Sobre cometas, luz e firmamento

13/07/03

Hoje prometia um lindo dia. O céu estava típico de inverno, com lindas nuances e nuvens, o sol aquecendo suavemente: era domingo. Eu estava só! Meus filhos saindo do ninho, porém, milagrosamente não sentia a síndrome do ninho vazio; ao contrário, percebi que poderia ser a grande chance de começar a repensar minha vida, colocar novos objetivos, sonhos. Afinal esse fora um momento muitas vezes na minha vida sonhado, esperado. Com tudo necessariamente certo, a vida seguindo o seu curso, e eu podendo agora escolher, parar, viver...

Contudo, algo pululava dentro de mim. Eu estava só não por opção de estar só. Nunca fora uma pessoa sozinha, mesmo que em muitos momentos eu escolhera ficar só, eu sentia-me rodeada de amigos próximos; a qualquer momento era só um toque, uma caminhada, uma volta em um circular... Mas agora era diferente, quem compartilhava comigo meus momentos? Isabel, minha psicóloga, Dra Rosário minha nutróloga, anjos encarnados que constantemente fazem sentir-me que Deus ou a espiritualidade colocou-as em minha vida para proteger-me e ensinar-me a seguir essa nova etapa de minha vida de resgate e retomada de trilha, e também, reencontrei a Neusa, amiga e irmã de velhas jornadas. Tem também algumas outras pessoas que sinto muita afinidade, mas que no momento precisamos de distância.

Levei Patty para o passeio matinal. Caminhamos bastante e na volta a dúvida esperava-me na esquina. Lembrei-me de quantas vezes eu andara com a Vânia, quanto eu conversara e rira com a Vera, Lica, Gisele, Maria Helena, Ana, e muitas outras pessoas que prometiam grandes amizades, grandes momentos de troca, sem contar com os inúmeros amigos do sexo masculino que tive ao longo de minha vida. O que acontecera? Por que nos afastamos? Quem se afastara? Alguns é claro, a mudança geográfica fizera com que ficassem lá dentro de nossa concha da memória, são o que eu chamo de pérolas negras. Estão lá, protegendo e embelezando momentos dantes vividos.

Mas e os que às vezes tropeço e só um sorriso, um cumprimento? Será que eu já não conseguia mais me relacionar com ninguém? Será que nessa nova etapa de minha vida restava-me somente a Patty para confidências e o micro?

Já embarcando numa deprê, ao invés de uma escala de viagem, cheguei em casa e fui lavar louça. Estava com o firme propósito de não ligar a TV, conectar-me. O máximo que eu faria hoje era ouvir música, fazer meus tapetes de fuxico, ler e pensar, pensar, pensar... Mas do jeito que eu estava indo, com toda a certeza terminaria meu dia em prantos.

De repente o telefone não pára de tocar, minha mãe, o Guilherme Augusto, engano, e finalmente a Neusa. Fiquei muito feliz, poderia conversar um pouco, quem sabe não poderia ser a oportunidade de sair desse buraco que estava me enfiando...

Conversamos sobre o espiritismo e é claro, fui falando de minha briga com a religião, de todos os motivos racionalmente elaborados e comprovados. A Neusa nem se abalou, dava para perceber no telefone. Parecia que ela tinha uma mensagem para mim. Por mais que minhas argumentações fossem logicamente aceitas, existia no ar alguma coisa que eu não estava percebendo. Ela contava exemplos quase semelhantes ao meu, mas eu estava inflexível. Até o momento que ela disse que eu não fosse tão crítica, que eu aproveitasse o que me servia na doutrina e o que eu não achava que fosse para mim, eu deixasse de lado, para que eu deixasse de sofrer tanto. Disse também que muitas pessoas deixaram de fazer as coisas em sua vida por serem críticas demais...

Nesse exato momento vieram todos os desafetos que realmente marcaram minha vida. Elas realmente passaram como um cometa, iluminando por onde passa, mas que fixar é apagar-se. Um cometa deixa de brilhar quando pára. Essas pessoas ajudaram-me com seu brilho a perceber e sentir a necessidade de desatar alguns nós nunca antes percebido. O brilho dessas pessoas foi realmente importante para que eu pudesse perceber o quanto apagada eu estava ficando, o quanto eu estava à espera de cometas para poder acender-me. Talvez eu ainda tenha chance de mostrar a algumas pessoas a importância que elas tiveram em minha vida, talvez, outras se lembrarão de mim através de outros encontros e entenderão o momento em que me encontrava, mas com certezas, outras simplesmente passaram...

Saí do buraco! Sim, e com uma certeza que nessa escala de viagem, re-descobri que em nossa vida muitos cometas passam, mas se não nos deixarmos ofuscar pelo brilho deles, poderemos descobrir que somos uma estrela brilhando num firmamento cheio de estrelas. Cada uma com seu brilho ajudando e orientando outras estrelas a descobrirem seu brilho depois dos cometas. E que também os cometas são muito importantes, pois muitas vezes é do brilho deles que conseguimos ver a grande escuridão em que nos metemos. E mais que tudo: Só conseguimos acender nossa luz, quando refletimos através dela todo o firmamento e nesse exato momento nos sentimos o próprio firmamento.

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 06/03/2009
Reeditado em 06/03/2009
Código do texto: T1472520
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