Conversas com quem gosta de ler (1)

Uma das coisas que descobri ao escrever, é que escrevo como se estivesse conversando. Faço assim, não porque seja solitária e não tenha alguém pra conversar, mas porque nem sempre o que quero conversar é o que querem ouvir.

As pessoas têm direito de querer ouvir ou não certos tipos de assuntos. Algumas pessoas sequer sentem necessidade de olhar pra dentro de si e posicionar-se. Muitas vezes nem sequer percebem que têm algo dentro de si mesmas.

Não estou querendo dizer que as pessoas sejam ocas. Não mesmo! É que em grande parte de nosso tempo, a gente quer acreditar que é aquilo que pensa que é, pois pode não gostar de descobrir que não somos quem pensamos ser, ou quem pensamos que os outros acham que somos. Muitas pessoas vivem a vida inteira na ilusão de si mesmas.

Olhar pra dentro de si é muito doído, às vezes desanimador, desalentador pra ser mais específica. Temos o costume de nos supervalorizar , mostrando que somos fortes, bons, valorosos... muito mais que a média das pessoas, que dirá mais que toda a humanidade. Não sei de onde a gente tirou essa “certeza”.

Se sofremos, o nosso sofrimento é o maior, o mais doído. Ninguém tem maior e nem mais pesada cruz. Recusamo-nos, muitas vezes a ouvir o sofrimento do outro pra não termos que reconhecer que dramatizamos demais. Que nossa tragédia é bem menor do que queríamos que fosse. Tornamo-nos a vítima das vítimas e ai do infeliz mortal que não reconhece o quão infeliz somos! E na maioria das vezes até ficamos fisicamente doentes pra termos certeza que atingiremos a compaixão do outro.

Se estamos felizes, somos os escolhidos, os iluminados. Colocamo-nos acima do bem e do mal. Olhamos de cima e não entendemos porque as pessoas sofrem tanto. Chegamos a desdenhar o sofrimento alheio. Rubem Alves diz que a pessoa quando é feliz, ela emburrece. E de fato, comprovamos isso quando na maioria das vezes nos apaixonamos e somos correspondidos, quando temos um excelente emprego e salário, quando somos doutores ou Phd's, quando por qualquer razão nos sobressaímos. Esquecemo-nos que os títulos, os bens, o outro, os filhos, são somente empréstimos e que somos meros zeladores de todos eles.

O conhecimento só é válido quando acrescido de sabedoria, pois de nada adianta ter o conhecimento acadêmico, se o ser do humano é meramente científico. O mundo nunca teve tanto conhecimento científico e tão pouca sabedoria pra usar esse conhecimento...

E nessa linha de raciocínio, o mundo nunca esteve tão carente de ouvido. Ninguém quer ouvir o real, quer seja na tristeza, quer seja na felicidade. Sempre o outro incomoda e o seu problema ou felicidade é maior, mais interessante.

Sêneca, filósofo romano escreveu: “Temos dois ouvidos e uma boca. Não seria pra ouvirmos mais do que falar?” 10/04/09

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 10/04/2009
Código do texto: T1532958
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