Educação ou aprendizado?
A atualidade traduz-se em inúmeros movimentos, um sem fim de possibilidades que tem produzido uma angústia inquietante e perenizado, como conseqüência, uma série de equívocos.
Os diversos modelos de sociedade e seus tópicos reguladores; leis, cultura, educação, hierarquia social, etc. Conduziram seus aspectos mais predominantes a uma série de especulações.
Entretanto, do modo como o conhecimento se fragmentou, gerou uma abordagem distanciada dos outros ramos da prática acadêmica que dando curso a teses compartimentadas, ignorou a necessidade de estruturar de modo multidisciplinar as conclusões obtidas a partir da pesquisa acadêmica.
Dentre as muitas distorções que tem provocado discussão em determinados setores, a que mais chama a atenção é a dificuldade de estabelecer a diferença entre educação e aprendizagem. Os reflexos deste equívoco têm prejudicado de forma bastante significativa as propostas coletivas de desenvolvimento de políticas educacionais e afetado as relações dos indivíduos com o conhecimento.
Logo se torna necessário, ao menos de forma básica, caracterizar educação e aprendizado, dentro do contexto que este questionamento pretende subsidiar.
A educação elementar que a sociedade de forma instituída busca, considera cada indivíduo com as mesmas possibilidades ou condições dos demais.
Dentro do ente coletivo sociedade é a única abordagem possível; pois o oposto desta posição geraria um conflito de segregação no meio. Este modelo busca uma representação, uma redução do indivíduo desconsiderando suas características particulares. A educação é uma proposição do meio, da sociedade organizada que se baseia nos seus objetivos de uniformização em prejuízo da manifestação dos atributos individuais.
Os programas de educação, as grades curriculares, as regras de conduta, a etiqueta e alguns elementos do costume vão se integrando ao modelo constituído delineando um indivíduo padrão, cuja arquitetura projeta desde os cuidados neonatais até o cumprimento das formalidades testamentais. Este indivíduo é fruto da vontade da parcela de maior poder de representação, que por conta dos regimes de poder representativo determina as prioridades da sociedade.
As relações oriundas da educação são relativas e transformam-se de acordo com o contexto que gerou tal demanda pela via da regulação. Elas são revogáveis e convivem com as fragilidades dos segmentos a que pertencem.
O aprendizado se realiza dentro do indivíduo, se constituí de uma capacidade particular de construir e acumular saberes, de absorver e questionar as posições e os movimentos que estão ocorrendo dentro do seu espaço tempo. O aprendizado é uma escola particular onde os mestres sãos as inquietações e as matérias são os questionamentos.
As relações oriundas do processo de aprendizagem se constituem em experiências que o individuo é capaz de registrar de forma racional e emocional e dá-se de modo permanente, cumulativo e encadeia-se com as vivencias individuais.
São os vínculos emocionais que desencadeiam uma comoção coletiva por uma população longínqua diante de uma tragédia. A superação de uma deficiência por uma via inusitada, distanciada da formação pessoal de determinado indivíduo.
É um curso heterodoxo que os processos formais de educação registram, mas não assimilam devido ao seu potencial de particularização que confronta com a necessidade de respaldo que a educação necessita para prevalecer dentro da sociedade.
O aprendizado tem uma necessidade de resposta original aos questionamentos, raramente se contenta com corroborar, está sempre considerando o inédito e o particular como expressão inerente ao indivíduo.
Hoje o que predomina na sociedade é uma classe intelectual distanciada da construção do conhecimento, são capazes de citar uma bibliografia caudalosa para não precisar criar e defender uma tese, por temor da confrontação com os modelos instituídos que a esta altura ele mesmo já incorporou.
As vanguardas foram exterminadas de tal forma que não é possível distinguir na contemporaneidade nenhum expoente, nenhum pensador radical. O modelo atual prima pelo aval aos cânones, estimula as apropriações, transformando a dinâmica do pensamento em fragmentos de teses consolidadas.
As universidades replicam de tal forma suas pesquisas, suas teses que vão deixando lacunas e criando superposições na sucessão desordenada de quem prospecta rumo a lugar algum.
O prejuízo maior é a manutenção de um modelo de citações e consignações, onde deveria existir uma matriz de questionamentos voltados para uma abordagem original do objeto estudado.
O ambiente acadêmico é salutar para o contato com o conhecimento consolidado e a discussão oriunda deste exercício será capaz de reformá-lo e conduzi-lo adiante. Atualmente nos modelos praticados o que predomina é a referencia, a necessidade de se apropriar de um resultado consumado para sugerir uma impressão referencial quando na verdade estamos diante de uma simulação de prospecção acadêmica.
O acadêmico comprometido com sua constituição busca uma expressão original da sua abordagem do conhecimento, o contato freqüente com a matéria do seu interesse o torna capaz de transformar aquela referencia da sua formação acadêmica num saber, que estando constituído dentro das suas vivências pode ser expresso de forma particular, acrescido da sua essência de indivíduo, constituindo-se em aprendizado.
Quando a educação incorpora e estimula o aprendizado, ela realiza duas trajetórias com o dispêndio de um único esforço, os agentes do conhecimento, da pesquisa, saem de si quando se dão aos seus labores e catalisam na realização do seu ofício.
O aprendizado respeita a natureza do indivíduo, ocorre num ambiente com mínima tensão, excepcionalmente torna-se objeto de competição, sua dinâmica se dá no íntimo de cada um e são seus limites que devem ser registrados.
O objeto deste texto é buscar a atenção a nossa construção de conceitos. A forma como pensamos determina a nossa relação com o mundo. Todo indivíduo deve protagonizar a sua trajetória, sempre há um conceito que atraí atenção, que realiza um efeito de atração, mas deve ser com os próprios olhos, no seio de suas verdades que ele deverá formar seus juízos, as instancias pelas quais se relacionará com o mundo.
A sociedade compartilha valores e desvios, logo é necessário tomar parte no processo de escolha para reformar os aspectos que não favorecem a realização do aprendizado, que transforma homens simples em detentores de valores e conhecimentos que conduzem a humanidade para a realização de seu potencial.
A título de conclusão analisemos uma classe de alunos de um mesmo referencial social e educacional, tomando como exemplo a turma de Einstein, imaginando o aluno que conseguiu de alguma forma acompanhá-lo por algum tempo, veremos o quanto a educação geral não predomina diante da aprendizagem particular.
Enquanto os outros alunos seguiram generalizados como contemporâneos de Einstein, a sociedade o distinguiu como referencial daquela geração e concedeu as honrarias e a representação individual daquele tempo, rejeitando ela mesma o seu próprio modelo coletivo.
Faz-se necessário interpretar as versões do mundo, questionar as opções, especular sobre os rumos. Esta pratica só é legitima quando realizada com nossos elementos, construídos no seio dos nossos conflitos e em contato com nossa porção fundamental da experiência.