GEOMETRIA DO LÚDICO - Comentários ao livro de Weliton Carvalho

GEOMETRIA DO LÚDICO

Comentários ao livro de Weliton Carvalho

O autor, que é um expoente da poesia neo-moderna, é Juiz de Direito em Imperatriz – MA, e como bom maranhense, tendo Gonçalves Dias e tantos outros poetas como um norte, quem sabe, por isso mesmo possa esbanjar humildade e simplicidade no singular estilo de poetar, como se estivesse brincando com as palavras.

Seu estilo é leve e sua verve é macia, traduzindo em versos de poucas palavras o que muitos prosadores não conseguem fazê-lo em grandes compêndios!

Estamos diante de uma obra que reúne vários livros já publicados pelo autor, iniciada por SUSTOS DO SILÊNCIO, seguida de DESCOBRIMENTO DO EXPLÍCITO, precedendo TEMPO EM CONSERVA para chegarmos a A POESIA SORRINDO, SINFONIA DA SOLIDÃO, para encerrar em ESCANDALOSA E LÍRICA!

Temos neste trabalho enciclopédico sobre a obra do autor, grande parte como autobiografia, mesmo porque, o autor não publica neste compêndio a sua biografia, como geralmente acontece, para que os leitores pudessem conhecê-lo como cidadão. Os curtos depoimentos de outros poetas maranhenses contemporâneos que apresentam a obra nas orelhas do livro, bem como no prefácio de Sebastião Moreira Duarte, nos relatam a impressão dos poetas locais sobre o primeiro livro de Weliton Carvalho – TRAVESSIA SEM FIM lançado em São Luis e Recife em 1999, que foi refeito e relançado com o título de SUSTOS DO SILÊNCIO, em 2001, temos um perfil qualitativo do autor, por todos elogiado como um poeta que veio para ficar.

Após o prefácio a que nos referimos, o próprio autor faz considerações sobre sua obra e os motivos que o levaram a reuni-la; registra sua admiração pela poesia de Mário Quintana e quanto à reunião dos seus poemas, explica:

“ Optei por reunir em volume único a poesia até aqui produzida e, entendo, que devo fazê-lo não seguindo a ordem cronológica, mas de evolução poética, segundo meu juízo”.

Weliton Carvalho é Juiz de Direito, atualmente exercendo a magistratura na cidade de Imperatriz – Maranhão.

No poema, NASCIMENTO o poeta cria versos sobre sua identidade...

“Em manhã de novembro e sol/cortaram meu umbigo”

Em DESCONHECIDO, fala da família:

“Meus avós morreram, meus pais também, não tive irmãos:”

No poema DESTINO, um pouco de amargura...

“Sou apenas o homem largado no mundo/em busca de tantos que procuram por mim”

A infância está presente em vários dos seus poemas. Vejamos em RUA DA RAPOSA

“Importa saber que a rua da Raposa é meu referencial no mundo?/Se não importa, a mim importa, e muito,/que Joaquim Aranha fazia lamparinas na rua da Raposa.”

Em INTIMIDADE, o poeta continua a falar da sua infância:

“À noite em Santa Inês era a lua imprevisível/sobre a cidade e as almas turvas dos homens.../Indiferente à lua, as cadeiras nas calçadas/e meu pai ouvindo A Voz do Brasil no rádio enorme.”

Em INFIEL, fala dos amores...

“Amei todas as mulheres/que havia em Beatriz/... Infiel a todas elas/só não traí Beatriz”

Inúmeras definições em POESIA...

“(...) o céu, as nuvens, o arco-íris,/A própria manhã,/ não são poemas?/Talvez./Olhem o arco-íris debruçado sobre as nuvens!”

Em AUTOCRÍTICA, o poeta é cruel:

“Definitivamente tenho sido/uma biografia que persegue/seu covarde autor./E como já é tarde para refazê-la/devo, ao menos, morrer no epílogo.”

Referindo-se, quem sabe, ao tempo, em WAY:

“Entre carros e arranha-céus,/lembranças e esquecimentos/o poeta caminha devagar:/nuvens pesam sobre os ombros.”

Em CONFISSÃO, fala dos sonhos paternos e do seu destino de poeta...

“Se eram tantos os planos de meu pai (...)/Se minha mãe sonhou tanto minha vida (...)/Se de tantas reticências pontuei minha existência (...)/Eu poderia simplesmente ter vivido./Mas, empanturrado de vida, fui poeta.”

Em POEMA IMPOSSIVEL fala dos pais mortos...

“Meus pais,/já em retratos,/são silêncio.”

E continua a lembrar da infância e da família em A CASA:

“De batente alto e paredes nuas/a casa da minha infância era escancarada para o mundo.”

