Iconoclásticas I — O mito das dietas hipocalóricas
Vem sendo divulgado já há certo tempo, o mito de que dietas hipocalóricas retardam o envelhecimento e aumentam a expectativa de vida.
Creio que tal mito se baseia em interpretação precipitada da constatação de que uma imensa variedade de seres vivos vive por mais tempo quando submetida a uma dieta frugal.
De fato, bactérias vivem mais quando lhes faltam nutrientes; colocadas em um meio ótimo, repleto de nutrientes, elas rapidamente se dividem, o que pode ser interpretado como morte. Não me parece claro haver aí aumento de longevidade.
Plantas anuais germinam, crescem, frutificam e morrem anualmente. Quando privadas de nutrientes não se desenvolvem a contento; a inanição pode impedir sua frutificação na época adequada, obrigando a planta a fazê-lo apenas um ano depois, o que pode ser interpretado como um grande aumento de longevidade, embora signifique muito mais propriamente o retardamento dos processos fisiológicos normais que desembocam na frutificação e consequente morte da planta.
Animais de laboratório enjaulados e submetidos a dietas com altas calorias tendem a ganhar sobrepeso, sofrendo em conseqüência uma redução na expectativa de vida. Quando comparados com esses, os animais sujeitos à dieta hipocalórca parecem ter um aumento de sobrevida.
Como não há mágica, animais que recebem dieta hipocalórica só conseguem manter o mesmo peso que os outros se permanecem apáticos e inativos. Penso que uma boa avaliação das virtudes das dietas hipocalóricas deve se basear na comparação entre indivíduos de mesmo peso. Deve-se comparar um grupo que se alimenta pouco, com outro que se alimenta muito, mas compensa o excesso de ingestão calórica com exercícios físicos. Nesse caso, é só uma aposta, mas tenho forte palpite que o grupo que se exercita vive mais e melhor.
Assim, não confio minimamente na suposta inferência de que dietas hipocalóricas tendem a aumentar a longevidade, prefiro continuar acreditando que uma das fontes da longevidade consiste no baixo peso associado a muita atividade física e à quantidade de alimento necessária para sustentar tal ação.