Cada um no seu mundo
Angélica T. Almstadter
Fecho a porta de mim
para não ver a tua presença,
insistes em me rodear e não ver
o quanto já não moras mais em mim.
Nos perdemos um do outro,
sem volta dos nossos caminhos...
não soubestes contar estrelas comigo,
nunca aprendestes apreciar
os meus silêncios,
minhas fantasias.
Assim nunca te dei um pedaço
do meu mundo que sempre foi só meu...
quando me olhas desse jeito enfurecido...
sinto a vida de mim fugir.
Quando me negas a razão
e pisas na minha existência
para que eu morra em ti...
e em mim... morro sim...
um pouco a cada dia...
para que em outro lugar
eu possa renascer.
Não te reconheço mais...
não sabia o quão desconhecido
me eras...
depois de tanto tempo...
mudastes?
Talvez sim, ou talvez
eu tenha mudado...
tuas palavras ferem qual
punhal afiado,
tua presença me castiga,
teus olhos me julgam
e tua fraqueza me condena.
Tua desarmonia interna
perturba tudo a tua volta...
tua dureza produz marcas profundas...
mas não te fadigas de machucar
aos que te cercam...
queres compreensão,
mas não compreendes...
queres afeto,
mas não sabes dar,
e nem receber.
Queres a vida, a alma das pessoas...
aprisionas as nossas vontades...
matas nossos desejos...
nossos mais belos sonhos...
porque enfeias a vida
com a amargura das tuas palavras,
com teu medo de voar,
de se dar...de amar e de dividir.
Muitas portas já se fecharam
entre nós...
as chaves não mais servem
para abrir tantos cadeados...
tudo que era nosso secou...
acho que deixamos de regar
há muito tempo o jardim
da nossa vida...
e a cada inverno,
fomos fechando portas
para nos proteger do frio.
Hoje não te visto mais na minha pele...
nem me encaixo no teu molde
antiquado e rígido...
mas me reservo o direito
de continuar a viver,
mesmo que a vida não me dê
o que eu sempre quis ter.
Aprendi que nem tudo se conquista,
mas o pouco que eu tenho é meu,
e não vou me permitir perder.
como eu gostaria que tu me lesses...
já que não sabes ouvir a minha alma.
Provavelmente te revoltarias
com minha sinceridade,
possivelmente castrarias
também os meus olhos...
e as minhas mãos...
pensando bem, é melhor assim...
cada um no seu mundo