QUE BEIJINHO DOCE...QUE A TELINHA TEM...

O assunto provavelmente não agrada a muitos, mas falo em epígrafe do rumo dado ao término da novela global “ A favorita”, e aqui opino tão somente como telespectadora “noveleira".

E sem preconceitos de estilos!

Sou apenas mais uma entre tantos brasileiros aculturados ao gênero literário de “novelas”, que dentro das obras de ficção, já nos é um atributo literário e cultural tão bonito quanto outro qualquer.

E como amantes das letras julgo termos quase o dever de prestar atenção no que nos é lançado ao ar...nos tais "horários nobres", nem sempre tão nobres!

Porque temos visto de tudo pelas telinhas brasileiras, grandes autores e suas grandes obras, belos trabalhos de artes cênicas, outros nem tão grandes e nem tão belos assim.

Porém considero que “ A favorita” de trama algo inédita, pecou pelo excesso de violência, insistente longa e cansativa, aliada paradoxalmente a uma boa dose de ingenuidade que o autor nos propôs, quando resolve terminar a trama apelando ao psicológico dos personagens.

No início me irritei um pouco por julgar a ficção do seu término absurda demais, principalmente nas últimas cenas de ação que me pareceram muito forjadas, estilo “Indiana Jones”, interpretadas com pouca naturalidade, algo apelativas demais.

Mas resolvi parar para analisar a proposta psicológica final.

A trama toda se resume na vida de dois personagens “Flora e Donatela” que desde crianças conviveram sob os olhares do entorno que se focavam para as visíveis diferenças de talentos e caráter próprios e que quando adultas uniram-se para "ganhar a vida" numa dupla do gênero sertanejo.

As diferenças logo destacaram Donatela como a alma artística da dupla , o que reforçou o despeito e a disputa por parte de Flora, que começa então a perseguir Donatela pela vida afora após a dissolução da dupla.

Flora torna-se uma psicopata fria, deflagra uma série de assassinatos para incriminar Donatela.

Mas no final da obra , o autor nos coloca a pensar sobre o que levaria alguém a odiar e investir compulsóriamente contra o outro...por uma VIDA TODA!

Todos sabemos que existe uma tênue linha divisória entre o amor e o ódio. A velha dupla sempre entra em cena na literatura e nos divãs dos psicanalistas!

E há quem defenda que ambos são o mesmo sentimento.

De fato a mim me parece que, se não são o mesmo, andam de mãos dadas!- e que quanto maior o tempo e o terreno do “amor lesado” maior poderá ser o ódio plantado...e replantado!

De fato, nunca odiamos o que não nos teve ou não nos tem representatividade afetiva.

Mas penso existir uma grande diferença entre ambos.

O amor sempre paralisa a violência, já o amor travestido de ódio pode nos movimentar para todas as direções.

Penso ser essa a proposta do autor quando subitamente encaminha Donatela a procurar por Flora NO AUGE DA SUA PSICOPATIA...a tentar lhe paralizar, blefando-lhe sentimentos de amor, de saudade e de necessidade de reaproximação, no intuito de desbancar a loucura de Flora.

Ou quem sabe fazer valer o velho dito popular: “se não puder com o seu inimigo...junte-se a ele"

O abandono, o desprezo e a inferiorização perenes direcionados às crianças, podem lhes criar um meio propício para que se cultive o ódio doentio caso haja terreno emocional disponível, e o “doente” se torna um frágil periculoso, porém facilmente manipulável.

Percebe-se que o autor coloca Donatela desesperadamente a preencher o vazio carencial de Flora com o artifício da eloquência amorosa.

Donatela oferece “migalhas de afeto” que são aceitas por Flora como banquete, engolidas instantaneamente por sua carência um tanto ilusória, aquela própria dos psicopatas.

A inveja , como todos os sentimentos bons e ruins , é inata aos seres humanos, porém aprendemos no ‘meio” através da construção do superego a “modularmos os sentimentos negativos...ou seja aqueles que nos destroem em vida.

Mas é sabido que todos somos produtos do MEIO que interage com nosso GENOMA.

Enquanto modificar o genoma ainda não está ao nosso alcance cotidiano, o meio parece ser o único fator educacional influenciável e modulador para não se plantar sentimentos ruins que poderão posteriormente deflagar um ódio psicopata.

Todos carregamos uma porção de frustrações, derrotas, desprezo, rejeições que ocorrem na infância e até mesmo na fase adulta, mas nem todos transformamos situações negativas e normais da vida em ódio e inveja doentios.

Isso é para quem pode, não para quem assim o desejar.

Assim o autor nos dá uma aula de psicologia a nos revelar o quanto o nosso mundo emocional é frágil e perigoso.

Aguardo com curiosidade o término da novela, talvez o seu ponto mais alto a nos agregar algo de positivo para as nossas vidas.

Reitero também que a obra foi uma bela homenagem ao nosso gênero sertanejo, trazendo popularidade às belas obras já imortalizadas nesse nosso tão vasto cancioneiro, e tão pouco divulgadas.

“....Depois que beijei ele, nunca mais amei ninguém...”

Nota:

Patrícia Pillar esteve impecável o tempo todo!

Agora só falta colocar um pouquinho de Ódio no personagem de Glória Menezes! Ai que ódio, ingenuidade tem limite!