Intervalo dissonante

Aqui neste lugar o silencio prevalece. Ouço apenas os sons da natureza. O sibilar dos miquinhos, o espetáculo das cigarras no assobio ciciado feito palheta vibrando as cordas de uma guitarra, o estalido das folhas secas ao chão pisoteadas por qualquer animalzinho.

Ao longe dá pra se escutar as notas tiradas de um piano. A melodia suave chega ‘sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia... ’ É o que elas querem dizer...

Daí viajo nas mais doces lembranças. Do passado ao futuro só leva um instante... De repente um pensamento corta abruptamente as imagens que desenrolam a minha mente. Você sai de casa praticamente todos os dias para buscar o sustento que alicerça nossa família, e eu?!

Eu todas as semanas saio pra um lugar mágico onde tenho as mais lindas lições sobre a arte de musicar a vida. Usurpando de uma coisa que nem mereci ter... Saio sim, pra gastar aquilo que o seu suor me proporciona. Paradoxal! Sim, é isso. Realmente absurda esta minha existência. Preciso urgentemente repensar meus conceitos... Bizarrice!

O que entendo é que não posso continuar nesta vida inútil, fútil. Do que adianta eu fazer trabalhos sociais se neles emprego o sustentáculo de outros. Nada me pertence. Nada cresce a partir de mim... Decorrência de uma historia mal construída que não tenho sabido reescrever?! Não tenho certeza se sou protagonista ou coadjuvante... Será que nesta sentença onde lapido a minha vida o sujeito é oculto?!

Tantas elucubrações...

Agora é chegado o momento que tenho que sair desse refugio onde só eu percebo os intervalos transcritos nesta canção de espera, tão particular e singular. Onde eu tenho a certeza que por mais longa que seja a viagem estarei entre as notas da canção...

08 de abril de 2009.

Adro da Bituca - Barbacena - MG