Divagando sobre perdas e felicidade

O que é perda? O que poderíamos considerar como perdas?

Perda: Ato de perder. Desaparecimento; extravio. Desgraça; destruição. Prejuízo.

Eis o que o encontrei como perda. Somente a negatividade. Perder é uma ação que causa um sentimento negativo. Claro, quem sofre essa ação se sentirá feliz? Bom, temos os adeptos do ascetismo e os masoquistas. Esses eu não quero considerar, pois acredito fogem a regra do que seja “normal”, na natureza humana. Penso que a natureza humana, nada mais é que uma constante busca pela felicidade e fuga da dor, embora tenham nos feito em muitos momentos da história crer o contrário. E também em muitos momentos fizeram com que acreditássemos que deveríamos “gostar” de sofrer aqui, para que pudéssemos usufruir eternamente o gozo angelical...

É sabido que estamos em um planeta cuja perfeição moral e espiritual está muito aquém do ideal, sequer vislumbramos o que seja essa tal perfeição, felicidade suprema. Tudo fica no campo da imaginação, do que nossa sensação pode captar e ao invés de ir até esse estado, trazemos esse estado até nós. Então felicidade e perfeição passam a ser a crença daquele que melhor definí-la. E aí surge uma grande competição entre o que melhor definirá o que é ser perfeito, o que é ser feliz! Esse estado que está em nossa mente, somente lá, passa a se relativizar. Principalmente agora na modernidade que o bem supremo foi substituído por a vantagem de cada um. Estamos sem valores. Estamos sem âncoras, acredito que estamos no estado próximo ao que Hobbes descreveu: homem, lobo do homem.

Desse estado desesperador surgem várias religiões, seitas, filosofias, pensamentos. Todos em busca da verdade, aquela que preenche nosso ser. Só que já não quereremos mais esperar pela outra vida, queremos ser felizes agora. As religiões multiplicam-se, e nessa grande diversidade ganha a que melhor comercializa suas verdades. Às vezes penso que se Sócrates, Platão estivessem aqui, estariam de novo criticando os sofistas. Estamos numa época de sofistas.

E a felicidade? Onde encontrá-la quando somente temos perdas?

E voltamos ao início: perdas. Não há como conciliar perda e felicidade... Felicidade é um estado de espírito, perda é a “confiscação da materialidade ou da tranqüilidade de espírito”. Como ser feliz em um planeta que constantemente coloca-nos diante da perda?

Com toda certeza muitos disseram: A felicidade não é deste mundo!

Sinto informá-los, mas discordo totalmente. Somos seres racionais, a felicidade assim como todos os sentimentos são afecções da “ alma” , da mente. Sei que essa equação não é simples, embora lógica. Qual lógica? A puramente matemática.

Sei que vai soar como ingênuo, simplista, óbvio até. Mas de acordo com Aristóteles, a sapiência por ser necessária, perfeita, sempre terá que ir em busca dos seus princípios e causas. Se formos em busca pelos princípios e causas que nos levam à felicidade, no mínimo encontraremos um resultado totalmente contrário à perdas. E ir em busca desses princípios e causas, é o tirar máscaras, desvencilhar de tudo o que não é necessário, desapegar-se do que é supérfluo, do que aprisiona, ter a coragem de como Sócrates disse: Conhecer-te a ti mesmo.

Como eu disse parece ingênuo e simplista. Mas quem em algum momento teve coragem de se olhar, com certeza inicialmente levou um grande susto, não gostou do que viu, pois o que viu não era o que pensava ser. E se alguém conseguiu transpor essa barreira que nos leva ao natural encolhimento, foi percebendo que mesmo não sendo o que se pensava, existia a possibilidade de crescimento, de conhecimento de si... E como dizem os pensadores, quanto mais nos voltamos para dentro, mais olhamos para fora, mais percebemos que eu e o outro somos os dois lados da mesma moeda e que para essa moeda ter valor, ambos os lados devem ser cunhados com transparência, precisão, nitidez.

Logo, à medida que livro-me de fardos desnecessários vou percebendo que o que eu considerava perda, nada mais era que uma super valorização de algo que me aprisionava, quer seja material, quer seja espiritual. E à medida que vou desprendendo-me, desapegando-me, vou também libertando o outro...

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 09/03/2009
Código do texto: T1478323
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