O SINAL DA CRUZ
“Cada gesto é um rito” (Teresinha Colleone).
O ato de ir a Santa Ceia (a Missa) pode se tornar “mecânico” quando, por falta de interesse ou até mesmo total desconhecimento, os católicos deixam de apreciar e viver tudo aquilo que a celebração representa. Mais do que uma cerimônia religiosa, a Missa é o milagre de Jesus iniciado na última ceia quando, diante dos Apóstolos, Ele transformou o vinho e o pão em Seu Corpo e Sangue.
Todos os católicos conhecem muito bem o ritual da missa, pois ela tem dinamismo próprio, e algumas vezes é preciso ficar em pé, outras sentar-se, ouvir a leitura ou cantar. Como disse certa vez Adélia Prado, uma das maiores poetisas do Brasil, “a missa é a coisa mais absurdamente poética que existe. É o absolutamente novo sempre”. Como não ficar estarrecido ao celebrar uma missa do Santíssimo Sacramento no qual o Deus-Poeta olha em nossos olhos e diz: “eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor” (Os 11,4); “amei-te com amor eterno” (Jr 31,3) ou ainda “vê que escrevi teu nome na palma da mão [...] tenho sempre diante dos olhos” (Is 49,16) e continua “guardo-o como a pupila de meus olhos” (Dt 32, 10). Assim é o rito, ele se assemelha ao dedo que aponta para a Lua, mas ai daquele que confunde o dedo com a Lua.
O fato dos católicos não entenderem a sua Fé Celebrada (a Missa), deixa-os constrangidos quando são interpelados por outros cristãos, quando estes afirmam que as orações deles são pré-fabricadas e não falam com Deus como um amigo, e o que é o pior: a Missa não possui fundamentos na Sagrada Escritura. A Divina liturgia está baseada nas Escrituras. Isso é verossímil, pois praticamente todas as orações; hinos; respostas e rituais estão saturados de imagens, temas e citações da Bíblia. Em todos estes momentos a Palavra de Deus é ressaltada em sinais, gestos, palavras e cânticos.
O gesto ritual mais básico que se faz no início e no final de cada Celebração Eucarística é o sinal da cruz. Por isso, toda ela é dirigida a Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. No entanto, esta oração tão simples não significa que é um mero ritual vazio de significado. Ao fazer-se o sinal da Cruz, consuma-se um ato bíblico sagrado, ou seja, invoca-se o nome do Senhor.
Na Sagrada Escritura, toda vez que alguém invoca o nome do Senhor, torna este momento grandioso, isto é, na História da Salvação, significa renovar a aliança com Deus, e que Ele aja na vida de quem o invocou, e expressando o firme compromisso de viver em aliança com Ele (Gn 4,26; 12,8; 26,25; 1Rs 18,24,32). Deste modo, os Católicos ao invocar o nome de Deus, pede-se que a Santíssima Trindade entre em sua vida e consagre tudo o que se faz na Missa ao seu Santo Nome.
O sinal da cruz possui raízes bíblicas, que fundamenta-se no profeta Ezequiel, como proteção divina. Deus deu ao profeta a visão do julgamento que recairia sobre Jerusalém por causa da sua idolatria. Nesta visão, os judeus fiéis que foram marcados na fronte com a letra hebraica (tau) seriam preservados no dia do julgamento (Ez 9,4). É significativo que desde o Antigo Testamento, esta letra cuja forma era a de cruz, denota uma aliança selada com Deus, e consequentemente, sua proteção divina.
Esse gesto repete-se no Novo Testamento. Com base na visão do profeta, o livro do Apocalipse também descreve os fiéis servos de Deus como marcados na fronte com o selo da Nova e Eterna Aliança. Este selo separa os filhos de Deus e protege-os do juízo final que caíra sobre a Terra (Ap 7,3).
Portanto, esse contexto dá uma significância ainda maior ao ritual católico do sinal da Cruz. A pessoa ao se tornar cristãos, no Batismo, é marcado com sinal da Cruz no momento em que o padre traça o sinal de Cristo em seu corpo. Assim, ao repetir na Missa este simples gesto, novamente se traça sobre si, o mesmo sinal com que fora marcado no início de sua vida cristã. Procedendo desta forma, recorda-se que foi separado por Cristo, e também renova-se o compromisso de viver em união com Deus, tentando manter a proteção Dele sobre sua vida.
Quod scripsi, scripsi