiros" recebendo das mãos da poetisa Ana Amélia, Presidente da Casa do Estudante, como prêmio e homenagem, um livro ofertado por Adalberto Oliveira, então " Príncipe da Poesia Brasileira".

Na Faculdade de Direito foi o fundador e o 1º Presidente da Academia de Letras, que teve como patrono Afrânio Peixoto, então professor de Medicina Legal.

Foi locutor e redator de programas radiofônicos, atuando nas Rádios Nacional, Cruzeiro do Sul, Tupi e Eldorado. Em 1965, era professor de História e Literatura, do Colégio Pedro II.

Orador oficial de entidades universitárias, (do CACO da União Democrática Estudantil, precursora da UNE, da Associação Universitária, etc), ainda estudante, venceu concursos de oratória. Em Coimbra recebeu no título de " estudante honorário" e fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim.

Com irrefreável vocação política, foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se Deputado Federal em 1970 pela Guanabara, reelegendo-se já para o seu terceiro mandato em 1978 .

Ocupou a vice-liderança do MDB e a presidência da Comissão de Comunicação na Câmara dos Deputados.

Politicamente participou sempre das lutas anti-fascistas, como democrata e socialista.. Lutou, ainda estudante, contra o "Estado Novo". Foi preso e perseguido várias vezes durante esse período . Deixou de ser orador de sua turma por estar detido na Vila Militar, sob as ordens do Gal. Newton Cavalcanti, durante todo "estado de guerra" de 1937.

Foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica, impregnada de romantismo moderno, mas às vezes, dramático.

Foi um dos poetas mais lidos, e talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil.

Faleceu em 27 de Janeiro de 1987.

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Os versos que te dou

Ouve estes versos que te dou, eu

os fiz hoje que sinto o coração contente

enquanto teu amor for meu somente,

eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,

versos de sonho e de amor, e hei depois

relembrar o passado de nós dois...

esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são

versos meus, mas que são teus, também...

Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que

possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos

hás de um dia mais tarde, revive-los nas

lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...

hás de rever, chorando, o nosso amor,

hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e

outros versos quiseres, teu pedido deixa

ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,

pode colher do chão todas as flores, pois

são os versos de amor que ainda te dou.

(Poema de JG de Araújo Jorge

do livro "Meu Céu Interior" – 1934)

Marli Franco
Enviado por Marli Franco em 20/04/2009
Código do texto: T1550201
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