Iconoclásticas II - Um erro comum na prática de musculação

De acordo com concepção amplamente difundida nas academias de ginástica, os praticantes de musculação devem-se exercitar com movimentos lentos, “geométricos” e bastante controlados, tudo isso de modo a obter o máximo de eficiência. Sustentarei que tal ponto de vista está equivocado e proporei alternativamente, que os atletas se exercitem de um modo mais intuitivo, com movimentos mais rápidos e naturais que os atualmente propostos.

Creio que o erro da concepção esboçada acima está centrado na noção de “eficiência” sugerida acima. Não entrarei em detalhes, mas tal palavra exige um complemento: eficiência em relação ao número de repetições, ou, eficiência em relação ao tempo; posta assim, sem um complemento, tem um significado apenas incompleto, impreciso, impossível de ser compreendido com precisão. Note que o mesmo tipo de abordagem se impingido ao treinamento de corredores, consideraria que o treinamento mais eficiente de um corredor consistiria em corridas com pesos no corpo e nas pernas, uma vez que tais exercícios pareceriam mais eficientes que os livres e naturais, utilizando-se o termo no mesmo sentido impreciso que o anterior. Suspeito que essas e outras formas para dificultar o desempenho do atleta, tais como o treinamento em aclives, ou em horas excessivamente quentes, tenham sido tentadas, mas com resultados ruins avaliados com precisão nas competições, o que deve ter relegado tais práticas, apenas a variações de treinamento com o intuito de minimizar a monotonia da rotina. Acredito que a mesma argumentação baseada na eficiência impõe tanto os movimentos na prática de musculação, quanto o uso de pesos durante as corridas de treinamento, de modo que ambos são igualmente bons ou são ambos ruins.

Penso também que a grandeza utilizada nessas medições, em especial entre os atletas de academias de ginástica que lá se encontram de livre vontade, devesse ser o esforço. Tenho certeza que grandezas subjetivas como essa causam repulsa àqueles formados sob o cientificismo positivista do século XIX que ainda vige em inúmeros centros de ensino. Mesmo assim, os atletas costumam estar conscientes de que o que almejam é o máximo desempenho com o mínimo de esforço, essa grandeza subjetiva que cada um sabe tão facilmente como avaliar.

Sob esse ponto de vista, os melhores exercícios se assemelharão aos mais livres, àqueles que o próprio corpo busca com o intuito exato de minimizar o esforço em cada execução. Praticando o conjunto de exercícios dessa maneira livre, uma certa quantidade de esforço será muito mais recompensada que em qualquer prática artificial.

Assim, como recomendação final, sugiro que durante a prática de musculação, deixe seu corpo te guiar na execução de cada movimento, permitindo que muitos músculos ajudem simultaneamente em cada atividade. Em decorrência, deve aumentar a carga, ou o número de repetições do exercício que executava anteriormente de maneira artificial, de modo a manter a mesma quantidade de esforço que empenhava antes, mas agora com movimentos naturais. (Mas fique atento aos exercícios que possam acarretar lesões).