Maia adiante, no mesmo poema:

“(...) Era o meu pai fazendo planos/e mamãe lutando com a asma dos filhos.”

Em VIDA LITERÁRIA, critica as famosas ‘igrejinhas’ e outros ‘arranjos’ que tornam muitos literatos famosos...

“Não mudei para o Rio de Janeiro/após o primeiro livro publicado/com edição às expensas do autor./ Não formei grupos, escolas, revistas,/nem mantive correspondência/com poetas consagrados.”

Comentando sobre sua tentação literária, em ANÔNIMOS:

“Tenho compulsão pelas palavras como um alcoólatra, um fumante inveterado.”

Em SUBLIME, o poeta extrapola o lírico:

“Em azul, o céu sublima o mar;/o arco-íris, todas as cores./As nuvens sublimam a paz;/o poeta, sonhos e melancolia./ E o poema sublima o mundo.”

Em IMPERATIVO, fala de amor e tempo...

“Nunca faças juras de amor:/são imprestáveis ao tempo.”

Em REVERSO, queixa-se da sua cidade, Santa Inês:

“Santa Inês, e teus mortos?/E tua violência Tanta?/E teu calor infernal?”

Em LIVRE, novamente a figura do seu avô...

“Meu avô campeava por ofício/e alcançava a liberdade por acaso.”

Em EXISTENCIALISMO DOS POETAS, decreta:

“Estamos condenados a sonhar.”

Em CORRUPTO, define os ‘crimes de colarinho branco’.

“Um ladrão de sobretudo.”

Sua admiração por Mário Quintana, em AO MENOS UMA VEZ...

“Todo poeta brasileiro devia ler Mário Quintana/ao menos uma vez na vida.”

Falando da senectude em VELHO POETA...

“Fiquei velho demais:/a vida postou-se longe/a me olhar do passado.”

Em LARA’S THEME define como a música deve ser...

“A música deve ser triste sem ser melancólica;/deve ser alegre, sem ser eufórica.”

Abordando a morte em MENINO DURANTE SEPULTAMENTO:

“- Por que essas tumbas são grandiosas, pai?/- A morte é onipotente, filho./- E por que aquelas são humildes, pai?/- A morte não tem vaidades, filho.”

Novamente um diálogo de pai e filho, desta feita sobre poesia...

“- (...) mas o que é ser poeta, pai?/- É comer algodão doce como se fosse nuvens, filho.”

A bailarina Ana Botafogo e o beija-flor, em BALÉ...

“Ana Botafogo./o beija-flor/te imita tanto./ (...)/ E não se pode negar:/tem ele tua leveza.”

Em EXTRAVAGÂNCIAS, volta aos pais...

“Não bastasse meu pai boêmio/e a nostalgia de mamãe,/ Deus me fez poeta.”

Em EPÍLOGO, fala da morte...

“Quando só, estou comigo/e já posso morrer.”

Em ESCANDALOSA E LÍRICA, poema que dá titulo ao último livro, o sexo:

“Teu sexo forma pétalas delicadas/que se inundam no orvalho do desejo.”

E continua em ACONCHEGO:

Teu sexo/ repousa em minha mão/com o aconchego do pássaro no ninho.”

E em OASIS:

“Teus seios se oferecem em concha/à minha boca sedenta de sonhos.”

O poeta em AS METAMORFOSES DO ESPELHO, rememora Salvador Dali:

“Em Dali a realidade suspira em sonhos;/imagem pulverizada em infinitos espelhos.”

E em RENOIR:

“Renoir:/na beleza se esconde a melancolia,/ mas ninguém nota.”

CONCLUSÃO:

Assim, o poeta Weliton Carvalho fecha com chave de ouro este grande livro de poemas que engrandece as nossas letras. Seu estilo é leve e suave, seu vocabulário é simples e seus versos cintilam como as estrelas que iluminam o espírito do leitor, com o lirismo próprio da sua genialidade.

A poesia brasileira agradece; e que esta obra possa chegar às mãos certas daqueles que amam e veem na Poesia a fórmula dos sonhos, a beleza do arco-íris, os encantos do Sol e da Lua, os valores da família, da infância, as lembranças mais caras, a saudade, as reflexões da sua bela trajetória de vida, para, por fim, deixar-nos sua mensagem poética em favor do Planeta Gaya, como principal conteúdo em seus belíssimos e bem inspirados versos.

Ricardo De Benedictis

Poeta, presidente da Apolo – Academia Poçoense de Letras e Artes e presidente da Academia Serrana de Letras, ambas com sede em Vitória da Conquista – Bahia. Portal: www.apoloacademiadeletras.com.br

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 23/03/2009
Código do texto: T1502046
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