LOMBINHO à Caetano

LOMBINHO à Caetano

Estava na cozinha preparando um lombinho de porco para a ceia de Natal.

Uma bela peça cilíndrica redonda e uniforme, macio. Limpei-o com cuidado, abri-o ao meio como se fosse um grande sanduíche, o talho só de um dos lados, cuidando para não abrir o outro lado, e o temperei no capricho com sal, vinagre e pimenta do reino, fartamente dos dois lados e pus em vinha-d’álhos, revirando-o de quando em quando, para entranhar na carne aquele sal e vinagre e a pimenta, tanto dentro como por fora.

O rádio na sala tocava uma música com o Caetano... “você não me ensinou a ser feliz...” e cada violoncelo no intervalo do canto...

Vai ficar no vinha-d’alhos até amanhã. Enquanto ouço o Caetano, vou picando dentes de alho bem miudinho, muitos dentes e assim espalhando na superfície do lombinho, pelo lado interno e pelo lado externo. E picando também finas rodelas de cebola e fazendo do mesmo jeito. E durante este longo mergulho nos temperos esta carne tem que ser revirada com freqüência...

Caetano silencia e toca um violoncelo tão profundo... de me tirar do sério...

A música é “VOCÊ NÃO ME ENSINOU A TE ESQUECER” composição de Fernando Mendes/ José Wilson/ Lucas e vi a letra e ouvi Caetano de novo num vídeo em

http://letras.terra.com.br

Com a mão na cebola, alho e pimenta do reino, revirando aquela carne no vinagre vinho e sal, parecia o filme “Com Água Para Chocolate” em que a personagem faz a comida com emoção de amor, uma magia, se chora emocionada, as lágrimas fazem parte do tempero... E as minhas lágrimas rolaram muito tempo... E cantei e chorei, e terminei o preparo todo da carne. Vou recheá-la amanhã com cenoura, paio, cogumelos fatiados e azeitonas verdes fatiadas e passas sem caroço. Depois será costurada com barbante fechando a peça e moldando-a para ficar roliça por igual e botar para assar.

Lavei as mãos deste cheiro fortíssimo dos temperos. Passei creme nas mãos, unhas e dedos e vim desabafar com o Recanto...

Um lombinho deste quando pronto é para uma comemoração de amor... Vai ser para a ceia de Natal com meus filhos...

Mas eu sou uma pessoa que já vivi o que tinha de viver...

E me surpreendo chorando por um amor inexistente, mas a vontade de amar...

Não agüento mais este Natal, quero que passe, que acabe logo, meu Deus. Natal é muito triste.

“Não vejo mais você faz tanto tempo

Que vontade que sinto

De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços

É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo

Já cheguei a tal ponto

De me trocar diversas vezes por você

Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar

E só mais uma vez me aceitar

Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?

Você não me ensinou a te esquecer

Você só me ensinou a te querer

E te querendo eu vou tentando te encontrar

Vou me perdendo

Buscando em outros braços seus abraços

Perdido no vazio de outros passos

Do abismo em que você se retirou

E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?

Você não me ensinou a te esquecer

Você só me ensinou a te querer

E te querendo eu vou tentando me encontrar