LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE

1. PREÂMBULO.

2. O TEMPO PASSA...

3. REFLEXÕES

4. O ENIGMA DA MORTE.

5. A TOLERÂNCIA.

6. UM CONCEITO DE VIDA.

7. O LADO POSITIVO DAS COISAS.

8. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE.

9. CONCLUSÃO.

10. BIBLIOGRAFIA.

1. PREÂMBULO

Antes de tudo, o idoso é um ser humano que acumulou nos seus anos de vida um cabedal de experiências que deve transmitir aos mais novos.

Os anos vão passando e o cenário da vida toma outros contornos.

Surgem a estabilidade emocional e o delineamento dos passos a serem dados no caminho do existir.

A maturidade acontece e fico a pensar naqueles sonhos juvenis que foram deixados para trás e muitos deles se tornaram realidade na etapa de hoje, que um dia pertenceram ao futuro.

A luta pela sobrevivência cede espaço às conquistas do espírito, pois os atrativos do material já não ocupam tanto tempo da mente.

A escala de valores, com o tempo, vai mudando e vou aprendendo dar a verdadeira dimensão às coisas.

O que anteriormente tinha muito valor para mim, hoje, tem o valor que deve ter, ou seja, não vale mais nem menos do que vale. A minha mente ainda se ocupa muito com os pensamentos do mundo físico, deixando pouco espaço para os pensamentos de ordem superior.

A veta está aí, aproveitar o tempo livre para cultivar o espírito, o que perdura, a essência do ser, a semente que ficará, posto que é eterna.

Quem não tem um ideal carrega a morte sobre os ombros, disse o pensador RAUMSOL.

A vida é constante atividade, portanto o homem tem que cumprir com essa lei, mantendo-se ativo, porque «a inércia submerge o ser na imobilidade, obrigando-o a levar às costas, como um peso morto, seu próprio espírito».

Há que fazer dessa vida uma verdadeira alquimia: quando as lutas que a vida ofereça forem duras, suaviza-as. Não aumente sua dureza tornando-se pessimista ou deixando que seu vigor decaia.

Faça em todo momento, da luta, um ensinamento; torne doce o seu sabor quando essa luta lhe seja amarga.

Insuflar na vida a força do valor permitirá enfrentar as situações difíceis. O temor deprime, aflige, tortura, amargura e entristece.

2. O TEMPO PASSA...

Hoje desfruto da chamada «melhor idade». Como foi minha vida até aqui? Plantei, colhi, voltei a plantar e torno a colher. E também planto para o futuro. E os ideais? Os sonhos? As aspirações? Os anelos? Mudam.

O horizonte é outro. Não é o mesmo da infância e não pode ser igual ao da juventude. Ainda bem!

Sei que plantarei e continuarei colhendo o que plantar até o final dos tempos. Do meu tempo. Anelo que as colheitas sejam profícuas.

Como manter o entusiasmo e a boa disposição dos tempos da juventude? Como continuar sonhando e tendo a vontade de viver e ser melhor? Sei que alimentando um ideal, o ideal superior de aperfeiçoamento.

Mais que nunca, a vida é luta e devo continuar lutando, rompendo com minhas debilidades e limitações.

3. REFLEXÕES

Ora, no limiar do Terceiro Milênio coisas inusitadas estão acontecendo e causando perplexidade e assombro aos homens. Doenças como a tuberculose e mais recentemente a febre amarela perturbam as pessoas, deixando-as inseguras e temerosas. A chamada globalização introduz o fantasma do desemprego para aquelas pessoas portadoras de uma qualificação profissional, percorreram uma trajetória de trabalho, prestaram serviços à sociedade, foram úteis e agora, circunstancialmente, ficaram desempregadas ou sofreram algum impedimento como doenças e até a própria idade as impede de desenvolver uma atividade mais intensa e se vêem obrigadas a parar, ainda, em condições de prestar algum serviço.

