SOBRE AS DROGAS

Em todas as sociedades, em todas as épocas, houve uso de drogas. Em rituais, festas, banquetes, permitindo-o, às vezes, a determinadas funções sociais (sacerdotes, curandeiros e outros) determinadas classes, gêneros, etc.; todas essas sociedades permitiam o uso e ao mesmo tempo tinham seus mecanismos de controle desse uso.

A sociedade contemporânea, entretanto, foi a única até hoje que tentou erradicar de vez o consumo das drogas classificadas como ilícitas e, segundo especialistas no assunto, por isto fracassou. O tráfico de drogas tal qual conhecemos é um fenômeno do século XX e tem um viés racista. Até o final do século XIX a cocaína, por exemplo, era consumida na Europa, especialmente entre as elites intelectuais, sem nenhuma proibição, como ocorre hoje com o álcool.

A proibição contra o uso de drogas iniciou-se nos Estados Unidos, no início do século XX pela elite branca e puritana, como forma de punir os hábitos e costumes de negros e imigrantes judeus, latinos, chineses, etc. A maconha é considerada a droga mais consumida atualmente no mundo; um estudo mostra que o maior consumidor de maconha é também o país que iniciou a proibição (EUA), seguido da Nova Zelândia, Holanda, França e Alemanha. A grande polêmica hoje é sobre a descriminalização, com posições contra e a favor no mundo inteiro.

Em debate recente numa emissora de televisão do Estado de São Paulo, o jornalista José Arbex Jr., autor de “Narcotráfico – um jogo de poder nas Américas”, o jornalista Percival de Souza, autor de “A Prisão” (sobre a extinta Casa de Detenção de São Paulo) e outros 15 livros, e o professor Thiago Rodrigues, autor de “Narcotráfico: A Guerra na guerra”, discutiram sobre a questão do tráfico de drogas no Brasil e a proposta de descriminalização.

Dentre as propostas de solução para o problema do tráfico e suas conseqüências, Percival de Souza manifestou-se contra a descriminalização das drogas porque entende que ela contribuiria para o aumento do consumo; Arbex Jr. declarou-se a favor da descriminalização, tal qual ocorre com o tabaco, isto é, que haja empresas que produzam drogas sem as misturas que as tornam ainda mais danosas à saúde do usuário; Rodrigues disse ser a favor da descriminalização concomitante com campanhas contra o uso, referindo-se, também ao exemplo do tabaco. Tal qual o debate, dentro da sociedade as opiniões seguem divididas com uma tendência à defesa da tese da repressão – influenciada pela mídia e patrocinada pelos EUA –, entretanto a indagação sobre a eficácia da repressão pura e simples continua no ar.