O Mondrongo (crônica bêbada)
O Mondrongo!
Lá estava ele debaixo do arco do triunfo, num pau de arara, e com uma imensa vela enfiada no ânus. E aquela vela queimava os seus culhões: Assava os seus culhões!
Não tive medo, nem pena, nem raiva. O Mondrongo se derretia, derretendo a vela, enquanto os seus culhões eram imolados para lavar a honra da humanidade.
A fumaça do seu traseiro perfumava a terra, e a terra agradecia!
De repente eu sou do mal!
A maldade me faz incorporar um sorriso, eu sorrio e a maldade me leva.
Estou flutuando sobre Roma, depois para Veneza, depois Ravena, e os seus mosaicos eram de sangue!
Fujo de Ravena e volto para Roma.
Ouço uma musica, era a "dança macabra" de Saint Saens.
Mefistófeles! Mefistófeles toca desvairado a dança macabra! O arco do violino vibra, debaixo do arco do triunfo em Roma!
Que arco era aquele, o de Trajano ou de Tito?
Vejo tantos arcos, mas só um conserva o Mondrongo. Lá está ele se derretendo e consumindo a vela, que lhe evapora o traseiro.
Procuro adivinhar-lhe o pensamento, mas aquela vela purgadora não o deixa pensar.
Em ocasiões de pensar, o Mondrongo não gostava de pensar: Pensar agora?
A minha cabeça gira, o meu corpo assanha um espasmo: Mefistófeles toca e ja não toca a dança macabra!
Agora vejo um bando de criaturas alegres. Parecem mensageiras de uma grande alegria!
Trazem os seus tambores e seus alaúdes, e as criaturas enfeitadas de Odaliscas, remexem os seus ventres, como se dançassem com a barriga e as nádegas. Seria a dança do ventre? Mal consigo enxergar aquelas criaturas encantadas diante do Mondrongo.
Que encantamento se pode esperar de um Mondrongo, debaixo do arco do triunfo, derretendo a vela e consumindo o ânus?
Derrepente, as dançarinas se esvaem em um contentamento louco!
Os alaúdes emudecem, e solenemente dão lugar a uma procissão de encapuzados!
Mascaras mortuárias se escondem debaixo dos panos enegrecidos.
E uma multidão imensa, com os seus bonecos e as suas aflições, entoando o Réquiem em todas as línguas, entoando o Réquiem com todos os gestos, todas as mágoas e todas as dores que o Mondrongo representa.
Um raio cruza os céus e ilumina a terra, e vejo que nessa procissão caminham povos infelizes dos quatro pontos cardeais, e à frente dos povos da terra, um anjo temível, belissimo mas terrível, e que troveja uma profecia esmagadora:
" Este Mondrongo não incomodará a terra nunca mais, mas outros virão! A humanidade precisa do Mondrongo! Surgirão aquí e acolá, das larvas do homem, na espuma das épocas!
Os homens precisam de assombro: O assombro é que faz gerar o Mondrongo "
E me ví na loucura submerso!
O meu espirito se dispersa por Londres e Budapeste, Atenas e Pequim, diamantina e Berlim.
E a terra toda se rejubilava. O Mondrongo estava sendo imolado!
A fumaça do seu traseiro perfumava a terra,
E a terra estava agradecida, feliz!
"Dedicado aos bêbados de justiça,
liberdade e contentamento.
Bêbados de um mundo melhor!