SOBRE A "CIDADE DAS TENDAS"...
Reflexão:
O pensamento que por ora norteia este meu ensaio, é uma miscelânia de fatos perdidos no tempo.
Portanto aqui tentarei cronologicamente colocá-los na ordem dos acontecimentos.
Nos idos dos anos sessenta, quando eu ainda era criança, não me lembro bem se li ou se ouvi a seguinte frase do pensamento de alguém : "de nada adianta construir belíssimos arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles.".
Eu JAMAIS me esqueci desse pensamento/ensinamento e, embora desde muito cedo eu já mostrasse uma forte tendência à poesia e à filosofia, ainda não conseguia "maduramente" introjetar a mensagem tão forte daquele escrito.
Passei muito tempo acreditando que se tratava dos ditos populares, desses de pára-choques de caminhões.
Mas hoje, ao assistir uma reportagem muito forte, até mesmo inacreditável ,sobre a dita "cidade das tendas", assim denominada uma região da Califórnia (um dos Estados mais ricos dos USA) que alberga tendas de pessoas que perderam as suas casas para os BANCOS, vítimas da inadimplência da crise financeira...lembrei-me imediatamente do pensamento que me acompanha pela vida.
Lembrei-me dele, porque paralelamente ao comentário da brilhante jornalista de economia Miriam Leitão, fiquei estupefata com o paradoxo da ganância das instituiçoes financeiras...
A pergunta que imediatamente todos nos fizemos: para quê os bancos querem as casas de volta..se não há para quem vendê-las, e as mesmas apodrecem ao relento...vazias?
Vejam, a humanidade de fato se perde nas matérias, nas suas belas e inúteis sucatas construídas pela sua história.
Aonde foi parar a inteligência dos homens? Nas "bolsas de valores" carcomidos pelo tempo?
Sucatas dos castelos que são erguidos e derrubados ao vento...sob o sarcasmo da incongruência do Homem...e sob o grito silencioso dos desesperados...
São os arranha-céus de sempre, que sucumbem...vazios de almas..."humanas"...e que de nada adiantou construí-los.
De fato, hoje começo a acreditar que possam existir outras almas mais humanas...
A logística do capitalismo selvagem me parece com os dias contados, e nada me tira do pensamento que essa crise toda veio para nos ensinar.
Ensinar que somos um saco sem fundo de ambições, de ganâncias, de paradoxos, de mediocridade, de vaidade, de maldades sem fim...
Ensinar-nos que estamos cada vez mais perdidos dentro da nossa fictícia unipotência.
E foi assim que me reportei àquele meu tão amigo pensamento de sempre, fui à internet, coloquei-o em pesquisa e quarenta anos depois descubri sua origem: trata-se dum escrito do professor e psicanlista, hoje escritor,Luiz Alfredo Garcia Roza (Rio de Janeiro, 1936).
"Estreou na literatura de ficção em 1996, aos 60 anos de idade. Antes disso, foi professor universitário e autor de livros sobre psicanálise. Sua estréia na literatura ficcional, com a obra O Silêncio da Chuva rendeu-lhe um dos principais prêmios literários do Brasil, o Jabuti na categoria romance, com João Gilberto Noll, Fausto Wolff, Flávio Moreira da Costa" (fonte google)
Em tese: Há muito, não sou mais criança.
Hoje, quase finda a primeira década do século vinte e um, somos quase o mesmo homem das cavernas...com a diferença que aqueles eram menos premeditados...mais instintivos.
Hoje, somos o Homem moderno, cujo "simbolismo humanitário", jaz sem rumo, sob a figuração das "tendas", erguidas sobre as sucatas dos arranha- céus...que sucumbiram vazios de amor.