Sobre o Livre-Arbítrio
Tenho uma vontade própria que não é propriamente livre. Como se dá o fato do ser humano desejar e não poder realizar? Eu acredito que fomos dotados de vontade, mas a meu ver, esta vontade reside em um lugar sinuoso, em uma linha tênue, que não pode sofrer uma pressão vigorosa, pois se a força for forte o bastante, fará com que eu realize uma ação que não pertence ao meu desejo original de ser feliz.
Alguns até atribuem esta força exterior a algum poder sobrenatural; mas isso, apenas com o intuito de justificar sua mudança de opinião, no que tange fazer sua própria vontade.
A razão no homem o distingue dos outros animais, todavia, por isso, não se deve dizer que o homem tem livre-escolha em todos os assuntos, isso seria negar o poder da coerção cultural hereditária. É mais veras o que nos revela o instinto natural do homem, sua tendência para praticar o erro. O direito de um sobrepuja o direito do outro, e nesse particular, podemos raciocinar à luz de um evento muito antigo, voltar à época em que era Deus quem dava orientação aos os homens. Lá no éden, o casal desobediente tinha ou não o direito de escolha quanto a comer do fruto atraente e saboroso? Sim! Respondemos categoricamente. E o caso dos seus filhos, Caim e Abel, não é mesmo apaixonante a postura resignada de um a despeito da tirania do outro?
Deus fez advertência para que Caim não seguisse naquele proceder invejoso e orgulho, pois o mesmo acabaria por cometer um ato vil, o primeiro crime da humanidade. Poderíamos dizer que este crime merecia castigo justo, uma condenação sumária. Todavia qual foi a punição que recebeu por tão hediondo crime? Nem mesmo acompanhamos um definhar psicológico da sua consciência culpada. O seu livre-arbítrio se mostrou muito superior ao direito à vida que possuía seu irmão, e a justificativa para cometer tal ação incomum entre os seres racionais do seu tempo.
Alguns questionam, com justa razão, por que Deus não o impediu de cometer uma ação desnatural, não fizera Deus o homem para matar seu semelhante. Então, mesmo respeitando o livre-arbítrio de sua maior criação, poderia se quisesse, impedir aquele que seria o modelo máximo de traição à espécie humana, o assassinato.
Schopenhauer se adiantou nesse tema, meu parecer não parece com o seu, não nego que o homem pode, quando quer, fazer uso desse expediente singular, exercer sua própria vontade, desde que ela o atraia e lhe conceda algum benefício
Agimos sempre com interesse para auferir vantagens, em qualquer campo da vida o homem é inteligente o suficiente para justificar suas ações independente do que pensa Deus e os outros homens a respeito.