Beleza, Prosa e Bebida - Parte 3
Parte 3 - A Ida ao Olímpo.
Remexendo em minha memória para escrever, lembro-me que ontem meus ossos gelaram, é estranho quando um homem não sabe o que fazer, e eu não sabia, então, tive medo – medo que dá medo do medo que dá. Estava na presença da deusa da sabedoria, rindo, falando e ouvindo. Tive vontade de ser um herege, de blasfemar e duvidar de sua divindade. Por diversas vezes peguei em suas mãos, olhei em seus olhos, e quão ousado fui, toquei em suas coxas. Com certeza Zeus me castigaria (Prometeus, um deus, foi castigado por muito menos), mas tive-a só para mim, e amei tê-la naqueles segundos em que meu desejo era para que o tempo parasse.
Estávamos na rua, cujo nome era Bosque. Era uma noite escura, mais escura que o habitual. As estrelas estavam escondidas, a lua estava entre idas e vindas e, a iluminação artificial não funcionava bem. Estava frio e ventava muito, o vento provocava as folhas nas copas das arvores, arrancando-lhes, um tipo de gemido. Senti um frio na espinha, como se o sarcasmo de Zeus viesse em tom de maldição, quando percebi a passagem de Zéfiro, o vento impetuoso do oeste, funesto, enterrou meu instinto. Zeus acabara de me amaldiçoar. Minha voz não era mais a mesma, estava tremula. Não consegui mais olha-la nos olhos. Não raciocinava direito. Maldito seja Zeus! Eu estava a serviço de Hélios, no carro do sol, levando Atena, sua filha e deusa da sabedoria, personificação da luz. Maldito seja Zeus! Para a minha sorte, ela percebeu e descontraiu. Como era linda! Uma risada que encheu o ambiente e aqueceu a alma, gostosa de ouvir, prazeroso de sentir. Seus cabelos lembravam-me os raios do sol. Ela discursava sobre sua vaidade, sobre sua pouca vaidade. Pudera todas as mulheres ter sua beleza para descuidarem de serem belas.
Na memória, o dia anterior. Lembrei-me de sua elegância, de como estava posta em uma blusa discreta e larga, mas que destacava o colo dos seios, não era ousada, mas provocante, calças justas desenhavam o contorno de suas pernas e botas compunham o visual, um preto básico que acentuava a pele branca como a dia de sol. As caretas que fazia com as musas de Zeus, suas amigas, treinando os “ch”, “lh”, “x”, “ss”, entre outras, destacava sua língua, seus dentes e sua boca encantadora. A vaidade! Não sei dizer o que é vaidade, mas sei apreciar a beleza posta e exposta à minha frente.
A noite densa, a caminho do desconhecido, sendo guiado por sua voz via sua preocupação intrínseca de que poderia perder o rumo, então pensei, “será que ela tem medo de não me ver mais.” Homens e seus pensamentos machistas, sempre se pondo como prioridade, mas não tenho culpa, ela é encantadoramente sedutora. Quando estava pré-sentindo o fim do caminho, roguei as Fúrias, famosas deusas da vingança, para que me ajudassem a pregar uma peça em Zeus, como são fogosas essas Fúrias, acorram mexer com equilíbrio do universo. Dito e feito, como num passe de magia a voz de seda de minha deusa, veio em meus ouvidos: “você quer conhecer meu castelo?” Maldito seja Zeus! Meus ossos congelaram-se novamente, mas disse sim. Falávamos sobre o monstro que nos paralisa que nos congela. Falávamos sobre o monstro que acabara de me domar. Falávamos sobre o medo.
Talvez estivesse a caminha do Olimpo, casa dos deuses. Castelo de Atena. Talvez não, mas tive medo. Mesmo assim, pensei em roubar-lhe um beijo, e guarda-lo comigo, como Peter Pan guardou o beijo de Wendy, afinal, esse beijo salvou-lhe a vida. Tive medo de agir, o mesmo medo que ela dividiu comigo, então escrevi.
Ah, minha deusa! A minha grande vergonha é ter sido resignado pelo medo, não sou altruísta, procure sempre sentimentos escusos em mim, pois são esses sentimentos que alimentam os desejos inefáveis, que inebriaram minha alma em busca da simbiose perfeita. Posso ser um louco incongruente, mas pecar contra as regras do sobreviver e das convivências, põem-me em cima da linha da razão.