Flores do tempo
A tarde calma entoa os doces sons dos pássaros que estão pousados nas árvores próximas. As pequeninas flores brancas balançam faceiras com o suave zéfiro da tarde de outono.
Uma rua deserta diante dos meus olhos, vejo a saudade descendo-a, vagarosamente, sem pressa alguma de chegar, sem compromisso algum; não a chamei, mas ela vem. Vem sem pedir licença, eis que se aproxima.
Muitas vezes recebi sua visita, algumas vezes forte, arrebatadora, outras ocasiões enlouquecedora, hoje ela veio assim, suave, sedutora, convidando-me a dar uma volta nas ruas próximas.
Vou com ela. Parecemos dois velhos companheiros que fazem uma caminhada matinal, falamos de tantas coisas, tantas generalidades. Parece que nos esquecemos do tempo, que em nossa vida só houve acontecimentos prazerosos.
De tempos em tempos, chegamos juntos a um muro ou banco de jardim e instintivamente nos assentamos. Lembramos-nos dos nossos tempos de crianças, da escola, dos professores, dos amigos e das pessoas que conviveram conosco.
Lá pelas tantas a saudade menciona o nome de um grande amor que me deixou mal-curadas feridas. É o ínicio de nossa contrariedade, repentinamente me levanto, enquanto ela insensível menciona os detalhes de minha antiga paixão, e conseqüente rompimento doloroso. Ao voltar seus olhos para mim, a saudade encontra nas minhas feições a reprovação das suas insensatas palavras.
Brigamos, discutimos, discordamos violentamente. Agora, a certeza de que seremos eternos inimigos, de que não nos entenderemos, afinal, não se pode lembrar das flores do tempo.