ELES

Meu vestido de sorriso não me serve mais... Só mesmo quando me lembro do passeio dos girassóis e de como eu via o mundo por detrás dos óculos azuis de ver a vida, que ela me deixava usar, brincando de famosa, no jardim dos morangos.

E havia também as mulheres nuas, que se banhavam na praça central, sob as águas iluminadas e coloridas... Não fossem mármore, seriam uma indecência... mas meus olhinhos brilhavam (não sei se pela arte da escultura ou se pela subliminar indecência) antes do sono pontual das oito e trinta, no opala verde-abacate, dentro do cheiro de pipoca.

Perdoe-me o imaginário usual, mas de realejos eu não me lembro, aliás, nunca havia visto um antes da cidade grande me engolir, muito tempo depois daquele tempo; mas o “plac-plac-plac” dos vendedores de bijuzinho – embora dos ditos-cujos eu nem gostasse – provoca-me doces e involuntários deja-vu(s) até hoje, que por vezes até mesmo ouço as tais matracas (sem que elas de fato soem), feito lá no quintal dos caminhões, que já nem tinha mais caminhões, mas ainda não era a casa nova do guarda-livros, que já é velha.

Às vezes eu podia dormir no quarto do filho, que não era dela, e nem morava lá, mas mantinha-se intacto, porque tinham vida – o quarto e o filho, e não me esqueço do suspiro dele, misto de dor e alívio, quando o filho se foi, no caminho que escolheu. E depois foi-se o quarto. Depois a casa...

Depois ele.

Depois ela, que em verdade nem se foi, mas perdeu-se de si mesma.

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 11/05/2006
Reeditado em 11/05/2006
Código do texto: T154460