O CUSTO DO ATRASO ENDÊMICO

Se levássemos a sério a expressão “tempo é dinheiro”, acredito que todos nós teríamos muito dinheiro a receber das vezes que esperamos além da hora (ou de horas) por programações com horário pré-estabelecido. Talvez, numa mea culpa, também teríamos dívidas acumuladas pelas vezes em que fizemos outros esperarem.

Contudo, não estamos falando do atraso de alguns minutos, aquele que se provoca para mostrarmos que não somos desocupados. Nem da festinha de família, onde somos convidados para um almoço e chegamos ao meio dia, justamente a tempo de tirar os donos da casa do seu sono noturno. A festa onde a aniversariante anfitriã chega atrasada porque o vestido não ficou pronto, como se apenas algumas horas antes tivesse tomado conhecimento da necessidade de se vestir para o evento.

Dúvidas sobre o que vestir ou são preocupações femininas que não atingem apenas as mulheres. Mas não podem ser motivo para causar constrangimento a outras pessoas pontuais. Afinal, todos têm problemas em fechar a casa, guardar o cachorro, enfrentar o trânsito etc.

Falemos de programações onde você fica no desconforto por horas esperando o convidado especial ou, mesmo o anfitrião em casos oficiais. Solenidades públicas costumam ter atrasos deselegantes como se os convidados nada mais tivessem a fazer na vida a não ser esperar por sua Excia. Quando as programações são noturnas, tem-se a impressão que ninguém tem nada a fazer no outro dia cedo, uma vez que o jantar comemorativo a uma determinada data é servido na madrugada do dia seguinte. Assim, no nosso clima equatorial, por vezes encontramos determinados ingredientes de alguns pratos com aroma e aparência suspeitos por conta da longa espera.

A situação é endêmica, para não dizer bizarra. Outro dia ouvimos um comentário de uma pessoa que havia comprado ingresso para um show, chegou atrasado e reclamou que o espetáculo começou exatamente no horário marcado. Assim ele perdeu a metade dele.

O que parece piada tem uma razão de ser. Quando tudo atrasa, a exceção passa a ser regra e aquele que chega no horário, ou alguns minutos antes, como manda a etiqueta, corre o risco de não encontrar ninguém. Ou então deparar com a equipe de limpeza preparando o local. Assim, é comum ouvirmos “programadores” de eventos com esse argumento: “Vamos marcar para às oito, para podermos começar às nove.” Depois das nove ainda há a tolerância, que não raramente se estende à meia-noite.

Há alguns anos, vereadores de várias cidades do Brasil criaram leis limitando o tempo de espera em filas bancárias e outras instituições. A perda de tempo tem um custo não facilmente calculável. Quando se trata de uma festividade sem horário para terminar e onde todos podem sair quando bem entenderem, isso é totalmente irrelevante. Contudo, quando se espera um convidado ilustre e, sem ele nada pode continuar a coisa fica diferente.

Quando a paciência, a própria comida da festa se deterioram pelo atraso, então o respeito pelas outras atividades do convidado já foram pro brejo e o profissionalismo dos organizadores do evento se perdeu nos meandros da falta de educação pura e simples.

Luiz Lauschner é escritor e empresário.

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 05/04/2009
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