Zé ninguém.

Primeiro, deixe-me identificar quem é este ser imundo, que vive no mundo sem olhar aquém, e além do seu próprio umbigo, ele não percebe nada nem mesmo natureza que lhe cobra todo dia sua atenção. Este cidadão, bruto, ignoto, sem aptidão nenhuma para arte, desconhece a música e a poesia, aos homens iniciados ignora, chama as filhas alheias de vadias. Não é capaz de elogiar alguém que lhe seja próximo. Dono de uma inveja animalesca, aquilo que não sabe fazer a outro não dá crédito nem confiança. Amante de dinheiro e de lucro fácil, quando alguém lhe cobra alguma sensibilidade ele reage como um asno, com um coice de covardia.

Não empresta nem precisa de alguém para não se obrigar a reciprocidade. Nem um grama de sal ele dá ao seu vizinho, diz que é sistemático, e que prefere viver Zezinho; esta boa desculpa lhe protege a consciência. Zé ninguém, trata os filhos como propriedade, espera deles de volta tudo que lhes conferiu. Zé ninguém, não sabe o que é sorrir, anda sempre de cara fechada para não ser confundido ou confundir. Acredita que mantendo um humor taciturno, não atrairá a simpatia e a confiança do seu semelhante, que com certeza lhe causará algum dano, algum prejuízo.

Zé ninguém, gosta de ser bem tratado, mas não faz questão de acenar para alguém que tenha menos meios de vida do que ele. Está sempre com um pé atrás e uma mão na frente, para se defender de quem lhe parece mais necessitado, do que capaz de acudir alguém na carência. Para ele, uma simples suspeita é condenação sumária de culpa, não acredita na regeneração do espírito.

Estes seres inúteis para natureza, não são aptos para exercer um papel qualquer no reino animal. Pois só conseguem sugar, como vermes não conhecem o gosto doce da troca de energia que é vital para o processo evolutivo natural das espécies. Não sabem eles que, não servindo, também serão descartados, pois o homem vive nos sentimentos que emanam e recebem dos seus pares; e este dom sagrado prossegue pelos séculos eternos, fazendo soar bem alto a voz da poesia e da arte de quem verdadeiramente é humano – agora sabe quem é o Zé ninguém?

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 16/01/2009
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