São cidadãos dignos que ficam marginalizados e muitos deles vão ao desespero.

Li a matéria sob o título: VOZES DE UM TEMPO EM AGONIA, da ilustre jornalista ELIANE FACCION, no jornal ESTADO DE MINAS, e fiquei estarrecido com o descaso dessa cultura vigente que não soube ensinar o homem a se valorizar e a acolher e amparar aqueles que foram úteis à sociedade, em seus dias de glória e juventude.

Onde está a Previdência Social que deveria amparar o ser humano digno em sua maturidade e velhice?

Essa humanidade desvalida clama por um novo humanismo que contemple os valores reais.

Os seres humanos carecem do cultivo da sincera amizade, pelo respeito mútuo ao semelhante.

De que vale o acúmulo de riquezas materiais se por dentro o homem é tão pobre e desconhece o próximo deixando-o à mingua?

O cidadão sem nome que teve a sua carta transcrita no artigo citado, estava como muitos, desesperado, sem esperanças de um futuro melhor. Esse, a exemplo de outros heróis anônimos, vivem nesse mundo globalizado, completamente sós.

Até quando, perdurará esse estado caótico! A esperança não deve morrer. A vida nos chama à luta. Lutar é viver. Somente a morte é indiferente a tudo. Portanto não podemos ser indiferentes a essa situação lastimável em que se encontra o indivíduo filho dessa Criação maravilhosa e rica.

Algo deverá cada um de nós fazer, como súditos desta Terra para transformarmos esse vale de lágrimas num vale de venturas e bênçãos, em que todos generosamente se ajudem e possamos viver num mundo melhor.

É hora do despertar das consciências. Façamos o que for preciso para não lamentarmos profundamente no futuro quando não houver mais condições de superar o que hoje vivemos.

O ser humano, no seu íntimo, indaga e sempre inquiriu sobre a vida. São clássicas as perguntas: para que vivo? De onde vim? Para onde vou? O que estou fazendo aqui na Terra? E outras de estilo.

E as respostas onde encontrá-las? Naturalmente, dentro de nós mesmos, com a utilização de nossa inteligência, pois Deus nos dotou de um mecanismo mental inteligente para que o ser se baste a si mesmo em todas as ordens da vida. E como usar esse equipamento mental e psicológico perfeito, em sua concepção, de que todos nós fomos dotados? É certo que não basta que o instrumento musical seja perfeito é imprescindível que quem o utiliza saiba extrair dele os mais belos acordes; analogicamente, possuímos um maravilhoso instrumento que é a mente e é fundamental que nos adestremos em seu manejo para extrairmos dela lindas melodias.

Quando adquirimos um equipamento de 'som', por exemplo, ele vem acompanhado de um manual que nos permite usá-lo corretamente, mas o ser humano que possui um aparelho mental complexo vem desacompanhado desse manual de uso. Como, então, utilizá-lo corretamente, beneficiando-se de seus incalculáveis recursos?

Ouso dizer que existe uma ciência que nos ensina a utilizar, com eficácia, a mente, pois dispõe desse manual, com ensinamentos práticos sobre o funcionamento desse mecanismo mental, de que é dotado cada ser humano.

Dentre os assuntos tratados, vale ressaltar: o conceito de vida; a vida em seus profundos alcances; do espírito - elo entre o homem e o seu Criador -; consciência da vida; humanismo logosófico; as grandes aspirações do homem; e, o conteúdo espiritual da existência.

«A Logosofia coloca Deus no ponto mais elevado, até onde jamais poderá ascender a necedade dos homens, empenhados em encapsulá-lo na estreiteza de suas concepções mentais. Proclama a existência de um Deus Universal, que une os homens em uma só e única religião: a religião do conhecimento, meio pelo qual se chega a Ele e se pode compreendê-Lo, senti-Lo e amá-Lo, o que jamais se faz através da ignorância».

