Eram os Beatles Inconfidentes?
ERAM OS BEATLES INCONFIDENTES?
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA É O JOHN LENNON DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Cláudio nasceu em Mariana, princesa encantada das Minas Gerais, cercada de montanhas pétreas que ele iria cantar em liras futuras. John Lennon nasceu duzentos e tantos anos depois, numa típica cidade operária inglesa, Liverpool.
Contador, advogado, poeta carismático, é em torno de Cláudio que fecunda aquilo que vai desaguar na tragédia da Inconfidência Mineira. Lennon torna-se o bardo pacifista que encantou a geração “Paz & Amor”. No baralho poético, Cláudio e John são representados pelo Ás de Ouro, que simboliza riqueza, valor e clareza. Humanismo, inteligência e coragem são fatores comuns em suas obras. Cláudio dizia: “Liberdade ou nada!” e Lennon pediu uma chance à paz. Velhos tempos!
Infelizmente, o segundo traço que lhes é comum é o desfecho sombrio de suas biografias. Cláudio foi preso quando estourou a Inconfidência e foi covardemente suicidado nas prisões de Villa Rica. Seus restos mortais e de sua família nunca foram achados. John Lennon foi assassinado em 1980, por um fã ensandecido. “Um rei sempre acaba morto por seus súditos”, ele dizia.
Influenciaram seus pares, plantaram amores longos. O sonho acabou? Os pesadelos continuam. Choram Nise e Yoko, musas de todas as horas. Yeah, yeah! Dê uma chance a Cláudio.
ALVARENGA PEIXOTO É O RINGO STARR DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
O capitão Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro. Ringo Starr entrou de gaiato no navio. Os Beatles já eram um embrião quando o baterista caladão veio substituir o anterior, que havia dado piti. No baralho poético Ringo e Alvarenga são representados pelo Ás de Copas, que simboliza a discrição e o voluntarismo – sem egos inflamados.
No caso de Alvarenga, soube conviver com os gigantes da Poesia Árcade (Cláudio e Tomás), sem ser um poeta menor. Sua obra, embora irregular, é pontuada por diamantes poéticos de rara sensibilidade. Ringo, em situação mais desconfortável, vivia dentro da fogueira das vaidades. Afinal, seus pares (John, Paul e Harrison) são considerados semideuses do rock mundial.
A importância de pessoas menos egocêntricas, mas de competência insuspeita, é fundamental para que qualquer grupo caminhe. A figura de postar meio voadão não corresponde ao trabalho essencial de Ringo Starr. Sua batida melódica foi linha mestra e iconográfica para bateristas de todo o mundo.
Alvarenga, nosso conterrâneo, marcou a sua época como poeta árcade, revolucionário, administrador idôneo e bom amante. Sua musa, Bárbara Heliodora, foi cantada mundialmente e eis aqui um árcade que não tinha o umbigo na testa.
Ringo/Peixoto/Alvarenga/Starr... Isso é castigo que Amor me dá?
TIRADENTES É O GEORGE HARRISON DA
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu no sítio do Pombal em Minas Gerais, na região do Rio das Mortes. George Harrison nasceu em 1943, na interiorana Liverpool inglesa. Tiradentes foi criado perambulando, mascateando e acabou alferes do Regimento dos Dragões de Minas. Harrison, com 14 anos entrou para o rock e aos 17 já pertencia à banda mais famosa de todos os tempos: The Beatles.
No baralho poético, Harrison e Tiradentes são representados pelo Ás de Paus, que simboliza a ecologia, a timidez, a bravura. George teve câncer, que o fulminou no final de 2001. Tiradentes enfrentou a morte, literalmente, com o nó na garganta, posto que foi enforcado em 21 de abril de 1792, aos 46 anos de idade. Dois lendários, dois místicos. Dois ícones do seu tempo.
Esquartejado, o corpo do Alferes foi exposto nos lugares onde fez pregação. George cantou: “Todas as coisas passarão” e foi uma bela cabeça aberta para o oriente. Como uma canção dos hippies ou um poema barroco. “A conspiração teria, sem dúvida, resultado em prisões, as não teria conseqüências maiores, não surgissem entre os árcades um complicador. Surgiu, em suma, um herói que não tinha nome arcádico, gado ou lavoura. Ele não teria acesso a esta ou qualquer academia e nem se elegeria em nenhuma delas. Era desses homens que primeiro ficam sozinhos, para viverem depois, para sempre no dia-a-dia da vida de um povo”(...). Estas palavras do mestre Antônio Callado definem bem Joaquim e Harrison. Tiradentes, o insurreto, pediu dez vidas para salvar seus companheiros. Tranqüilo, George Harrison foi ver seu doce senhor. Quando se apagam estrelas como estas, é como se o sonho, infelizmente, acabasse mais uma vez.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA É O PAUL McCARTNEY DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Ardiloso, cosmopolita e, principalmente, talentoso, o encontro de Tomás Antônio Gonzaga com Cláudio Manuel da Costa acelerou dois movimentos históricos: político e literário. Dizem que Paul McCartney é o beatle caretão. Nesse sentido Gonzaga também foi o encenador de uma poesia exuberante. Cláudio serio John Lennon? Bala na agulha eles tinham. Lirismo também. Alvarenga Peixoto serio o baterista dos inconfidentes. O que restaria para associar ao místico George Harrison? Certamente Tiradentes (Talento, Dignidade, Bravura e Amor).
Notas fúnebres: Tiradentes foi enforcado no dia 21 de abril. Cláudio foi suicidado na prisão. Lennon foi assassinado no jardim do Central Park. Paul McCartney passa bem. Alvarenga Peixoto não toca mais canções para Bárbara Heliodora. Gonzaga morreu no exílio, em Moçambique. Ringo Starr manda lembranças. O beatle George Harrison não venceu o câncer e morreu no final de 2001 meio triste, meio tímido, sempre pacífico. George foi buscar no seu “doce senhor” a paz e o amor que ele cantou para nosso deleite. Um fã escreveu uma faixa em seu funeral: Talento, Dignidade, Bravura, Amor.
Textos: Osmir Camilo Gomes