chove.
sobre a chuva, sempre tive esse mesmo sentimento sobre ela.
desde que sou pirralha, me lembro eu, uns 6, talvez 7 ralos anos cheios de auto-consciência, correndo direto pro playground, durante aquelas chuvas fenomenais de verão. dia quente, bafo subindo dos azulejos cinza do play, e aquela aguaceira maravilhosa, gelada, caindo na minha cara infantil de satisfação e desejo contemplado de criança.
sempre que chovia, era a mesma coisa!
não me espanta que seja assim até hoje. que a menina de cachinhos dourados tenha apenas engordado alguns kilinhos e começado a fumar cigarro - coisa que nunca deveria ter feito!
mas não se engane quando falo assim da chuva, leve e quase etérea. meu real sentimento sobre ela não é divertido ou recreacional, é com muita seriedade que vejo as nuvens crescerem, juntarem-se a outras, e precipitarem. com certa reserva talvez... sinto-me um indivíduo da idade média, antes da Virada Copernicana, que contempla esses fenômenos e simplesmente congela.
como não tremer diante da magnificência não só da chuva em si! do trovões, dos resmungos gravíssimos que se ouve "do andar de cima" quando os vizinhos não estão lá muito felizes... como não se sentir pequeno, e desimportante, perto dessa água indolente que cai do céu no meio do seu feriado? assim, sem que nem ao menos pudesse ser prevista pela Metereologia...
e ao mesmo tempo, mesmo que seja na Violência em quem residem as tempestades, a chuva consegue fazer a gente olhar pra dentro. - e olha, ela tem mãos delicadíssimas!
a chuva faz ver como chovemos todos nós, ao avesso. e que todos temos escuros dentro da gente.
as pessoas odeiam os pingos que encerram seus domingos, porque precisam não olhar pra dentro. precisam permanecer os mesmos, imutáveis, inassombráveis, e imbatíveis.
na verdade, as pessoas... não sabem de seu tamanho.
agem com o Ego, nunca com o Self, e não sabem aceitar esse nosso corpo multifacetado. não entendem a dança, a música, a espiritualidade... querem raciocinar o mundo!
e é só olhar pra cima, aquele teto-preto se fechando em cima do terno Armani... e entender que seu intelecto não te salva da chuva, como também do vento, ou do frio. e desse karma, correm pra casa... a Natureza é inalienável.
nós não.