Sobre Teístas e Ateus

Acreditar ou não em Deus é uma questão meramente de fé. Portanto, teísmo e ateísmo são pólos opostos em nível equivalente. A diferença básica do teísta para o ateísta é a mesma que existe entre alguém que gosta de melancia e alguém que não gosta. É apenas, com o perdão da redundância, uma questão de gosto.

Observamos atualmente, de um lado teístas que consideram ateus seres inferiores, egoístas materialistas e amargurados com a vida, pobres coitados que não tem grandeza espiritual o suficiente para notar a presença do criador em todas as coisas. Do outro lado, temos ateus que consideram teístas pobres coitados dominados pela alienação, que precisam da crença em um ser invisível para mascarar suas fraquezas e incapacidade de enfrentar os problemas da vida por conta própria. Uns consideram os outros tolos, talvez sejam ambos igualmente dotados de tal defeito.

Podemos dizer sem medo de errar, que a questão da existência ou não de Deus nunca terá um fim, Pelo simples fato de que ambas as hipóteses são paradoxais. Antes de continuar, é preciso ficar claro que ao falar de Deus, não me refiro ao Deus judaico-cristão nem a nenhum outro em particular, e sim a um planejador inteligente da criação, seja qual for sua forma. Primeiro, suponhamos que Deus não existe. Como ficaria então a posição de quem acredita nele? A primeira e mais obvia das conclusões a serem tiradas é a de que muitos destes jogaram uma vida inteira fora, pois se Deus não existir, para que serviram todas as guerras, conspirações e massacres feitos em seu nome? Há quem não beije antes do casamento pensando agradar a Deus com tal gesto. Quanto tempo, esforço e palavras perdidas. A inexistência de um planejador inteligente da criação como acima citado, não contraria nada que a ciência descobriu até hoje, pois não existe nenhum fato no universo que não possa ser atribuído ao simples acaso, por mais inteligente e proposital que este pareça, sempre haverá a probabilidade de ter sido obra do acaso. Assim como nenhum grande fato atribuído a Deus foi provado sem deixar margens para duvidas, seja por estarem perdidos nas malhas do tempo, seja por faltarem quaisquer outros tipos de evidencias indispensáveis.

Analisemos agora a 2ª hipótese: Deus existe. Se deus existir, se existir um grande arquiteto do universo, uma planejador inteligente, isso também não estaria contra nenhum conhecimento dominado pela espécie humana na atualidade. A ciência não consegue explicar muitos fenômenos presentes no universo, conforme citado, todos poderiam ser obra do acaso, mas nada impede que pudessem ser também obra de uma força criadora inteligente. Não temos provas de nenhuma das duas hipóteses sobre Deus, apenas evidências e argumentos. Está claro que a idéia da existência de Deus surgiu inicialmente da ignorância do homem em não saber explicar fenômenos naturais simples como trovões e a passagem do dia para a noite e essa idéia foi evoluindo a medida que as necessidades do homem mudaram, prova disso é o sucesso de denominações evangélicas neo-pentecostais que exploram a fraqueza do homem perante os apelos materiais.

Alguém certa vez disse que a religião de uma época é motivo de risos da época seguinte. Essa é uma verdade que podemos ver confirmada através dos tempos. Os deuses de uma época são sempre vistos como infantilidade pelos que vêm depois, assim como as necessidades, usos e costumes dessa época. Na idade média, existiam pessoas capazes de dar grandes somas em troca da salvação da sua alma, hoje, as pessoas riem disso, mas fazem coisas igualmente ridículas, como dar tudo que possuem em um templo achando que Deus irá multiplicar e dá-las novamente em recompensa.

Voltando ao assunto principal, o fato de Deus ter surgido da ignorância do homem não exclui a idéia de sua existência. Tanto é que são raros os ateus que conseguem discutir com argumentos realmente bons a existência de Deus fora do plano religioso. E isso não é um desafio, apenas uma constatação. É muito fácil refutar a existência do Deus bíblico, porém a coisa muda de figura quando o foco é alterado para uma discussão cientifica ou filosófica. E a explicação para isso é que se Deus existir, seus atos, motivações e planos estariam simplesmente acima da compreensão humana. E a explicação para isso é que se Deus existir, seus atos, motivações e planos estariam simplesmente acima da compreensão humana.

Para tornar a questão mais clara, tomemos o seguinte raciocínio. Consideremos um ateu que afirma não acreditar em Deus por que não existem provas cientificas da existência do mesmo. Para a ciência provar algo, este algo precisa ser explicado em todas as suas nuances, em outras palavras, precisa ser medido, pesado e examinado de todas as formas. Ora, se Deus existir, ele é infinitamente superior ao homem em qualquer uma das qualidades conhecidas por este. Então, se a ciência o desvendar, ele se resumirá a apenas uma força que pode ser explicada através de leis constantes, como a gravidade, deixando então de ser Deus.

Em virtude disso, se Deus não existe, isso não pode ser provado, e se existe, também não pode ser provado. Resumindo tudo, podemos dizer que tanto o teísmo quanto o ateísmo são simples questões de fé. A ciência e a razão fornecem argumentos para ambas as correntes. Um individuo que se deixasse guiar apenas pela razão e a ciência diria ao ser perguntado se Deus existe: “não sei, não há provas para nada”. Um indivíduo guiado pela fé pode dar duas respostas, “sim” ou “não”. O que dirá sim será o teísta, o que dirá não será o ateu. Aquele que se coloca fora da esfera da fé, será o verdadeiro seguidor exclusivo da razão. Se alguém assim existir, só terá certeza de uma coisa: com relação a Deus não se pode ter certeza de nada. Por uns não poderem refutar definitivamente os outros, teístas e ateístas tendem a estar sempre a travar combates de idéias, jamais um convencendo o outro de seus pontos de vista. Por serem árvores firmadas no mesmo tipo de terreno. Uma idéia que parte de certos pressupostos e evidências, sendo solidificadas pela crença direcionada para uma ou outra corrente.

Ian González

Ian Morais
Enviado por Ian Morais em 29/01/2009
Reeditado em 29/01/2009
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