Refletindo sobre as possíveis causas da tristeza do ser humano me deparei com algumas:

1 – a série de erros cometidos durante a vida;

2 – o truncamento de suas aspirações pela incapacidade própria para realizá-las;

3 – as limitações de seus recursos e as limitações mesmas dos agentes condutores de seu esforço que promovem os desagradáveis sintomas do fracasso;

4 – as contrariedades de toda ordem, unidas às exigências e necessidades da vida na diária luta por levar uma existência sã;

5 – a econômica - «Não obstante, insistimos em que existem conhecimentos que suprem riquezas, como os há que proporcionam alegrias inexpressáveis. O dinheiro, como tudo quanto o homem possa possuir naturalmente, é fugaz em mãos de quem não sabe usá-lo para que sua vida seja útil e se afirme em uma existência feliz e digna». (Revista Logosofia nº 15-18-5).

Quais os conhecimentos que proporcionam alegrias inexpressáveis?

Os conhecimentos superiores.

Como alcançá-los?

Com paciência, perseverante e consciente empenho.

A ignorância e os erros são cadeias que mantêm oprimido o ser em uma penosa e deplorável escravidão.

Por isso, há dias em que inexplicavelmente experimentamos essa tristeza, essa amargura. A natureza triste passa, então, a fazer parte do quadro psicológico do ser humano.

Quais as circunstâncias que privam o ser de experimentar a sã alegria de compreender a vida e realizar sua alta finalidade?

Não podem ser outras senão as aqui assinaladas como causas.

“... a conseqüência do erro ou da falta é sempre ingrata para o espírito.”

Assim, para se ser feliz temos que evitar cometer erros; cometer, portanto, acertos é uma forma de se ser feliz.

Ser feliz é não truncar nossas aspirações. Para tanto, há que ampliar a capacidade para realizá-las.

Ser feliz é, também, ampliar os recursos e os agentes condutores de nosso esforço.

Ser feliz é superar as contrariedades.

Ser feliz é adquirir conhecimentos superiores, com paciência, perseverante e consciente empenho.

4. O ENIGMA DA MORTE

Vivi a triste situação de perder meu querido pai. Uma alma boníssima que deixou um grande exemplo de luta, abnegação pela família, amor paterno e filial e grande desprendimento das coisas materiais. No final de seus dias sofreu em silêncio e sempre em seu rosto se estampava um sorriso. Era um homem alegre e dedicado a sua esposa e filhos.

Vivi junto dele até o fim. Ouvindo os seus conselhos, suas orientações e suas recordações de vida. Sofri intensa e profundamente sua morte, mas com resignação, reconhecendo a atuação da lei universal e me curvando diante de sua magnitude e inexorabilidade.

Os seus oitenta anos de vida foram fecundos até o último instante. Ao dar o derradeiro suspiro o fez com dignidade e amor à vida. Internamente exerci com plenitude a faculdade de sofrer. Sofria e ao mesmo tempo sentia bem no fundo de meu coração a quietude e a serenidade presentes. Estava compreendendo melhor esse enigma da morte e brotava em mim a madura convicção de que a morte não é o fim mas um estado por que deve passar o ser humano. Sentia a perda do ser querido e paradoxalmente experimentava dentro de mim a sua presença.

Os momentos felizes vividos junto a meu pai estiveram presentes em minha recordação reconfortando o meu ser alquebrado pela dor intensa. A convivência harmônica que tive com meu pai em toda sua vida foi para mim, nesse momento de dor, um conforto, um bálsamo. Fiz profundas reflexões e conclui que a morte significa a manifestação onipotente da Vontade de Deus.

Um axioma logosófico lido nessa oportunidade contribuiu para ajudar a manter o equilíbrio interno. Esse ensinamento diz: 'Não cedas nunca à dor ou à tristeza o lugar que ocupa a alegria.' Tinha que sofrer, sentir a dor da perda mas jamais afastar a alegria que é uma força integradora. E assim vivi intensamente aqueles momentos ficando cada coisa em seu lugar, a dor, a tristeza e a alegria.

