Sobre a verdade
Eis um assunto que não consigo resolver. A verdade. Ela é o que é ou o que alguns de meus sentidos dizem que é. Ou a mente. Porque, se colocarmos dez pessoas presenciando um fato e cada uma delas puder narrar a experiência imediatamente sem ouvir a do outro, teremos dez histórias diferentes. Porque a verdade não consegue escapar dos olhos de quem vê. Ou da boca que conta. Ou da mão que escreve. Ou da mente que reflete. Hoje mesmo me envolvi em uma situação em que não dá para definir a verdade. Fui chamada para ser juiz, mas nada pude ajuizar. Uma chora a outra sapateia exibindo suas fraquezas. E eu acabei dançando na história. Se é impossível estabelecer com um mínimo de racionalidade onde a Verdade se escondeu é melhor deixar para lá. Mas o fato é que fiquei triste. Porque cada uma imaginou que estava certa e a outra errada. Nenhuma das duas foi capaz de calçar os sapatos da outra para ver onde apertavam. E o que era nada se transformou em tempestade. Quanto a mim, protegida pelo bom senso, só restou esperar a bonança chegar. Confiando no ditado. Mas pagando o preço de ver as fraquezas alheias expostas de forma ridícula. E isso é imperdoável.
Penso também nas histórias que conto. Teriam elas realmente acontecido assim como as conto ou seguem o padrão de um outro ditado. Quem conta um conto aumenta um ponto. E esse ponto aumentado é consciente ou não? Eu o aumentei apenas para tornar a história mais cabível no contexto literário ou porque ao aumentá-lo acreditava que realmente era verdade. Ou simplesmente a minha mente transformou a fantasia em realidade e agora não há mais como desfazê-la? Teriam sido os fatos tão interessantes como minha memória teima em afirmar ou foi minha alma de poeta que transformou em pétalas de rosas farelos de pão?Embora eu goste mais de farelos de pão do que de pétalas de rosa. Mas são diferentes.
E este mundo novo, sobre o qual temos tão poucas experiências, o mundo virtual? Onde está o que é verdadeiro nesse mundo, como fazer a diferença entre verdade e mentira? Eu, do lado de cá e você aí, quem somos realmente ? Somos o que mostramos ou mostramos o que não somos? Ou somos apenas o que um quer que o outro seja, fantasia que alavanca esperanças. Você olha minha foto e imagina que eu sou o que talvez eu não seja. Você nem mesmo pode garantir que esta foto é minha. Que o nome que digo ser meu não seja de minha avó. Que sou quem digo ser, que faço o que digo fazer. Nem eu a seu respeito posso garantir nada. No entanto o que mais importa: a verdade verdadeira ou verdade que se supõe verdadeira?
O mundo é uma grande ilusão. Não sei se estou vivendo ou sonhando que vivo. E também não sei se isto tem a menor importância. O importante mesmo é viver e nesta vivência fazer o melhor que se puder para ser feliz. Principalmente sabendo que a minha felicidade não está no outro, mas em mim. E sendo feliz, respeitar a felicidade alheia. Aquela velha história: O meu direito termina onde começa o seu. Ai, dá para continuar :enquanto se espera encontrar a verdade verdadeira, viver a verdade que se acredita verdadeira.