Platão x Homero

Segundo um erudito da mais alta proeminência, arguto crítico das artes literárias, no ocidente temos alguns escritores que nos é importante seus estudos, para compreender as origens das suas sapiências... Este senhor, que desfruta da mais alta posição entre os intelectuais do século vinte é, para mim, um individuo que merece respeito. Estudei sua obra por várias vezes e encontrei de fato, bastante inteligência nos seus ensaios. Todavia, descobri um propósito singular na sua prole literária critica. Em um contraponto entre Platão e Homero, ele, com estilo eloqüente, traz à luz um pensamento, que, a meu ver, não é veraz.

Depois de varias leituras da obra original do filho ilustre de Sócrates, cheguei A uma conclusão, talvez tardia, que um discípulo instruído oralmente não podia representar com legitimamente o pensamento do seu mestre. Digo isso com base em muito estudo sobre a força moral que exerce um amo sobre seu escravo. Mesmo em um contexto espiritual dos mais dignos de honra e nota, encontramos esta verdade explicita? Jesus diz para seus discípulos que eles não estão aptos para saber muita coisa que os fariam tropeçar. Um mestre generoso, por mais desprendimento que carregue concernente à vaidade, não ensina nada a mais do que seu aluno possa suportar. Portanto, não seria justo atribuir a Platão toda sapiência do seu mestre, uma vez que, para quem estuda com afinco e zelo sua “obra” fica muito fácil compreender que há discordância mesmo nos textos mais nanicos que nos apresenta seu astuto aluno.

Não é, portanto, do grego mais ilustre o pensamento de exclusão da poesia, como quer nos impor o mestre Harold Bloom. Platão, depois de empreender grandes viagens, volta com sua republica pronta, e nela não se ver, além dos textos realmente de cunho moral, a alma de Sócrates. Oralmente é claro, ele, com muito vigor intelectual e boa memória organizou e separou aquilo que, segundo ele merecia credito.

Sócrates por ser tão desprovido de vaidade e ser um profundo abismo de virtude, não queria ser responsável por um destino fatal que teria os homens ao interpretar sua obra pelo avesso. Qual é a moral do ocidente? Do cristianismo? Que poder exerce Sócrates sobre o capitalismo ou sobre religião. Estamos sucumbindo a um lamaçal moral, onde a guerra já nos foi vencida. Digo para os partidários da filosofia racional, isenta de carisma ou de ideologias. A Moral sofista contra a burguesia imperialista e contra o neoplatonismo cristão, que tem suas raízes bem fecundas no cristianismo platônico. A presença de um Deus mesmo ausente nos é necessária e aceitável. É isso que ensina Santo Agostinho. Ou, pra ser mais exato a igreja como um todo.

Na poesia de Hesíodo encontramos muita moral, e na Odisséia ou na Ilíada, nossos heróis, alguns que nos antecederam ainda valorizam uma nobreza que agregava poder e probidade. Mesmo na fúria insana de Aquiles, vale a lembra, que ele, apesar dos gestos obscenos e animalescos, pôde, por algum tempo expressar empatia pela alma humana, representada no sofrimento, na perda de um amigo na morte.

Portanto, ainda merece nossa atenção ambas as obras, mesmo a republica do discípulo Platão, que foi escopo para todos os sistemas políticos até aqui por nós experimentados. Mais viva, sobretudo a poesia de Homero, que nos remete muito mais à dignidade humana. Pois lá, em seu universo, apesar de mais poético que filosófico, temos a alma humana muita mais próxima da perfeição. Ou da imperfeição que nos é peculiar.

Evan do Carmo.

Escritor e Crítico literário.

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 17/03/2009
Código do texto: T1490823