O ser físico tem um tempo que passa e chega ao fim. O espírito precisa dar seguimento a sua evolução e abandona aquela carcaça que já cumpriu o seu desiderato e se desprende dela para animar outra vida. A alma fica aqui na terra e o espírito em seu mundo de onde ele nunca saiu. Eis aí desvendado o enigma.

5. A TOLERÂNCIA

Na acepção corrente, é uma tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. Também significa diferença máxima admitida entre um valor especificado e o obtido; margem especificada como admissível para o erro em uma medida ou para discrepância em relação a um padrão. O tolerante é o que desculpa, o indulgente, o benigno. É aquele que admite e respeita opiniões contrárias à sua. Tolerar é ser indulgente, consentir tacitamente. Na visão dos inquisidores, na Idade Média, segundo análise feita pelo Prof. de Ética e Teologia na UERJ, LEONARDO BOFF, ao prefaciar o livro DIRECTORIUM INQUISITORUM - MANUAL DOS INQUISIDORES, escrito por NICOLAU EYMERICH em 1376 e revisto e ampliado por FRANCISCO DE LA PEÑA em 1578, o portador da verdade é intolerante. Deve ser intolerante e não tem outra opção. Caso contrário a verdade não é absoluta. Só os que não possuem a verdade podem ser tolerantes. Consentir a dúvida. Permitir a busca. Aceitar a verdade de outros caminhos espirituais. O fiel, este é condenado à intolerância, concluindo que a pretensão da verdade absoluta leva à intolerância.

Logosoficamente a tolerância é uma antideficiência, indispensável à convivência harmônica e que deve se contrapor à falha denominada intolerância.

A intolerância fecha os caminhos da compreensão e os da sensibilidade humanas.

Segundo a Logosofia, o intolerante é um ser rígido, duro, inflexível, aferrado a seu estreito critério, em cujo coração o afeto ao semelhante é oprimido e até sufocado por sua inveterada falta de respeito às idéias, ao afazer e comportamento alheios.

A intolerância, como deficiência psicológica, associa-se a outras como a soberba, acrescentando a sua dureza, que vem acompanhada de uma excessiva superestimação de si mesmo e um excessivo consentimento às bajulações recebidas daqueles que, sob pressão de autoridade ou privilégios concedidos, se sentem obrigados a proporcioná-los.

É interessante observar que a intolerância não se manifesta com os de cima, nem contra aqueles de quem se espera tirar partido, o que não impede ser intolerante nos juízos ou nas apreciações que sobre tais pessoas se fazem.

Convém ressaltar aqui que “as grandes almas jamais foram intolerantes, pois a grandeza é incompatível com a estreiteza mental dos que desconhecem as alturas e relevos morais configurados nelas”.

Afirma González Pecotche, em seu livro Deficiência e Propensões do Ser Humano, ao tratar dessa falha que, “muitas vezes, esta deficiência degenerou em perseguições sociais, políticas, religiosas e ideológicas, abrindo abismos profundos entre homens e povos”, a exemplo do que ocorreu nos negros tempos da Idade Média, com os rigores da inquisição.

De resto, o intolerante é um ser pouco simpático, pois cria em seu redor um ambiente hostil, impedindo-o de levar uma vida grata, decorrendo disso muitos de seus pesares. O antídoto para se combater a intolerância é o cultivo da tolerância, aplicada de forma inteligente e equilibrada. A tolerância tem por base o respeito ao próximo. Pode-se concluir, então, que quem detém o conhecimento, quem está com a verdade, é mais tolerante. 6. UM CONCEITO DE VIDA.

Para tudo na vida devemos nos preparar. Até para as coisas mais simples, como, por exemplo, fazer uma viagem. E nesse preparo devemos incluir, também, os possíveis imprevistos. A programação é, então, fator de êxito.

Como se preparar para a vida?

O que levar em conta nesse preparo?

