Acaso Como Impulso Criativo

Esta idéia é de Nietzsche. Esta frase.

Seus desdobramentos, todavia, lecturas mil, podem ser nossas. A genialidade de alguns viventes, em eternidade, nos permite este tipo de experiência singular.

Tenho muito receio de saber(ilusoriamente) que sei, cair na armadilha desta certeza e me fechar ao acaso.

Nada mais me emocionar se me engessar no aprisionamento de uma linearidade fictícia, como se os cabelos rubros esvoaçantes numa tela não mais me remetesse à beleza ainda não cristalizada de um pensamento estético a realizar-se.

Tripartizar o tempo em passado, presente e futuro também é reduzir-se a um não movimento elíptico, a uma sucessão de eventos sem ventos, marolas; o indesejado que se aconchega, de repente, à nossa volta.

Gostaria que se abrisse à razão a origem mítica que nos forneceu densidade histórica e subjetiva desde tempos imemoriais.

Gostaria que se abrisse à estética de hoje uma multiplicidade de possibilidades em desvario, aliada a uma ética não egóica, esta estranha moral em monobloco que arrisca o retorno do sempre o mesmo. E salve Nietzsche, de novo!

Gostaria do acaso à espreita, sempre. O alcance do diferente e do estrangeiro, do amor a pequenas causas e seres, a pequenez harmoniosa com o Uno regente de uma razão sensível.

Hoje, gostaria da capacidade de sermos todos afetados por afectos, paixões, pela experiência cantada do Outro. Sonoridads e sabores que nos levam feito náufragos a um raro instante de desejo dionísiaco.

Queria cabelos esvoaçantes chacoalhados pelo necessário impulso que nos desaprisiona de nós.

Ardei por dentro

e deixai que a chama

perturbe

estranhe

remexa!

Ana Paula Perissé
Enviado por Ana Paula Perissé em 19/12/2008
Código do texto: T1344093
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