Breve Ensaio sobre a Vontade Espontânea
De todas as vontades que temos a mais verdadeira e que reflete melhor o que realmente queremos é aquela que é fruto do impulso, pois ela ao contrário das demais não passam pelo julgo da razão nem pelas quiméricas mãos dos sentimentos, elas são externadas da forma que foram geradas e são frutos do nosso verdadeiro eu, e como tal vem a tona de forma tão espontânea quanto realmente somos, pois o que nos prende a revelar nossos desejos não somos nós mesmos, mas sim o receio da censura alheia, prova disto é que quando estamos com aqueles que não nos censuram nos sentimos livres para confessar todos os nossos desejos e vontades, dos mais desvairados aos mais comuns, mas quando estamos frente a outrens que nos inibem ou daqueles que mal conhecemos, tendemos a ocultar e a castrar as vontades vindas do impulso temendo que sejamos mal vistos ou taxados de algo que não gostaríamos.
Em relação as outras vontades, todas elas, não refletem a real natureza de nosso ser, seja ela pura como o leito de um belo rio, seja a maculada pelas tormentas, pois estas passam por tantos enxertos e podas que no fim tem apenas um mero esboço, em muitos casos quase irreconhecível, de nossa verdadeira vontade, e além dessas, existe um tipo peculiar de vontade, aquela que é gerada apenas por nossa razão, assim como um pote de argila que é moldado apenas por nossas mãos que são guiadas por um plano estabelecido por nossa razão, o inverso se tem nas vontades espontâneas que são moldadas apenas por nosso inconsciente que seria como o mesmo pote de argila que é moldado de forma livre, sem um mapa criado pela razão, deslizando apenas por nossas mãos. Esse tipo peculiar de vontade tem uso único e exclusivo nos joguetes da vida, seja para fingir, seja para ajudar, seja para tentar odiar.
No tocante a fingir pode-se ter como exemplo a vontade que simulamos ter para satisfazer o outro, ou seja, quando o parceiro está doudo para ter um momento íntimo e o outro não quer, mas cria a vontade, simulando-a como se fosse verdadeira com o único fim de satisfazer seu parceiro, em relação a ajudar, muitas vezes vemos alguém perante nossos olhos pedindo esmola, não temos a menor vontade de ajudar, mas no fim, algumas vezes, criamos a vontade de ajudá-lo muitas vezes por mero desencargo de consciência, e outras vezes alguém nos faz um mal e não queremos mal a esta pessoa, mas as vezes por julgarmos que este sentimento é um tanto estranho, já que o normal seria o inverso, criamos uma vontade negativa, tentando odiar tal pessoa. Nestes três casos não há a vontade, mas mera simulação.
Não se tem como dizer qual deles é o melhor, depende da oportunidade e também das conseqüências que se gerarão da expressão dessa vontade, ou simulação desta vontade, no fim das contas, o bom senso deve sempre nos guiar no que se refere a externar ou não esta vontade, mas nunca no sentido de moldá-la, pois se corre o risco de se moldar essa vontade a tal ponto que no fim ao se realizar não trará o mesmo resultado, ou satisfação que seria sentido se ela fosse exposta em sua forma inalterada, ou o mais fidedigna possível.