A morte do pai

O que Freud protagoniza pode ser veraz, concernente à idéia e ao desejo de matar o pai para se tornar livre da condenação hereditária e da angústia de fracassar à expectativa de superação que os pais alimentam com relação ao sucesso dos filhos. Segundo Freud, os filhos inconscientemente vivem uma culpa que é descarregada através do sofrimento e da depressão. Vejo aí, portanto, uma constatação de que para ser livre o homem busca a Deus, um pai distante que não pode punir nem abraçar.

Todavia, é na religião que reside a maior depressão da alma humana, uma vez que seria algo improvável para o ser humano alcançar e também assassinar a Deus. A meu ver, parece algo muito explicito se aplicada esta teoria à vida e à obra de alguns dos filósofos. Não raro percebemos que alguns deles se esforçam desesperadamente para alcançar a divindade, ignorando, portanto, a mitologia ancestral e os mitos que nos legaram muito dos saberes espirituais e morais que hoje usufruímos.

A exemplo de Platão que mata Homero, ou não permite a entrada na sua república utópica, fruto de sua ociosidade contemplativa. Entretanto, para que isto ocorresse de modo justo, sopra nas narinas de um deus menor, porém submisso ao seu criador. Daí nasce o Sócrates de Platão, um homem que torna–se mito à sua maneira, e, que não representa fielmente o sábio grego que não negou a divindade de seu pai, todavia o aceitou e o convidou para ser coadjuvante na sua obra filosófica singular. Sócrates não renega o pai Homero e cita-o como poeta e sábio necessário ao espírito do conhecimento universal.

Nietzsche, porém, vai mais longe, no que tange sair do inconsciente para executar o crime-mor: matar o seu genitor-físico-mitologico. Sabemos da sua relação angustiante com o pai biológico e com Deus. É fato que para superar a sua angústia, vai além dos outros filhos que, como Platão, executam a morte do pai, do seu mentor intelectual. Nietzsche, porém, usa de maior ambivalência, e com inquestionável força moral professa a sentença máxima de que Deus está morto. Também lemos em seus escritos, em Ecco Homo, que ele não guardava boas recordações do pai e até o chama de homem fraco.

É tópico crucial que carece reflexão: o que faz um cristão normativo virar abruptamente niilista confesso e um ateu depressivo?

Evan do Carmo... 28/03/2009

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 28/03/2009
Reeditado em 28/03/2009
Código do texto: T1510943