Quando menino, tomei contato com um livro intitulado: 'É perguntando que se aprende.' E o personagem desse livro andava pela cidade e para chegar ao seu destino, perguntava e as respostas o levaram aonde queria. Em nossa vida acontece algo semelhante?

Qual é o nosso destino? Onde queremos chegar?

Estou aprendendo que 'não é somente perguntando como se chega a saber as coisas; também é necessário estudar o que se quer saber.'

O que quero saber da vida?

Quais os requisitos para se preparar para a vida?

Qual o conceito que tenho da vida?

Como considero a vida?

Para que serve a vida?

A vida é acordar, trabalhar, dormir ?

O conceito admitido passa a reger a nossa conduta. Se considero a vida como uma grande diversão. Ela não passará dessa diversão. Se encaro a vida como uma grande oportunidade para evoluir, adquirir conhecimentos. A vida tomará outras proporções. E deixará de ser limitada. O conhecimento amplia a vida. E, dependendo da natureza desse conhecimento, essa vida poderá ser ainda mais ampla. Pois há os conhecimentos utilitários, que atendem a nossa subsistência e os conhecimentos formativos do caráter que transcendem ao saber corrente, pois são de natureza superior e se adquirem através do esforço próprio.

Assim, se procuro ampliar o meu conceito de vida estarei propiciando a mim mesmo uma ampliação de minha própria vida.

Ao ver na vida uma grande oportunidade de estudo e de experimentação, percebo que ela me oferece uma infinidade de motivos para observar, para aprender e levar para o meu acervo interno muitos conhecimentos que me servirão em minhas atividades diárias. A vida vista dessa forma, é muito estimulante porque passa a ser um constante campo de aprendizado.

A vida é, também, luta. Não uma luta que destrói, que corrompe, que aniquila, violenta, mas uma luta orientada pelo conhecimento, edificante.

'A vida humana deve ser um constante esforço de superação, de compreensão, de realização, única forma de se aproximar, passo a passo ao Pensamento Criador...'

Vivemos a vida interna, que o conhecimento logosófico nos ajuda a conhecer, e a vida externa. A vida interna compreende o que vivo com os meus pensamentos, meus sentimentos e minhas emoções. A vida externa eu a vivo em contato com tudo o que se vincula a mim.

Compreendo hoje a vida como a soma de todos os valores e significados que encerra. A vida é muito mais que as circunstâncias fáceis ou difíceis, alegres ou tristes que experimento.

E os problemas pequenos ou grandes que enfrentamos ou criamos, estou aprendendo que devo colocá-los todos dentro da vida e não, como fazem muitos, COLOCAR A VIDA DENTRO DOS PROBLEMAS, O SAUDÁVEL É COLOCAR OS PROBLEMAS DENTRO DA VIDA, porque, repito, a vida é muito mais que os problemas. Muitas ou algumas vezes fracasso nessa luta que a vida me oferece e como fico frente a esses fracassos? Como encaro os fracassos? Como superá-los? Como evitá-los? A orientação que encontro na Logosofia, nesse ponto, é a de tomar cada fracasso como princípio de vitória, de triunfo, desde que extraia da derrota o elemento que me faltou para vencer. Dessa forma, sou convidado sempre a analisar esses fracassos, procurando a falha ou falhas, ou a causa do erro cometido e, com isso, não me sinto alquebrado e desmoralizado com a derrota, pois a partir desse instante ela se constitui num estímulo para vencer o obstáculo.

Ter um objetivo na vida é uma chave para encará-la com valor. E um objetivo que elegi para minha vida é o do aperfeiçoamento. Ser melhor.

Todos nós seres humanos somos propensos a nos deixar levar pelas emoções tristes, amargas, violentas ou ingratas. E isso altera o nosso sistema nervoso, faz ressentir a nossa saúde e, ao lado disso, torna áspero o nosso caráter. Como evitar tais efeitos nocivos?

