O processo criativo da poesia
Escrever poesias para mim é algo essencial. A poesia tem cada vez maior lugar em meus objetivos, como necessidade vital.
Algumas pessoas me perguntam como é o meu processo criativo. De modo geral é assim: alguns poemas nascem como por encanto, fluem da mente para o papel com facilidade, aos borbotões, mas por trás disso sempre há algum acontecimento ou vivência que me marcou. Em momentos de crise, nascem algumas belas idéias, talvez as melhores. De outra forma, há poemas que demoram muito tempo para plasmarem-se, tenho que trabalhar árduamente para criá-los e aperfeiçoá-los - são mais "transpiração" que "inspiração". De qualquer forma, são sempre resultado do empenho de muita energia. São como filhos, que tem o seu processo de gestação, formação, até o nascimento. Cada um tem a sua alma, que é o que sempre tento passar subjetivamente para quem me lê, mas na verdade eles são feitos não para os outros, senão para mim, pois são frutos de mim mesmo.
Faço minhas as palavras do poeta brasileiro mais lido, J.G. de Araújo Jorge, com quem muito me identifico:
"Quando estou demasiado ocupado com os sentidos, não tenho tempo para a palavra. Mas a verdade é que, enquanto vivo, vou me "carregando" de emoções. O "eu" vai ficando tenso, acumulando nuvens como um céu de verão e, um belo dia, imprevistamente, cintilam faíscas de idéias e a criação é como uma chuva interior, desanuviando o espaço e fecundando a terra.
Após escrevê-los (os poemas), me sinto limpo, claro, aliviado, como o céu depois de um temporal.
Outra coisa: o ato de escrever, em mim, é sempre imprevisível. Não tenho hora nem lugar para escrever. Nunca sei verdadeiramente quando vou escrever. Normalmente, minhas horas de escrever são à noite, pelas madrugadas, no silêncio do mundo que dorme seu sono múltiplo e infinito ao redor.
O ato da criação é um desabafo, um transbordo, surge como uma necessidade insopitável de auto-confidência. Nem sempre escrevo quando tenho tempo. O fator tempo não tem a menor relação com o ato da criação. Às vezes, quando aparentemente não tenho tempo, é que escrevo.
Escrevo quando preciso. Escrever é uma necessidade funcional, e quando ela se manifesta sou compelido à sua realização esteja onde estiver, seja qual for o momento."