Sistemas ambulantes - o que nos torna únicos
Somos todos sistemas ambulantes. A Teoria Geral dos Sistemas define sistema como um “conjunto de elementos inter-relacionados com um objetivo comum”. Além disso, todo sistema está inserido num ambiente. Assim, para que exista um sistema, quatro componentes são necessários: elementos, relações, objetivo e ambiente.
Esta é a teoria. Na prática, a palavra “sistema” é uma das mais difíceis de serem definidas. Pode parecer contraditório, mas esta palavra é tão abrangente que sozinha não tem significado algum. Se dissermos apenas “sistema”, sem o contexto, dificilmente se identificará a que é que se refere. Por isso, ela é sempre usada de forma composta: sistema de informação, sistema de energia elétrica, sistema respiratório.
Formas de governo, métodos de classificação, conjunto de expressões matemáticas, de órgãos, de notas musicas, de planetas, de programas, de medidas... Tudo é sistema! É mais fácil citar exemplos do que é sistema do que encontrar algo que não seja sistema: carros, canetas, cadeiras, computador, escritório, pessoas – tudo isso possui “elementos, relações, objetivo e ambiente”.
Todo sistema também é composto por três funções básicas: entrada, transformação e saída. É fácil imaginar isso numa fábrica: a matéria-prima entra, é processada e sai em forma de produtos acabados. Por exemplo, na indústria de papel, a madeira (entrada) é transformada (processamento) em papel (saída). Na área de serviços também há sistemas; num salão de beleza, as clientes recebem o tratamento desejado para saírem mais bonitas e satisfeitas.
Como já foi dito logo no início, nós também somos sistemas. Possuímos diversos elementos inter-relacionados com o objetivo de sobreviver em um meio ambiente. Porém, o que nos individualiza são as três funções básicas. O que somos é resultado do que nos afeta (entrada), da forma como lidamos com isso (processamento) e pelo nosso comportamento (saída).
As diversas as entradas no sistema da nossa vida influenciam no que somos. Os alimentos que ingerimos podem acarretar um organismo saudável ou então produzir mal-estar e problemas de saúde. Há quem diga que “somos o que comemos”.
As palavras que ouvimos e os sentimentos que captamos das outras pessoas podem produzir sensações agradáveis, prazer, alegria ou então sofrimento, mágoa, dor. Podemos também receber carinho ou violência física. Tudo isso e tantas outras coisas mais – ar, sol, luz, calor, som etc. – entram em nós continuamente.
Cada um de nós processa as impressões e todos os tipos de entradas de uma forma completamente distinta dos demais. Eis o segundo fator da nossa individualidade: a forma como processamos as entradas. Podemos escolher algumas entradas, como alimentos, bebidas. Outras nos são impostas: palavras, comportamentos. De qualquer forma, uma mesma entrada pode acarretar transformações diferentes dependendo da pessoa. É a forma de lidar com os acontecimentos, a inteligência, a maturidade, a história de vida, a opinião, a malícia, a motivação de cada um.
Completando o trio da individualização, o processamento produz a saída. A reação a um comportamento, a resposta a uma palavra e tudo aquilo que produzimos de benéfico ou prejudicial – tudo isso é “saída”, a nossa contribuição à vida, ao meio, às pessoas, podendo ser positiva ou negativa.
É a nossa saída que provoca a impressão que as pessoas têm de nós. Alguns processamentos não produzem saídas visíveis. Algumas reflexões, conclusões bem íntimas e secretas, permanecem apenas no ego da pessoa, aparentemente não produzindo nenhuma reação externa. Ainda assim, a saída foi produzida: a ausência de comportamento, a apatia ou indiferença.
Fisicamente, nosso corpo é uma equação matemática, resultado do que entra menos o que é gasto. Substâncias tóxicas, nocivas, são aquelas que entram e nunca saem.
Filosoficamente, já afirmaram que “somos o que pensamos”, mas isto é uma verdade parcial. Pensamos sobre aquilo que vemos, que sentimos, que conhecemos. Pensamos com base em entradas. E normalmente os pensamentos produzem conclusões, ou saídas.
Esta conclusão encerra o último conceito teórico: todo sistema é aberto. Isto significa que realizam continuamente trocas ou intercâmbios com o ambiente. Regularmente, uma comutação de energia e matéria é feita com o meio externo.
Não existem sistemas completamente isolados, assim como ninguém pode viver sozinho. Por isso, os sistemas são chamados “adaptativos”, por precisarem ajustar-se constantemente às condições do ambiente para sobreviver. Quem não consegue adaptar-se, não sobrevive.
(São Carlos, 27/02/2009)