Estou aprendendo a opor a uma emoção pessimista outras otimista, alegre, estimulante; a uma violenta, outra serena. E como isso me faz bem e é eficaz! E me faz recobrar as energias perdidas.

Tudo na vida tem de ser feito com valor, valor sereno, firme. Em minha vida vejo que esse valor é uma força que me ajuda a enfrentar com inteireza e compreensão as situações difíceis. Se descuido e permito que o temor invada o meu ser nesses momentos de dificuldades, fico deprimido, amargurado e triste. E para não temer eu preciso adquirir o conhecimento. O valor não existiria sem conhecimento.

E pensar que em uma época de minha vida eu temia Deus. Por quê?

Estou aprendendo com Logosofia a ser valente. É preciso ser valente para viver a vida. Quantos vivem no mundo atemorizados, sugestionados pelas notícias diárias, alarmistas, produto de um mundo convulsionado e cheio de perigos?

Em que deve estar apoiada a valentia? Pela responsabilidade individual. O que é ser valente? É dar mostras de segurança pessoal.

Qual a última coisa que o ser humano deveria perder? O VALOR. Havendo valor há vida, há esperança de que o panorama da existência mude de um momento para outro. Quando não o há, o desalento aprisiona o homem.

Como, então, sentir a alegria de viver? Trocando o temor, se houver, pelo valor.

O que devo fazer se me proponho, seriamente, a aperfeiçoar minha vida? Não devo deixar nela, nessa vida que é minha, parte alguma sem modificar.

7. O LADO POSITIVO DAS COISAS

Realmente, encarar e ver o lado positivo das coisas é estar sempre mantendo as energias necessárias para prosseguir vivendo, pois a vida nos foi dada para desfrutá-la e os obstáculos e dificuldades que surgem quando se vai ao encontro de um ideal deverão ou deveriam se constituir num grande estímulo para se avançar, avançar e avançar sempre.

Li certa vez que um autor disse ter lido em um escrito bem antigo, em folhas amareladas pelo tempo, que havia um homem que saiu ao encontro de um ideal e lhe cortaram os braços e ele prosseguiu. Cortaram-lhe as pernas e ele, persistente, seguiu rolando em direção à meta ideal.

Encarar as coisas com alegria e valor, que são forças que nos impelem a seguir avante nessa luta e possuir um ideal que nos inspire, é vencer nessa viagem para a superação, o aperfeiçoamento. Porque quem não tem um ideal carrega a morte sobre os ombros.

E a felicidade está nas pequenas coisas, nas pequenas conquistas, nas pequenas porções de bem, espalhadas pela Criação.

Também fazer as coisas com gosto alivia o peso daquilo que pode parecer desagradável.

O cultivo da gratidão, sentimento nobre, permite que sejamos merecedores do bem recebido. O ingrato atrai para si o revés, pois demonstra desprezo por tudo aquilo que lhe foi útil e lhe fez bem.

Aprendi nesta vida que a atitude de me queixar das coisas que me incomodam significa debilidade e retira forças que preciso reunir para vencer as dificuldades e afastar os obstáculos.

Finalmente, na vida há duas grandes oportunidades que a todo instante perdemos, uma é a de não incomodar os demais e a outra é a de não sermos, ou não nos sentirmos incomodados pelas atitudes, gestos e modalidades daqueles que convivem conosco.

Pode-se dizer que mudei em muito, aquela atitude comum aos seres, de pessimismo e achar que a vida é cheia de sofrimento e angústia, ao contrário, a vida é um maravilhoso campo experimental, onde, se quisermos, podemos encontrar a felicidade nas pequenas coisas que estão próximas de nós. E de cada um depende que nossos pés pisem espinhos ou pétalas de rosas, nessa caminhada em direção ao que cada qual forja para si como ideal.

8. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE

A longevidade e o tempo livre são dois fatores que, ligados ao tempo caracterizam essa etapa da vida humana, pois ao se viver mais, o tempo se amplia e surge uma indagação: como aproveitar melhor esse tempo?

