Acaso Como Impulso Criativo
Esta idéia é de Nietzsche. Esta frase.
Seus desdobramentos, todavia, lecturas mil, podem ser nossas. A genialidade de alguns viventes, em eternidade, nos permite este tipo de experiência singular.
Tenho muito receio de saber(ilusoriamente) que sei, cair na armadilha desta certeza e me fechar ao acaso.
Nada mais me emocionar se me engessar no aprisionamento de uma linearidade fictícia, como se os cabelos rubros esvoaçantes numa tela não mais me remetesse à beleza ainda não cristalizada de um pensamento estético a realizar-se.
Tripartizar o tempo em passado, presente e futuro também é reduzir-se a um não movimento elíptico, a uma sucessão de eventos sem ventos, marolas; o indesejado que se aconchega, de repente, à nossa volta.
Gostaria que se abrisse à razão a origem mítica que nos forneceu densidade histórica e subjetiva desde tempos imemoriais.
Gostaria que se abrisse à estética de hoje uma multiplicidade de possibilidades em desvario, aliada a uma ética não egóica, esta estranha moral em monobloco que arrisca o retorno do sempre o mesmo. E salve Nietzsche, de novo!
Gostaria do acaso à espreita, sempre. O alcance do diferente e do estrangeiro, do amor a pequenas causas e seres, a pequenez harmoniosa com o Uno regente de uma razão sensível.
Hoje, gostaria da capacidade de sermos todos afetados por afectos, paixões, pela experiência cantada do Outro. Sonoridads e sabores que nos levam feito náufragos a um raro instante de desejo dionísiaco.
Queria cabelos esvoaçantes chacoalhados pelo necessário impulso que nos desaprisiona de nós.
Ardei por dentro
e deixai que a chama
perturbe
estranhe
remexa!