O perfeito, o ideal e o feliz

[trecho do meu livro "Alegrias do coração"]

Certo dia, coloquei no meu messenger a frase: “Não precisa ser perfeito para ser ideal”. Eu estava cansado de tentar fazer tudo "perfeito" porque, por melhor fosse o resultado, sempre havia algo a ser "aperfeiçoado". Pensando que o perfeito talvez não existisse, surgiu tal frase.

Percebi que "qualidade" e "capricho" não são o mesmo que "perfeccionismo". Este último é incômodo e interminavelmente insaciável. Entendi então que as coisas podem ser maravilhosas do jeito que são, que podemos ser muito felizes apesar das inevitáveis desventuras ao longo do nosso caminho. Muitas vezes a beleza se constitui justamente de algo irregular. Excessiva uniformidade leva à rotina. Previsibilidade demais conduz à monotonia.

Uma estudante de Belas Artes que conheci disse que em determinados períodos, as pinturas e esculturas eram feitas com excessiva perfeição. Se isto por um lado torna a obra rica em detalhes, por outro, confere-lhe um aspecto estático. Se o artista quer retratar o movimento, deve produzir uma arte "menos perfeita"!

Assim, não importa como esteja a nossa vida ou qual obstáculo encontramos à nossa frente, o que importa é ser feliz. É o sentimento que conta. Mesmo em meio à situação mais desesperadora, se mantivermos no coração a certeza de vencer, já somos vitoriosos. Ainda que não tenhamos nem idéia de como resolver tal impasse, se continuarmos firmes, já teremos metade da solução. Ou seja, o sentimento de vitória é o próprio êxito.

[trecho do meu livro "Pássaros"]

A frase “Não precisa ser perfeito para ser ideal” era uma alusão à obsessão pelo perfeccionismo ao custo de muita infelicidade. Demorei pra descobrir que pra ser feliz não é preciso ser perfeito. Com o “ideal” que escrevi lá, eu queria dizer isso.

Acontece que depois de um tempo, percebi que seria melhor: “Não precisa ser ideal para ser perfeito.” É porque o ideal parece mais longínquo do que o perfeito. Perfeito depende de exigências, requisitos negociáveis, flexíveis. Já o ideal é mais que perfeito, utópico.

Confusões de palavras a parte, a conclusão é que nada precisa ser nem perfeito, nem ideal para ser feliz – uma pessoa, um acontecimento, um relacionamento, um empreendimento, um momento. O “melhor” não é monotonamente perfeito, nem surrealisticamente idealizado. Feliz é feliz do jeito que é: imperfeito, incompleto, incondicional. É isso que importa. O perfeccionista nunca está contente, fica sempre esperando. Como já escreveram, “a felicidade está na travessia”.

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 03/04/2009
Código do texto: T1521335
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