A participação social exige que se pense em novas propostas que contemplem a valorização do idoso. Esse participar é ativo e não comporta mais a fase contemplativa que se resumia em deixar que o tempo passe, mas se adiantar ao tempo, realizando atividades criativas e úteis, através de uma valorização crescente desse ser humano que tem uma trajetória de vida que o habilita a enriquecer o acervo de conhecimentos acumulado.

O idoso haverá de ser convidado a transmitir sua experiência de vida a grupos de jovens, orientando-os em suas lutas e dificuldades para superar obstáculos.

A experiência do ser adulto é importantíssima. Mas onde está essa experiência? O adulto a transmite ao jovem? Como a transmite? É bom lembrar que quando um pai dá um conselho a um filho, ele, naturalmente, já viveu tudo o que esse conselho encerra e que, ao expressá-lo, quer evitar ao filho o que para ele foi motivo de sofrimento ou causou-lhe danos.

Gostaria de lembrar aqui o que li em um livro em que o autor relata o seguinte:

«... encontrava-me, sendo criança, em uma estância e, como todas as crianças, gostava de me afastar das casas e correr pelos campos. Um dia, saí montado em um petiço, tinha que atravessar montes e serras. Andando um pouco, encontrei no caminho o capataz da estância, acompanhado por alguns camponeses, que ao ver-me, perguntou amavelmente aonde ia; ao responder que me dirigia ao rio, disse-me:

- « Para chegar ao rio, terá que passar por três porteiras; tenha cuidado, menino, porque ali existe gado bravo, e quando vê gente nova é capaz de atacar». Eu já tinha ouvido falar dessa boiada, mas por efeito, talvez, dessa célebre reprodução mental do dedo tocando o vidro da lâmpada, decidi continuar o caminho. As porteiras que tinha que cruzar para chegar ao rio eram dessas antigas, cujos paus horizontais, superpostos, se introduzem nos orifícios de dois postes verticais colocados em ambos os lados do caminho. Ao passar pela primeira, lembrei-me da RECOMENDAÇÃO do capataz, o qual me havia dito que a deixasse aberta ou só com o pau inferior colocado, para o caso de que a boiada corresse atrás de mim. Quando atravessei a segunda, esqueci-me da recomendação e afastei-me após ter fechado a porteira com todos os paus; ainda bem que ouvi, próximo, um burro zurrar, e crendo que fosse um leão, ou algo parecido, rapidamente voltei para tirá-los. Ao passar a terceira porteira, já próxima do rio, também tirei os paus. Descia o vale, quando vi, de repente, a boiada pastando tranqüila.

«É a isto que chamam de gado bravo? - disse-me, ao mesmo tempo em que decidia passar no meio deles. Não havia transcorrido um minuto, quando um touro enorme, que me pareceu de vinte ou trinta metros cúbicos, levantou a cabeça, olhou-me e, em seguida, começou a correr na minha direção e, com ele, todos os demais. Então sim, vi o perigo e fincando as esporas nas ilhargas do meu petiço, passei como um bólido pelas porteiras. Vendo que levava vantagem, ao chegar à última detive-me para fechá-la e deter, assim, a passagem das bestas.»

«Passado o mau momento, instantaneamente me recordei do capataz. Emocionei-me; enchi-me de ternura e compreendi quanto bem me havia feito sua PALAVRA; uma PALAVRA HUMANA, UMA ADVERTÊNCIA... Recordo que, quando lhe referi o ocorrido, me disse: - «Ah! Jovem, você se salvou porque tirou os paus da porteira. Meu filho foi morto por essa boiada.» Compreendi, nesse instante, quanto pode encerrar uma PALAVRA e como penetra quando é DITA PARA FAZER O BEM; compreendi, também, que esse homem tinha querido salvar em mim o seu próprio filho, e isto jamais pôde apagar-se entre as tantas recordações que existem em minha vida.»

