Beleza, Prosa e Bebida - Parte 1

Parte 1 - Renascimento da Beleza.

Roubaram-me a ignorância. Então chorei certa vez aos pés do monstro chamado conhecimento implorando para que a devolvesse. Querer voltar a visão destorcida da razão para simplesmente ser seduzido pela beleza sem ter de dar peso ao belo, não é pedir muito, é?

És terrível monstro do conhecimento! Oh, temível devorador de ingenuidades! A cada dia que passa dá uma visão mais cruel à realidade. Hoje só resta andar sobre a linha da loucura como um equilibrista a pôr sua vida em risco para a alegria ingênua do público, a um passo de estar são.

Nas tavernas, andando pela vida em busca de algo para acalmar o espírito atormentado, entre uma e outra caneca de néctar, deparei-me com uma beleza que só pelo belo faria emudecer e elevaria a prosa a um estado de completa paralisia. Beleza de cabelos cumpridos escorridos que dançam ao toque do vento, moldura perfeita para uma face tão cheia de luz. Dentes grandes e claros, perfeitamente enfileirados em uma boca de lábios brilhantes, figurantes perfeitos para um tom de voz que vêm como seda aos ouvidos dizendo “amado”. Olhos de uma tonalidade esverdeada cintilam desejo na opulência de uma boa prosa fazendo o brilho das esmeraldas perderem o valor. Nariz em perfeita simetria com o rosto, belo, levando-a a uma nova classe, a de deusa.

Atena, deusa da sabedoria, descera do Olimpo para prosear com pobres mortais. Deusa de extrema beleza desfruta do ócio bebendo com os bárbaros. Deusa de corpo e curvas perfeitas discursa com ardor que quem se embriaga com o saber, levando a nós, seus ouvintes, à ascese.

Tamanho era o aperto na alma que fez-me chorar outra vez, só que desta vez não foi aos pés de um monstro implorando misericórdia, foi aos pés de uma beleza esculpida pelos deuses e inebriada de conhecimento, cujo simples significado do nome proveniente do latim quer dizer “renascida”, um presságio para nós, supersticiosos bárbaros insaciáveis por natureza, renascia ali a beleza, a única coisa capaz de acalmar o espírito atormentado de um bárbaro em busca de justificar os espólios da guerra.

Atena, para os gregos. Minerva, para os romanos. Para nós amantes do belo, da prosa e de uma boa bebida, Renascença. Só espero que não seja efêmera sua descida do Olimpo.

Ley Gomes
Enviado por Ley Gomes em 06/01/2009
Reeditado em 01/10/2012
Código do texto: T1370867
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