Por outro lado, « não existem escritas em parte alguma - porque possivelmente não foi dado a ninguém abarcar semelhante empresa - as INUMERÁVEIS EXPERIÊNCIAS pelas quais o ser humano está exposto a passar durante sua vida. Daí que a JUVENTUDE se ache completamente órfã de conhecimentos e carente de quem possa guiá-la com verdadeiro acerto pelo mundo no qual penetra, evitando-lhe dar tropeço após tropeço e livrando-a, com isso, do que costuma afetar grandemente o coração, a mente e o espírito nessas ternas idades. Não quero significar com isto que se deva brindar a ela a mais absoluta facilidade, aplainando-lhe totalmente o caminho a seguir, pois isso seria tão absurdo quanto o anterior; mas sim, facilitar-lhe em parte o percurso desse caminho, ajudando-a nos momentos difíceis com a luz do conhecimento extraído das experiências, com o objetivo de evitá-las. Isto seria uma grande obra, capaz de chegar a infundir muita confiança na humanidade.»

Eis aí, então, uma grande tarefa, um desafio, para o idoso ativo: transmitir a sua experiência de vida para o jovem carente dela. Aprender ao ensinar isso, recordando de sua trajetória e extraindo de sua experiência a luz do conhecimento, que iluminará o caminho do jovem.

O exemplo dos maiores é de grande valor moral para os jovens, pois «a moral se edifica com o bom exemplo, não com palavras.

9. CONCLUSÃO

Não há idade para aprender. Em todas as idades o querer aprender haverá de ser o dínamo para se avançar. O último que deveríamos perder, se é que haveríamos de perder algo, seria a vontade de aprender. Quem está sempre aprendendo e querendo aprender se mantém vivo e bem disposto, pois nesse aprendizado se amplia a vida e se vive bem, gerando energias que formam o valor. É como se novas porções de vida se somassem à própria vida.

Como viver, então, em permanente juventude? Outra proposta das tantas aqui ventiladas. O segredo está em me interessar por novos motivos. Devo ser como os rios que renovam constantemente suas águas. RENOVAR SEMPRE OS MOTIVOS PARA VIVER.

Poderíamos aqui afirmar que A VIDA SEM CONHECIMENTO É NADA E COM ELE É TUDO.

Vencer a morte é vencer a inércia que é ausência de vida. Devemos buscar sempre a atividade, porque vida é atividade, permanente atividade. Atividades física, mental e espiritual.

Em verdade, idoso fica o ser físico, em decorrência das mutações do tempo, mas o espírito pode permanecer em franca e plena juventude se se dispõe a permanecer em constante atividade e disposto a aprender, aprender, sempre.

O envelhecimento físico pode limitar os sentidos da alma, mas não atinge o espírito que vive por um ideal de aprimoramento e de superação.

Portanto, há que cultivar esse espírito a todo instante, primeiro, fazendo uma revisão dos conceitos que regem a nossa vida, pois o culto aos conceitos forma o patrimônio moral dos homens. E, em seguida, o enriquecimento desse patrimônio que haverá de permitir que a seiva juvenil continue correndo nas veias do ancião que aspira superar suas limitações.

Observações:

Bibliografia:

GONZÁLEZ PECOTCHE, Carlos Bernardo.

Bases para sua conduta. O Espírito, São Paulo, Editora Logosófica, 1ª ed. 1978 El Señor de Sándara, Buenos Aires, 1959 Biognose, Editora Logosófica, São Paulo, 1996

Diálogos, São Paulo, Editora Logosófica, 1995

O Mecanismo da Vida Consciente, Ed.Logosófica, 7ª ed., São Paulo A Herança de Si Mesmo, Ed. Logosófica, 6ª ed., São Paulo Deficiencias y propensiones del ser humano, 2ª ed., Buenos

Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas
Enviado por Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas em 10/01/2005
Código do texto: T1377